Talvez por ser incomparável o posso fazer, porque não?
O pensamento é livre. E de tanto o ser, não o consigo controlar.
Hoje acordou-me e gritou em surdina:
Vais voltar a escrever e sabes o quê? Vais contrariar Camões!
Como fazê-lo se ele é o expoente máximo do que não sou?
Como atrever-me a compreender o incompreensível para contrariá-lo?
Mas não tenho alternativa o pensamento exige, maltrata-me até o fazer.
Pois seja. Então contrariemos Camões!
Porque o amor é fogo que arde e se Vê!
É isso, é por aí que tens de começar! Pelo mais conhecido!
Pois será ainda maior o risco, maior o atrevimento!
Cala-te pensamento e deixa-me pensar, ou melhor não pensar
Para conseguir concretizar.
Amor é fogo que arde e se vê. Não é ferida, mas dói.
E é dor, mas que não perde o rumo, apenas para doer.
Ela sabe o que faz, pode entrar em desatino, mas não perde o tino.
É algo sem limites, portanto não se deixa de querer mais.
Seja o que for que se queira, será sempre mais nem que seja nada ter.
É geralmente solitário, quando acompanhado pela multidão,
Mas que sempre acompanha e está no coração.
Mandando embora a solidão.
É um apaziguar-se com o que tem e beber na felicidade real.
É um sentir que se perde, mas apenas se não se tiver o sentir.
É não sentir necessidade de prisão e libertar-se na imensidão.
É nunca precisar servir porque não há vencedores,
Nem vencidos…existem os iguais.
Do que se dão, ganham Vida, Crença e é o Amor a semente,
Que entra nos corações, no corpo, na alma e na mente
E desperta os mais distintos e nobres sentimentos
Sem fingimentos, pois se ele É, não será contraditório.
Pode ser incompreensível, inatendível, mas não contraditório.
Não tem prisões, nem amarras, nem esperas, nem alcances.
Ele é a liberdade do sentir, que por vezes ninguém entende.
Ou melhor, diz entender mas não é capaz de o Viver.
Dina Ventura 25 de Junho de 2009