sábado, 29 de janeiro de 2011

12 MINUTOS


Senti o teu chamado
E sem pensar em nada mais
Saí.
Sabia o destino
A estrada a percorrer
Sabia que ia escrever
Só não sabia o quê.
No percurso senti o mundo
Na placa de bem-vindo
Na de protege a floresta
Enquanto corria na tua direcção.
Vi-te do lado esquerdo
Como um espelho reflector.
O vento trazia a tua voz
Enquanto nos meus olhos
Passavam imagens
De antigamente.
Mas eu estava no presente.
Vi-te
Quase se toquei
Estavas revolto, ansioso mas perfeito.
Não te estava a entender
E enquanto o tentava fazer
Esqueci o que tinha para dizer
Que tinha gravado
No caminho a percorrer.
Fechei os olhos e senti
O Sol na cara
O vento que me falava
A tua voz desfeita em espuma branca.
Recordei uma resposta escutada
Que escrever faz parte da minha vida
Mostrar a minha missão
Que não devia parar
Dizendo apenas que não.
Fecho os olhos novamente
Para tentar entender a mensagem
Mas encheram-se de lágrimas
Para trazer a coragem.
Não importa se entendem
O que está representado aqui
Mas foi o que consegui obter
Quando pensava em ti.
Vou publicar.

Dina Ventura – “Only me”

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

TEM DIAS...


Tem dias que a escrita
Não passa de vivacidade
Sinto dentro de mim o fluir
Das letras em actividade.
Não preocupa o tema
Nem se tem mensagem ou não
Porque se fosse um problema
Não saía do coração.
E com vigor de pedreiro
Construo a parede da casa
Onde o poema é obreiro
Mesmo sendo tábua rasa
É lindo vê-lo nascer
Do nada que existia
Começar a vê-lo crescer
Numa imensa melodia
Transporta-me a um jardim
Que a Primavera pintou
Com cheiro intenso a jasmim
Que todo o meu ser inundou
Tem dias em que é assim
Que voo para além do ser
E quando reparo em mim
Estou sentada a escrever!

Dina Ventura - "Only me"

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

INCAPACIDADE DE PERDER


Tento entender uma consequência
Onde por vezes as "razões ou causas"
Não existem.
Mas há uma muito subtil
Que ao ser humano é difícil entender
No mais profundo do seu ser,
Que por vezes o Amar ou o continuar a amar
Faz parte do perder...
Aí mantém o fogo-fátuo
Porque não foi,
Já não é
Talvez jamais venha a ser.
Assim é por não ser,
Não ter
Assim é o ser humano
Que não considera perder.
Há que repensar então,
O Querer!!!

Dina Ventura - "only me"

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

LUAR


Quando a Lua invadiu o meu jardim
Todo o meu ser despertou
Para os perigos
Escondidos
E as belezas mostradas.
Sentei-me junto ao lago
Toquei na Lua ao de leve
E ela estremeceu.
Quando lhe perguntei o que fazia ali
Boiando no lago
Respondeu que nem ela sabia
Pois tinha sido puxada por ele.
Olhou-me em reflexo e disse
Que nada parece o que é
Que as coisas são
O que ninguém imagina
Que a Verdade está submersa
E que dificilmente é visível
Apesar dos seres acharem o contrário
Não concordo! – gritei
Não? – Questionou com ar que achei enganador
Então porque estás a falar comigo?
Nada respondi…
Achei que estava certa
Pois a bela imagem que ali estava
Não era verdadeira,
Era porque eu queria.
Toquei em mim
Observei-me nas águas à luz do luar
E pensei que os mistérios
Os encantos
Se confundem com os enganos
Que a mente indisposta
Vê a indisposição
E no seu bem-estar
Vê o que lhe dá satisfação.
E assim sendo
Tudo o que parece
Acaba por não ser
Quando a noite
Amanhece.

Dina Ventura - in: Cresci com a Poesia

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

DESENHO NUMA FOLHA


Estou ausente
Nem triste
Nem contente
Apenas estou
Silenciosa e calma
Fazendo desenhos numa folha
Não de papel
Mas numa de verdade
Encontrei-a e ela sorriu
Olhei-a
Perguntei-lhe
E senti-a dizer
Faz algo de mim
Para que eu não morra apenas
E com os meus olhos
Bordei nela
Muito da sua vida
Que não conheci
Mas conclui
Que a sua origem era igual
Apesar de ser folha única
Só ela estava ali
Só ela sabia de mim
E estava na minha mão
Não foi pisada
Estava a ser pintada
Com a ternura do meu olhar.
Transformei-a numa história
Assim ficará na memória.
Não sei porque nos olhámos
Se por reparar em mim
Se por eu reparar nos pormenores
De que nem sempre nas árvores
Restarão as melhores.
Esta teve como missão
De me fazer escrever
Estas palavras
E não outras
Porque com ela na minha mão
Olhei-a com ternura e emoção.

Dina Ventura - “Only me”

domingo, 16 de janeiro de 2011

OS SONS DA LUA


Não penso no que escrever
Deixo que o pensamento se solte
Estou a tentar apenas dizer
O que surge, sem tema ou mote.

E mesmo rodeada de gente
Faço a experiencia do que fala
Que mesmo estando presente
Há um lado que não me abala

E deixo-me seguir nas imagens
Fico parada, mas em movimento
Reparo em tantas roupagens
Que não passam de fingimento

E nesse roupeiro ambulante
Vejo que a verdade é estar nua
E sinto o quanto é importante
Saber ouvir o cantar da lua.

E nesse caminho solitário
As vozes tornam-se ruídos
Porque se fosse o contrário
Os sons estavam perdidos

Dina Ventura – “Only me”

domingo, 2 de janeiro de 2011

RECOLHI A TRISTEZA


Hoje a tristeza bateu-me à porta.
Pediu para entrar
E por favor
Que a deixasse descansar
Que estava cansada.
Que sempre a tentam expulsar
E que quanto mais o fazem
Menos se consegue libertar.
Disse-me que sabia ser eu
Que melhor do que ninguém
A poderia entender.
Era filha da solidão
Que o pai era o desespero
O seu avô o medo
E que a mãe era a tristeza maior
Por ainda ser pior.
Entregou-se nos meus braços
E começou a chorar
Disse olhando nos meus olhos
Que só queria pensar e ser
Longe de quem a expulsava
Lhe negava a existência
Fazendo com que fosse eterna
Mas não a deixando viver.
Queria que eu a escondesse
Num local bem tranquilo
Que a visse adormecer
Lhe dissesse palavras de amor
Para que quebrasse o terror
E a deixasse morrer.
Deitei-a no meu colo
Abracei-a com vigor
Cantando-lhe um solo
Falei-lhe da Natureza
Senti que era o que queria
E vi nos olhos da tristeza
Uma bela-luz de alegria.
Olhou-me com ternura
Sorriu-me por ser dia
Sentiu-se na brancura
De quem não a temia.

Dina Ventura – “Only me" - Janeiro 2011