quinta-feira, 26 de maio de 2011

INJUSTIÇA


A injustiça cansou-se.
Decidiu então saber porque o era.
Olhou-se no espelho e reflectiu-se.
Olhou-se, remirou-se, encarou-se
E amaldiçoou a sua gémea.
A outra cujo nome herdou,
Mas que ao aumentarem-no,
Tudo se transformou.
Só porque lhe colocaram um prefixo
Tudo nela mudou.
E afinal,
Qual das duas nasceu primeiro?
E com que direitos não a deixaram escolher?
Era injusto!
E chorou.
Que lhe vale esse “in” afinal,
Se apenas lhe trouxe peso, dor e condenação?
Deu-lhe estatuto, mas o oposto ao da irmã.
A quem todos apelam, idolatram, veneram
Mas não respeitam.
A ela desprezam-na, odeiam-na, maldizem-na
Mas é com ela que mais se identificam,
Que usam e abusam
Maltratam e acusam,
Desculpando-se com ela.
Isso é muito injusto...
Pensou a injustiça.
Que mundo este!
A justiça deixa o “in”
E coloca-o na irmã gémea,
Lava as mãos como Pilatos e diz:
Tu!
Tu és a culpada!
Foi um prefixo que tudo mudou…
E novamente a injustiça chorou.
Por ter sempre consigo o “in!”
Que não a deixa viver em paz.
Para a justiça se mascarar e se proteger
A injustiça teve de nascer!

Dina Ventura - in: Cresci com a Poesia

domingo, 8 de maio de 2011

O GRITO DO POVO


São uma multidão
Vão desistindo
Até ser um.
Não é rico,
Nem culto,
Passa a vulto.
Isolado
Tenta fazer-se ouvir
E grita
Para que não o ouçam.
Mas quem sabe
Se em uníssono
Elevaria a sua voz
De súplica
A regozijo
De vitória.

Dina Ventura - Maio 2011 - "Only me"