Acordo e sinto um cheiro a vida. Existe um misto de quente e frio,
Um cheiro à frescura da terra e ao calor das flores.
É como se dentro de mim nasça uma vontade louca de me despir,
Me apeteça beber todo o odor que me banha.
É como se não conseguisse saciar toda a sede de calor
E sinto-me leve, sinto-me florida e fresca.
Mas nunca me vou cansar dessa frescura,
Porque quando ainda a desejo, vejo-a ir-se apagando ofuscada por um bafo quente.
Não sabe bem. Sinto-me abafar sem possibilidades naturais de quebrar esse calor.
É preciso muita força para não deixar de respirar.
E bebo, bebo com a sofreguidão de quem vai deixar de ter.
É um maldizer da vida. Sinto-me sem forças para me abanar.
Olhar parado, inquieto, procurando em vão qualquer movimento.
Alguém me tocou. Sinto-me despertar.
Mas não é possível... é tão pequenina. Mas foi ela.
Foi essa folha que se desprendeu para me salvar.
Pairou sobre mim, agitando de mansinho o ar inerte.
E veio outra e muitas outras se seguiram.
É como se tivessem combinado a hora de me salvar de tal calmaria.
Deu-me uma certa melancolia e pensei:
Para meu bem se viram vocês despojadas dos vossos bens e adornos.
Mas depressa me passou, pois tudo ficou sereno, calmo, cheio de uma beleza fresca e amarela.
Amarelo...dourado...pensei que aquela luz cansada de tanto calor se ia derretendo,
Deixando cair sobre mim um pouco dos seus braços,
Que de tão longa caminhada se tornaram frescos e protectores.
Fui deixando que me envolvessem.
Senti-me enleada de tal forma ao ponto de perder as forças.
Mas sentia-me bem. Tão bem que tudo parecia irreal.
Mas fui despertada por um gesto brusco. Porque teria eu feito isso?
Percebi! Os braços dessa luz já não me aqueciam, estavam muito frios.
O brilho amarelo foi desaparecendo e tudo se tornou escuro e gélido. Senti-me perdida, angustiada.
Tinha-me esquecido de tudo por tão bem estar.
E eis-me despertada para a vida de uma maneira tão cinzenta e fria.
Mas ainda bem que existiu esse cinzento, porque assim mais brancura os meus olhos viram.
Como se uma luz sobrenatural tivesse sido acesa e tudo passou a um branco resplandecente.
O frio tornou-se agradável, penetrando todo o meu ser. Senti-me novamente enleada.
Era lindo, tudo é lindo e pensei:
Sou viva e quatro são os cheiros que me ligam à terra!
(in: nas asas do vento encontrei orixá) - dina ventura