segunda-feira, 15 de junho de 2009

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AMOR - PARTILHA E DÁDIVA

by: dv

O que se sente quando se gosta? Todos perguntam! É prazer? É paz? É medo?

É um misto de angústia e bem-estar. Um medo de estar perto por depois já não estar?

Nada consegue controlar o Gostar profundo e oculto, que não se sabe a origem.

Tudo deixa de ter valor e tudo passa a ser valorizado.

São contradições em catadupa que acabam por colidir, eliminando-se umas às outras,

Restando apenas, a certeza de que se gosta e que não vale a pena analisar.

O Gostar, é o sofrimento no seu mais sublime elemento. É o contra-senso do que é verosímil.

É o não se querer, por se saber que quando se tiver se perde o que tanto se quer preservar.

Nada se explica. Apenas acontece. É a alma que não se conforma com o que sente,

Não quer deixar de sentir, mas rejeita para que não acabe.

O gostar só se alivia quando sublimado, na dádiva da partilha, sem nada pedir em troca.

Mas não conseguindo deixar de lutar ferozmente, para não querer.

Só os poetas conseguem definir o verdadeiro gostar?

Por ser sofredor e alimentar a chama da poesia?

Do prazer enaltecido pela perda e pelo abstracto do concreto?

É por essa razão que talvez as contradições sejam os ditames do Gostar.

São convulsões internas, que constroem e destroem ao mesmo tempo,

Não se conseguindo edificar nem destruir. Será que há explicação para tais sentimentos?

Não, não há. Há pedaços de explicações, de momentos e de fragmentos

De pequenas coisas, que nos podem amenizar a dor de gostar.

É uma ferida sempre aberta, com vontade de se curar, mas sentindo prazer no sangue que derrama.

A entrega não é o bastante, nem suficiente, nem o caminho para o saciar.

É o saborear da dor que faz com que cresça e se torne palpável, audível e visível.

Tudo é bom e mau ao mesmo tempo, analisando-se mutuamente, trazendo a paz que a alma anseia.

Sente-se o aperto interior, que leva a ponderar porque dói. Não é por se sentir ou não sentir

E sim, porque é algo vivo, que tem vontade própria e que apesar de ser nosso não nos pertence!

É como guardar um tesouro pelo qual somos responsáveis, mas que não é nosso

E talvez por isso o medo imenso de o perder.

Ou que, descoberto o seu esconderijo, não tenhamos meios para o defender,

Contra os males do mundo e dos seus habitantes! É, uma ânsia constante de sobrevivência.

Empenho para encontrar caminhos, que nos conduzam a fugas seguras e que mais ninguém conheça.

É um bosque sem caminho demarcado, mas que nos dá a certeza, que bem lá no meio existe,

A gruta ideal para guardarmos esse tesouro, que não é nosso e a que ninguém pode ter acesso.

Mesmo sem caminho certo, embrenhamo-nos nele.

Quanto mais o fazemos, menos possibilidades temos de encontrar o regresso.

Que mais fazer? Avançar, ir em frente, sem perder a esperança, que algures estará o refúgio

Que pensamos existir mas ninguém conhece.

Existem palavras que todos queremos encontrar para poder definir e sentir, o que representam.

O Amar ou Gostar é uma delas. Apesar de sentir que magoa, o Amor é a Vida,

É o encontro com ela, entender-se e saber porque se está nela.

Assim se apaziguam todas as dores sentidas, pois todos os prazeres serão estragos,

Se não se aceita a vida e o que se faz com ela. Amo. Porque sinto dor. Isso é amar.

Contraditório? Não. Apenas uma forma de amar sem pedir nada em troca.

É uma dor, mensagem de Amor, de Paz e de Dádiva.

Não estou a inventar nada, que alguém ainda não tenha inventado.

Apenas estou a viver, de forma intensa, o que talvez muita gente não se atreva a fazer.

Que provoca? Talvez alhear-me um pouco do que me rodeia,

Centrar-me um pouco mais em mim e a fixação de atravessar o bosque,

Para poder repousar um pouco naquela gruta que sinto existir.

O choque de sentires anula-se e é nesse espaço neutro que me centro,

Respiro e preparo o dia de amanhã.

Amo a Arte e quando ela me corresponde sinto-me preenchida, apesar de saber,

Que possivelmente não lhe correspondo como ela merecia.

Na escrita, ela não quer que eu a repita, mas como farei isso?

