sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ABRAÇO

É um sentimento que protege.
É uma vontade que nos impulsiona.
É a protecção contra os receios de perda.
É o calor que aquece o frio que nos petrifica.
É uma brisa que nos refresca do calor tórrido.
É uma lição que nos ensina o que é sentir.
É partilha na troca de forças e energias.
É a presença que embala na solidão.
É refúgio que ao fecharmos os olhos é só nosso.
É liberdade, porque enquanto se abraça o coração sorri.
É conforto que anula o desconforto sentido.
É ternura que circunda a alma.
É crença naquilo que nunca se perde.
É dar e receber, sem nada se dar, dando tudo.
É sentir que a vida se pode encontrar, no abraço trocado.

Dina Ventura 19 de Novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

IMERGENTE


by: Nuno Kabu

Nasceu. E quando nasce não pode morrer.
Aconteceu. E quando acontece não pode deixar de existir.
Onde quer que esteja, estará e não pode deixar de estar.
Trago comigo o que de mim é e me alimenta.
Está sempre comigo, mesmo que esteja ausente.
Incapaz de controlo, torna-se selvagem.
Segue solto, livre e sem sentimentos de culpa.
Obriga-se a refúgios para que não o atormentem.
Lança-se nos braços do sonho para poder viver.
Enfrenta os medos que não sabia existirem.
Segue sem rumo, sabendo o rumo certo.
Dorme na vigília, para não se perder no sonho.
Embala-se nos encontros, sem data marcada.
Movimenta-se parado, sabendo que está vivo e avança.
Imergente, tal como um raio, instalou-se para ficar.
Mártir de si honra-se de o ser.

Dina Ventura, 18 de Novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

LIBERDADE


Fotografia by: MLinus

Tudo tem forma, texto e contexto.
Se a liberdade tem nome, como consegue ser livre?
Se lutam por ela, se a perseguem e não lhe dão paz, como saboreia o nome.
Como tem o poder de fazer, deixar de fazer e de escolher?
Independência.
Pressupõe o estado oposto ao do cativeiro e da servidão.
Apoiada no cajado da franqueza, fraqueja, pela fraqueza das lutas.
Ajoelha na sinceridade, fala consigo mesma e o espírito pede asas.
Aí, o corpo abandona-se à vontade de nada ter que o aprisione.
Será a obtenção do poder de não ser tolhido, privado e castrado, no exercido das suas faculdade e direitos. Mas. Palavra dura que pode até nem ser palavra e sim (…).
Traidor da liberdade por um lado e anjo da consciência por outro.
Palavra dúbia que faz hesitar e tremer a liberdade. Apenas um mas.
Assim a Liberdade vê-se, não liberta entre leis.
Aí, mesmo que queira ser livre não pode, porque existem outras liberdades.
Se é definida como tendo poder de escolha e ausência de constrangimento, porque fica constrangida, quando escolhe ou não.
Se não é dominada pelo o medo, acaba por o acolher na sua propriedade.
Se exprime os seus pensamentos, sem acanhamento ou preconceitos, corre sérios riscos de ultrapassar as leis que a emparedam.
Pensa em si mesma, olha-se de frente e sente o que fazer:
Libertar a liberdade, da liberdade que não tem.
Dina Ventura - 11 de Novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

TORRE DO SILÊNCIO


by: DV

Com a tua presença, Amigo, percorro sozinha a margem do rio.
Sigo com o olhar a corrente que se despenha, levantando cachão.
Enche-me a cara com a sua transpiração e mistura-se com as lágrimas.
O silêncio abstém o falar, impondo a ausência de ruído.
Apenas se ergue no ar, o murmúrio das águas que caiem em catadupa.
Carrego o sossego, o segredo ou omissão de uma explicação.
Enlevada nesse estado de paz, sou no entanto conduzida à inacção.
É-se reduzido ao silêncio após todos os argumentos se esvaírem.
A réplica morreu.
Por alguma razão, é o nome dado à torre onde os indígenas expõem os corpos dos seus mortos, para que sejam devorados pelos abutres. Aí, nada os fará gritar, nem de dor, nem de mágoa, pois ao silêncio se reduziram. Mas quem os colocou lá, será cruel? Não. Adoram o seu Deus numa pedra ou numa árvore, prestam culto ao Sol, ao fogo e são hospitaleiros, bondosos e inofensivos. Apenas tribais.
Não deixando de ser torre de carnificina de corpo já morto, alimentando aves, é a libertação do que resta e não presta, mas alimenta outros seres. Aguardam atentos por mortes que lhes restabeleçam as forças. No entanto, aberta na cúpula, por onde entram os abutres também em silêncio se libertam as almas. Passam a vida a alimentar-se da morte de outras vidas, que já repousaram noutros silêncios na margem de um rio, apreciando a beleza da Vida.
Dina Ventura 10 de Novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

