sábado, 23 de maio de 2009

AS ESTAÇÕES DO ANO

by: dv

Acordo e sinto um cheiro a vida. Existe um misto de quente e frio,

Um cheiro à frescura da terra e ao calor das flores.

É como se dentro de mim nasça uma vontade louca de me despir,

Me apeteça beber todo o odor que me banha.

É como se não conseguisse saciar toda a sede de calor

E sinto-me leve, sinto-me florida e fresca.

Mas nunca me vou cansar dessa frescura,

Porque quando ainda a desejo, vejo-a ir-se apagando ofuscada por um bafo quente.

Não sabe bem. Sinto-me abafar sem possibilidades naturais de quebrar esse calor.

É preciso muita força para não deixar de respirar.

E bebo, bebo com a sofreguidão de quem vai deixar de ter.

É um maldizer da vida. Sinto-me sem forças para me abanar.

Olhar parado, inquieto, procurando em vão qualquer movimento.

Alguém me tocou. Sinto-me despertar.

Mas não é possível... é tão pequenina. Mas foi ela.

Foi essa folha que se desprendeu para me salvar.

Pairou sobre mim, agitando de mansinho o ar inerte.

E veio outra e muitas outras se seguiram.

É como se tivessem combinado a hora de me salvar de tal calmaria.

Deu-me uma certa melancolia e pensei:

Para meu bem se viram vocês despojadas dos vossos bens e adornos.

Mas depressa me passou, pois tudo ficou sereno, calmo, cheio de uma beleza fresca e amarela.

Amarelo...dourado...pensei que aquela luz cansada de tanto calor se ia derretendo,

Deixando cair sobre mim um pouco dos seus braços,

Que de tão longa caminhada se tornaram frescos e protectores.

Fui deixando que me envolvessem.

Senti-me enleada de tal forma ao ponto de perder as forças.

Mas sentia-me bem. Tão bem que tudo parecia irreal.

Mas fui despertada por um gesto brusco. Porque teria eu feito isso?

Percebi! Os braços dessa luz já não me aqueciam, estavam muito frios.

O brilho amarelo foi desaparecendo e tudo se tornou escuro e gélido. Senti-me perdida, angustiada.

Tinha-me esquecido de tudo por tão bem estar.

E eis-me despertada para a vida de uma maneira tão cinzenta e fria.

Mas ainda bem que existiu esse cinzento, porque assim mais brancura os meus olhos viram.

Como se uma luz sobrenatural tivesse sido acesa e tudo passou a um branco resplandecente.

O frio tornou-se agradável, penetrando todo o meu ser. Senti-me novamente enleada.

Era lindo, tudo é lindo e pensei:

Sou viva e quatro são os cheiros que me ligam à terra!

(in: nas asas do vento encontrei orixá) - dina ventura