Eu que não a sendo e sendo eu, como poderei dizer sem me repetir,

Se eu própria me repito e cometo os mesmos actos, erros e atitudes,

A um ritmo cadenciado de vivências e hábitos.

A escrita insurge-se contra ou a favor, mas nem sempre se deixa alcançar como o interior desejaria. Há algo sempre intransponível, de acessibilidade tortuosa,

Que as palavras não podem, nem conseguem definir.

Os recantos da mente têm uma capacidade deturpadora das sensações flutuantes.

O que é agora, acabou, ao ser escrito quase é obsoleto.

É a revolta das letras e a vontade de rasgar o papel.

Faz bem escrever, mas dá raiva e vontade de destruir o que se fez,

Por não se acreditar no que se disse.

São tudo contradições, num estado de vida com muitas razões de ser

E sem se conseguir enunciar nenhuma.

Há a felicidade da solidão e a tristeza de estar só.

Há, a luz de amar, sentir-se amado e não sentir o Amor.

Há sempre um retorno, mas nem sempre nos encontramos no local onde vai desaguar.

Ou por atrasos, ou por desvios de percurso e aí estão os desencontros com os retornos.

Mas é por essa razão que devemos abandonar a dádiva? Não.

Eu sinto que não, não sei é porquê. Será uma obsessão querer evoluir?

Será um convencimento egoísta de querer chegar a um patamar, que o ser humano não pode chegar? Então isso quer dizer que sou pouco evoluída.

Sim, porque se nem o que sou eu sei, afinal o que serei?

Mas acho, pressinto em mim algo que não tem explicação.

Serão um conjunto de “mins”. Como entendo Fernando Pessoa.

Mas como conviver com toda esta gente que nem conheço

E que sentem e pensam de forma tão diferente? Que fazer com todos esses males e bens?

Escrevê-los? Falá-los? Ensiná-los? Ou pura e simplesmente silenciá-los?

Mas não posso fazer isso, pois ficaria sem capacidade de comunicar.

Mas há uma vontade em mim, muito profunda, de descobrir

Um outro Eu, que sei que está lá e que ainda não se apresentou.

Porque não o conhecerei ainda? É uma incapacidade de ir mais além,

Que me restringe ao espaço que ocupa, que é mais longínquo

Do que consigo alcançar! Será a loucura? Ou os tormentos da dor,

Que anestesiam as capacidades do intelecto inconsciente?

Há a capacidade de voar, mas a construção das asas é um enigma.

Ultrapassar o pensamento, o sonho, a escrita, a pintura e o transcendente.

Não sei o que será. Não sinto vazio ou ausência, sinto sim,

O peso da presença e a quase explosão para se libertar.

Tenho de procurar ou encontrar, não do que sinto a falta,

Mas sim da intensidade da sua dimensão, que me consome

Na árdua tarefa da descoberta do que existe.

São coisas que não podem ser ditas ou escritas porque não existem definições,

Apenas são audíveis no interior.

Sinto-me por vezes estranha, num mundo estranho, que não me assusta, nem me mete medo,

Mas deixa-me sem reacção e faz-me sentir impotente para essa Busca.

Estou um pouco desinteressada pelas pessoas, pelo desumano que há nelas.

Acho que é isso. Falta de verdade, de pureza e nobreza, estou cansada!

Mas no entanto também não é. Sinto distância, não a nível emocional, mas a nível real,

Pelo menos é assim que estou a sentir hoje. Sei que amanhã deverá ser diferente.

Tudo estará diferente amanhã, apesar de parecer tudo igual.

Gostava de saber descrever este estado de espírito. Mas não tem descrição.

É algo leve, afastado, interiorizado aceite e próximo de mim.

Não vou responder à questão se sei porque estou a escrever desta forma,

Porque, claro que sei, se não como o estaria a fazer?

Agora posso responder é que, não gosto da forma como a caneta

Ás vezes pára, a aguardar que o pensamento a trespasse.

Isso irrita-me, assusta-me. O instrumento que eu sou

E que não está devidamente afinado para entoar,

Com transparência e clareza a melodia da Alma!

Por isso a dor nos sentimentos é a luta da alma tentando afinar este corpo,

Instrumento incapaz de entoar os cânticos,

Das vibrações emanadas pelo espírito.

Sinto-me imprestável para algo tão belo e com muita dificuldade

Em percepcionar os seus Sinais. O Universo envia-nos signos,

Todos dizem isso, mas estão sempre à espera que lhes traga resoluções.