REJEIÇÃO

Acto de atirar fora, tirar de si, expelir, tal como o mar rejeita na praia o cadáver.
É um vómito, que provoca o retirar do que está a mais, que estorva e é estorvo.
É desprezar, dizendo que sim para dizer não ao que outro oferece entrega e dá.
Tal como na Natureza, é a amplitude do deslocamento produzido por uma falha.
Cria um fosso imenso de profundidade incalculável, a não ser que se mergulhe nesse provável abismo, para se ter a noção.
Contudo pode tornar-se numa defesa, tal como quando do aparecimento de anticorpos que destroem o enxerto, após o transplante de um órgão. O corpo rejeita, mesmo aquilo que o poderia fazer viver. Mas não suporta o que não conhece e não é seu, não lhe reconhece valor suficiente para a cura. Será egoísmo da matéria, da máquina ou apenas o não querer prolongar a vida. Ficam sempre as dúvidas na validade e aceitação da rejeição.
Por outro lado, são muitas vezes os vencidos que rejeitam. Tal como no campo de batalha limitam-se a depor as armas e a lançá-las ao rio, para que a correntes fundas as levem ou depositem.
Demonstra oposição a algo, por não concordância, ou então por o ter em nenhuma ou pouca conta. Engole mas o estômago rejeita.
Então mantém afastado, como o próprio rejeito, que sendo uma arma de arremesso, ao ser lançado cai conforme a intenção do acerto. Não havendo intenção, pode acertar onde nunca pensou, mas humilhou quando embateu e alguém morreu sem esperar. Porque achou que as estrelas vistas, eram as de luz própria e afinal houve engano de visão. Eram apenas meteoritos incandescentes devido à velocidade de arremesso e, quando embateram, enegreceram e queimaram. À volta da cratera, o fogo do impacto que logo se apagou, deixou terra queimada, cinzas, sombras e silêncio.
Dina Ventura 7 de Novembro de 2009.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DESPOJAR


Forografia - Universo - gentilmente cedida por: MLinus


Saio de mim quando me encontro contigo. Porque tem de ser.
O caminho não é visível, em corpo.
Na estrada da vida, ouvi o som dos teus passos na mente.
Voltei-me de repente e senti. Tudo mudou, tudo está diferente.
Não tem portas, nem medos, apenas campos abertos de beleza.
Neles me encontro e conto segredos. Contigo, senti em nós a Natureza.
Nada de opções. Nada interfere porque a liberdade não tem forma.
Dispo-me dos receios, transponho barreiras,
Encontro os meios de abrir fileiras.
Nascem emoções, nas fontes. Sentimentos sonhados são sentidos.
Nada resta, nada falta, nada se tem. Nadas.
Tudo chega, tudo sobra e tudo está ausente. Presente.
Não existe, porque o que existe não se sente.
Apenas se saboreia a vontade de ter, de saber, de sentir e ficar.
Resta a vontade louca de beber, de entregar o que já está fora de nós.
É o contra-senso do que é intenso, que o mundo grita e se incendeia.
Para que reflicta e se repita, sem nunca ter acontecido.
Nasce ao acaso, por obra e graça. Sem promessas ou ilusões,
Apenas transporta e transborda sensações.
Sustos sem medos, sonhos sem dormir.
Abrem-se portas e janelas sem se abrir.
Procura-se tudo no lugar certo, que não se sabe existir.
Salta-se entre nuvens, refugia-mo-nos em recantos fechados,
Abertos em espantos e fontes de prazer.
Refazem-se as forças no continuar, no sentir de sentidos refeitos.
Nos acasos perdidos, de mil essências, que se buscam e ofuscam o real.
Nada se parece, por ser igual. Perde o sentido no erguido ermo do Infinito.
Persigo a fonte, mato a sede e morro junto, por não beber.
É a loucura da loucura perfeita.
O transmutar da mente, na agonia escaldante.
É o encontro do Mundo, no mundo existente,
Que não existe, mas persiste em ser Único.

