segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PAIXÃO

É tecnicamente falando, uma emoção fixa, um hábito, que corresponde na ordem de sensibilidade, à ideia fixa na ordem da inteligência.
É, para filósofos de séculos passados, todas as doenças da alma, ou seja, os sentimentos.
É, nos dias de hoje, a inclinação levada a um certo grau de veemência.
Nasce de forma brusca ou progressiva e onde nos leva e a que velocidade?
Para os de certa inflexibilidade moral será sinónimo de alegria, tristeza, esperança e temor.
Para quem é defensor do “penso, logo existo” representa a admiração, amor, ódio, desejo, alegria ou tristeza.
Para outros, serão as tentações particularmente fortes dos desejos. Saber, sentir, dominar.
Mas alguma destas definições a descreve em pleno?
Existirão palavras que a consigam alcançar?
Ou será tão simples e inexplicável que não se consegue exteriorizar?
É entrega ao que se acredita.
É sonho revelado numa verdade escondida.
É resvalar suavemente pelo abismo perfumado.
É perder as forças, ressuscitando da morte.
É chorar as tristezas em sorrisos abertos.
É sorrir às tristezas que a alegria deixou.
É a dor de sentir.

Dina Ventura – 16 de Janeiro de 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LIBERTAÇÃO

Escrevendo tantas vezes, outras tantas cheguei à conclusão que era uma escrita sofrida e magoada. Era como se o deslizar da caneta fosse um rasgar da minha própria pele, com o intuito de amenizar um pouco o meu sofrimento interior. Quanto mais sofria, tanto mais me apetecia escrever. Como se fosse a única abertura por onde entrava um pouco de ar que mantinha a minha vida, já por um fio. O ar faltava, a cor vinha apenas como metáfora e sonhando abria-se uma clareira nessa escuridão interna. Tinha vergonha de mim, de não conseguir ser eu própria, porque como ouvia dizer, os poetas, os artistas é que escreviam ou demonstravam a sua arte através dos sentimentos mais profundos e de tristeza. Encarando-me de frente eu era uma fraude, uma mentira que fingia sentir o que sentia apenas para parecer o que não era. Mas afinal o que era eu? Porquê tanta revolta contra o que não sabia ou conhecia? Porquê tantas perguntas sem resposta? Cheguei à triste conclusão que eu era uma preguiçosa, sem vontade de executar e limitava-me a martirizar o pensamento, para justificar o nada fazer. Tomei a liberdade de me dizer o que tão prontamente conseguia explicar aos outros. Então se é tão fácil darmos conselhos, ajudarmos quem precisa, se conseguimos ser tão bondosos com os outros, correndo prontamente em seu auxilio e se muitas vezes nos auto elogiamos dizendo que o fazemos sem pedir nada em troca, então afinal que ser somos nós que nos maltratamos tanto ao longo da vida. Porquê? Que tal começarmos por olhar um dos mandamentos “ama o teu próximo como a ti mesmo” com verdade e revolucionarmos a nossa vida? Um a um revolucionaremos o Mundo! Comecemos por gostar de nós mesmos de forma despojada e serena.
Após reflexão deixei de sentir necessidade da angústia e da dor, que faziam com que a caneta ganhasse vida e entrasse em movimento. A medo, iniciando a escrita, receei o conteúdo do meu sentir.
Que o tom poético, com o deixar de ser sofrido, tivesse menos beleza. Que a expressão saísse menos densa, menos cheia ou talvez menos rebuscada de natural. Nada disso me está a acontecer, muito pelo contrário. Sinto a caneta bem livre, o olhar do meu pensamento com olhos mais claros e tão mais penetrantes na minha alma, agora não tanto em fuga de si mesma.
O cansaço dissipou-se. As procuras em constantes viagens circulatórias, iniciam uma marcha mais calma e plena de conhecimento do que desejam procurar. Escolha de caminhos que apesar de árduos são menos tortuosos.
A brisa, que me enche os pulmões, ajuda-me como que empurrando o meu corpo, que se torna mais leve à medida que avança.
Recuos, poucos..às vezes muitos, nunca deixam de existir. Encaro-os, não como retrocessos mas sim, como paragens para descansar em terrenos já conhecidos e que me deixam usufruir dum descanso tranquilo e sem temores.
Dina Ventura (in: nas asas do vento encontrei orixá)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

PASSAGEM DE ANO

Era este o título do poema que tinha acabado de escrever mas como que por magia desapareceu. Era 00:30 do dia 1 de Janeiro, ou seja há meia hora atrás. Como se costuma dizer é porque possivelmente não tinha de ser lido e muito menos publicado. Pois seja. Mas não sendo o que escrevi não vou deixar de dizer por outras palavras o que já tinha escrito. Nem que leve a primeira noite deste ano a tentar repor ideias já expostas, mas perdidas precisamente por ter escrito em directo no computador. Era assim que começava, isso ainda recordo:
Sem papel, sem caneta, sentada em frente a uma máquina faço o que não gosto, escrever para ela.
Escrevo directo os pensamentos que me assaltam e sofro os meus e os dos outros.
Penso nos que estão felizes nesta hora e ainda bem, portanto não vale a pena pensar.
Nos que tentam estar felizes e nem se apercebem que não estão e não sei se valerá a pena.
Assim penso sobretudo nos que estão sós e sós na multidão. Que sofrem a dor de não querer que a hora aconteça. Porque é naquela hora certa, na contagem decrescente que a dor aumenta. Nada do que tinha escrito anteriormente saiu pelas mesmas palavras, talvez estas estejam mais amenas, pois tal como os meus pensamentos se amenizaram com o tempo, assim a dor de quem sofre engana o sofredor com a miragem longínqua de que um dia será diferente.
Mas quem sente, sempre sentirá de forma sentida e mesmo que os sentidos de alguma forma mudem nunca deixarão de sentir. Podendo não ser o mesmo, não deixará de aparecer algo que provocará o mesmo sofrimento.
Escrevo directa a uma máquina mas hoje é assim. Não me apetece escrever poemas, pois a vida nem sempre é poesia ou prosa poética ou prosa sequer. Estou repetitiva, estou sem papel, sem caneta, sem tinta e nas tintas para o que devia ter em atenção para escrever correctamente. Não quero saber. Não me vesti de gala, não falo para que gostem, falo porque sinto que há algo de muito errado e que ninguém quer escutar.!
(Se existirem erros, paciência...na vida existem muitos!)
Dina Ventura - 1 de Janeiro de 2010