A página em branco é um desafio.
Olha-a e sinto que me vê de forma profunda.
É ela que arranca de mim tudo o que não sei dizer.
Quando lhe transmito o que vê, acho-me louca.
Ela sorri com ar concordante, mas não dá resposta.
Aguarda, apenas com o aceno da linha em branco,
Para que eu avance. Pergunto para onde e porquê?
Para que serve o que sai? Ninguém lê.
E se lê, fará sentido o que nem sentido tem para mim?
Sinto que amuou, a página em branco.
Talvez receosa por não ser preenchida
Ou talvez por me conhecer como ninguém.
Eu e ela somos uma.
Mas existem os computadores! Ela não quer.
Diz simplesmente…isso é para depois.
Depois faz comigo que quiseres.
Mas agora sou eu e tu, cara a cara, com um elo de ligação;
A caneta. Cordão umbilical entre ti e mim, acresce um dedo.
Mais um…o do sexto sentido, que te permite falar comigo.
Assim, depois de cumprida a tarefa, podes passar-me a limpo.
Amarrotar, rasgar e destruir. Já fiz o meu papel.
Do branco de mim, tirar de ti a cor
Que jamais conseguirias sem mim!
Dina Ventura – Maio 2009