Dina Ventura 6 de Novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

IDIOTICE

A escrita hoje está embargada por uma inspiração algo estranha que se por um lado me empurra para o fazer, por outro anula-me o pensamento assucatado. Mas vence a vontade, por ser maior que o desalento. Resolvi então escrever, ou melhor transcrever algo que alguém partilhou comigo e que ao entregar-me o escrito disse:
“Olha faz com “isto” o que quiseres, podes deitar fora, ler ou não, ou até dizer que é teu, para mim não existe, pois não passou de uma conversa meio idiota que tive com outra idiota maior ainda, a pensar numa idiotice qualquer, tanto que também podia chamar-se:
de outro planeta”.
Depois de ler, fiquei emocionada e resolvi publicar. O nome que lhe atribuo é exactamente o que a autora lhe deu. Pelo menos ficam a saber que é uma “ela”. É sim. Uma pessoa que conheço muito bem, que acho com uma alma repleta de símbolos indecifráveis pela grande maioria dos seres humanos, devido ao que representam no seu mundo idílico, afável, acolhedor, mas ao mesmo tempo misterioso, que quando nos aproximamos temos a sensação que se evapora.

“IDIOTICE
Resolvi escrever não sei se a mim, se de mim, se para fora de mim. Como não tenho nada de realmente a dizer, não existirá real para o escutar. Então sentada na cadeira dos sonhos e ilusões, coloquei defronte outra cadeira e chamei-lhe ouvinte.
Olhei para o Ouvinte e percebi que não só me ouviria, como não fugiria, enquanto eu não quisesse que fugisse. Iria entender tudo desde que eu soubesse o que dizia. Mesmo que não soubesse e o dissesse, ele entenderia da mesma forma. Estava ali prontinho a escutar tudo o que eu quisesse, pudesse e soubesse dizer. E assim fiz e comecei:
Sei coisas que uns acreditam outros não. Sinto outras que ninguém mais sente e vivo outras que mais ninguém pode viver. Amo um amor de Amor feito, mas que é feito sem ser. A ver se te explico. Todos falam de amor, mas o amor não se fala, sente-se. Dizem que o amor é eterno e não é, porque ele não tem tempo. Dizem que pode ser físico e também não é, porque ele não tem corpo. Dizem tanta coisa dele, que nem se sabe se é ele ou ela. Não sei se tem lugar ou morada! Dizem que é no coração, mas não é. O coração apenas o acusa ou delata, ou ele o usa para isso. Então onde viverá o amor? Acho que Vive sem viver, ele é apenas. Sendo, não vive e sim Vive. Porque tem de ser ele como as pessoas o querem? Ele pode ser outra coisa. Sabes, tipo os seres de outro planeta?! Acho que é esse o nome que se lhe deve dar, Outro Planeta. É lá que por certo vive, convive e se ama! Sim porque o amor se o é ama-se. Cá, chamar-lhe-iam narcisismo. Mas não é nada disso. É porque quando o amor encontra o que ama, torna-se nele, num único e isso faz com que se ame a si mesmo. Transforma-se numa linda flor, única, isolada, tal como o Narciso e no entanto de cor bela, revigorante e chamativa, denunciando a toda a gente o seu perfume colorido.
Dina 4 de Novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

CENTELHAS DE VIDA

Saem em rajada. Disparadas pelas prisões invisíveis.
São balas que ferem o poderoso escudo da alma.
Ela aumenta-se, confronta-se e expande-se.
Espaço por entre os estilhaços de mil luzes e sonhos.
Sai e liberta-se.
Salta o muro e encontra-se. Sem barreiras Vê.
Pontos de luz que se olham, que se tocam, sem tocar, em fogo-fátuo.
De mil cores, explosões mil, que fazem desmaiar.
A Alma liberta almas, centelhas de vida
Que não sabiam existir.

Dina Ventura 2 de Novembro de 2009

SENSAÇÃO FLUTUANTE DO SER

Não descansando no regaço do descanso,
Reforço o que se chama de pacificante.
Age, agita e contorce-se em si mesmo.
Reserva-se, preserva-se e recua.
Retoma o balanço, sai de si e entra no espaço.
Vagueia, reduz-se, produz e reproduz-se.
Aumenta, querendo diminuir, o que é incontrolável.
Reforça-se nas forças da força que não tem.
Busca nelas a sensação de reconforto do ausente,
Que presente acompanha, desanca a mente e desnuda,
O que é sentido, nos sentidos de não sentir.
Assim vive a sensação de ter um dia a posse da razão,
Que rastreia a vida, a rasa para a forma de rara chave.
Plena e flutuante esvoaça por entre penhascos, bosques e rios.
Salva o que resta:
A liberdade de sentir, ouvir e possuir sem ter,
Por não precisar de obter o que já tem.
Apenas sensações flutuantes do Ser.

Dina 2 de Novembro de 2009