Mas não é isso, o que ele pretende, é que nos descodifiquemos.

Que tal como Ele, o nosso, é uma imensidão de estrelas, planetas, sóis,

Buracos negros e explosões constantes.

Sempre em constante movimento e transformação.

Tenho de acompanhar esse movimento galáctico em mim.

Mas por vezes é tão rápido, que pareço não sair do mesmo lugar.

Tendo escrito sem quase a noção do que escrevi, levantei-me e parei.

Pensei nas partilhas. Porquê? Ao certo também não sei.

Talvez por ter movimentado o corpo, a mente parou.

Trouxe-me à realidade e fui puxada para a Terra.

Afinal o que procuramos todos nós com a partilha?

Que queremos afinal? É connosco, é com os outros?

Que os outros nos ajudem a tirar de dentro de nós, o que não está bem?

Ou que nos dêem pistas para chegarmos até lá, ou até eles?

Para não estarmos sós? Para podermos concretizar a ideia,

Que outros também andam em busca das mesmas coisas?

E sabemos quais?

Neste momento nada mais me apetece dizer, apenas ecoa na minha mente a música que estou a ouvir “the magical sound of the címbalo” e que é realmente um dom e um diálogo universal das almas. Bem hajam então, a todos aqueles que podem, querem e sabem partilhar com outros o seu amor por algo…o seu Amor em forma de dádiva.

Dina Ventura – 2008.12.17

MOMENTOS DE MIM

by:dv

Como são? Não têm explicação.

Hoje ao despertar não era eu.

Não me vi, não senti nada, por isso busquei em mim.

Sabia que era eu, que estava ali, mas quase não me reconheci.

Vi uma imensidão branca e senti apenas emoção.

Olhei, vi e senti, um mar imenso de palavras, palavras não, letras

Que ao saltarem, transmitiam cada uma das cores que o branco contém.

É um mar turbulento sem turbulência e macio, puro algodão.

E no meio daquilo que fazer para me encontrar?

Andar sobre ele e deixar-me flutuar!

Deixo-me embalar pelo momento e sinto,

Cada letra de um alfabeto Maior, que não consigo descodificar…

Sinto-me a pairar, sem forma, peso ou lugar.

Não sou nada, nem ninguém. Mergulhada nele, não sou ele mas estou.

E deixo-me embalar.

Para buscar em mim, não me sinto nada, Sou.

Apenas me desperta a letra que me tocou.

B – disse – não queres acordar? Que fazes aqui? Porque vieste?

Não sei – respondi – acho que me esqueci e estou apenas em busca de mim.

Que vês, posso saber? – Disse o B sem se dar conta do que estava a fazer!

Não sei explicar! Só sei que pertenço a esta imensidão, mas não sou daqui.

Que posso ver-vos sem os olhos da razão e sentir-vos com o coração.

Que quando acordo não me encontro e só me encontro aqui.

Num mar branco de letras de todas as cores

Que não me deixam parar, enquanto não as escrever.

Saltitam nas ondas deste mar diferente, sem gente, sem princípio nem fim.

Disfarçam-se de muitas, para tirar de mim.

Misturam-se em mil cores que embatem na alma transformando-se numa só!

Não há papel, nem caneta, sem sentidos para as descrever…

Embalo nas letras, busco em mim e por momentos esqueço quem sou,

Para que estou e para aonde vou. Apenas me deixo ir nesta torrente

Que não o sendo, é e me transporta velocidade da luz,

Para um lugar de Luz, que por vezes não é meu nem de ninguém.

Percebo - disse o B - pensas que estás a sonhar, mas não, essa és tu!

Fiquei a pensar! Será que o B teria razão? Aquela que digo não ser é que sou?

Deixo-me levar novamente. Flutuo no mar das letras que não tem explicação.

É algo que me arrasta, me embala, me entende, deforma e dá forma.

Transforma o que sou, apenas em Ser, que nem entendo.

Algo me tocou novamente. É um C e disse: Convence-te tu És!

Não me apeteceu responder-lhe, olhei-o simplesmente e sorri.

Vi que cor tinha mas esqueci. Deixei que me embalasse,

Que me falasse e tirasse tudo de mim.

Entreguei-me ao C de caneta, de coração,

De capacidade, de concentração e de comunhão.

E novamente me deixar flutuar em busca de mim!

Encontrei-me dentro e fora, sem conseguir sair do lugar onde estou!

Ou seja apenas em momentos de mim!

Dina Ventura - 15 de Junho de 2009