terça-feira, 5 de maio de 2009

AO SABOR DO VENTO

by: Dina V.

Esconderijos de refinado odor a Natureza.

Grutas de paredes bordadas a gotas cintilantes.

Ar tão puro e fresco que magoa quando respirado.

Transparência opaca num sabor a terra.

Horizontes distantes, mas claros e nítidos, que nos aproximam.

Imagem fantástica e irreal no que de real me rodeia.

Visão empolgante, do que é meu, sobre a Terra.

Eu confrontada com ela sem nos magoarmos.

Tudo o que de Natural existe se naturalizando em mim.

Viagem do pensamento.

Não terei obrigatoriamente de permanecer sempre dentro de mim.

Assim, coloco-me nos meus olhos e saio

Como um pássaro que se lança em voo aberto.

Há um limiar do qual me atiro sem medo,

Imaginação.

Sobrevoando assim oceanos e montanhas,

Liberto o meu físico da cola invisível que me agarra ao solo.

Liberdade, voo picado, em direcção à Luz.

Ressuscitar da Alma já incolor por falta de Sol.

Voo.

Sem asas, apenas pairando ao sabor do vento.

Nada me poderá deter porque, mesmo que pare, já voei.

Mas como posso pensar em parar com toda esta visão

Que me é permitido desfrutar.

Há que continuar... voar.

Subo. Não há plágio de gaivota

Há sim necessidade de conhecimento da Beleza,

Da urgência do encontro entre mim e o que sou.

É aí que encontro. É neste voo em que me lanço

Que poderei encontrar, libertando-me.

Voo até parada, mas ninguém me poderá alcançar.

Sei que na porta da gruta existe o limiar em que me apoio.

Olhando vejo-o lá em baixo e sinto-me segura

Aquele canto é meu, bem como os ares em que me esvoaço.

Sou eu que vou e não alguém que vai por mim.

Há a junção de mim comigo, plenamente.

Não há confusão no espírito, nem espírito confuso

Há sim, liberdade de Ser, dizendo.

Existe também cansaço de voo e consequentes paragens

Em nuvens suaves de abandono e reflexão.

Depósitos aéreos de energia sólida

Transformada em aragem, pela simples passagem.

Mutações constantes nos diferentes estados.

Apreensão sonora do evoluir no espaço.

Reparo em mim.

Sou eu. Que estou onde quero sem no entanto chegar,

Ao ponto que sei existir, para que eu exista.

É algo que se apresenta sem ocupar um espaço.

Propaga-se de um ponto. Nasce, sem jamais ter deixado de Existir.

Fonte inesgotável, precisando de alimento.

Paro, mantendo-me no espaço ao sabor do vento.

Leveza natural protegida da longínqua gravidade.

Olhando para baixo, sinto a responsabilidade do que tenho.

Tenho à minha frente uma dura batalha.

Vou lutar com todas as forças para manter o que tenho.

Dom Natural que possuindo-o me faz Viver.

Capacidade de Voar...

(in: nas asas do vento encontrei orixá?


LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA

by: dv


Estou cansada do cansaço que me embala.

Sinto-me estranhamente débil perante o que me rodeia.

Preciso recuperar as forças, reabastecer-me de Energia,

Qual máquina produtora que necessita de manutenção.

Onde está toda esta gente. Onde estão os peões. Alguéns.

Será que ninguém sabe onde estão as Oficinas?

Marcações. Falta de tempo. Pressas. Correrias loucas para nada.

Abasteço-me. Digo, falsifico-me. Será que nem eu me respeito?

Inversão. De marcha não, essa continua. De valores.

Silêncio de vozes agitadas, cortantes, agonizantes até.

Missa rezada, em graça a, para desgraça de.

Pouca-vergonha de Sorte na Vergonha da sorte que tem.

Fastio, tédio, nervos de aço nesta máquina desafinada.

Dureza mole, das fibras flexíveis aos pesos acumulados.

Jorrar de salpicos. Gotas gritantes na máquina parada.

Ferrugem. Imitação do Ser. Ranger de molas. Espera.

Doer violento.

Rompante de fúria que destrói o armário.

Casa singela de paredes forradas.

Papéis iguais em casas diversas.

Cobertas, taipais, montes de terra, lixos, miséria.

Revolta.

Luta. Dor sangrenta duma alma que sofre.

Luta interior dum ser que quer alcançar algo.

Falta de forças para forçar a saída.

Explosão interior que rebenta com a máquina.

Amargurada a Alma, senta-se e medita.

Vendo-se ao espelho, reflecte-se em si.

Quer ver para além mas precisa de espaço.

Que mal há em pedir o que de direito lhe pertence!

Apenas o ar que faz com que viva.

Ao ponto a que chegámos, que nem respirar se pode.

Contra natura. Improvável, quando logicamente pensado.

Mas é facto consumado. É difícil respirar aqui.

Deixem-me ao menos respirar. Porque eu sofro se não respirar.

É verdade.

Eu preciso de Ar.