terça-feira, 10 de novembro de 2009

TORRE DO SILÊNCIO


by: DV

Com a tua presença, Amigo, percorro sozinha a margem do rio.
Sigo com o olhar a corrente que se despenha, levantando cachão.
Enche-me a cara com a sua transpiração e mistura-se com as lágrimas.
O silêncio abstém o falar, impondo a ausência de ruído.
Apenas se ergue no ar, o murmúrio das águas que caiem em catadupa.
Carrego o sossego, o segredo ou omissão de uma explicação.
Enlevada nesse estado de paz, sou no entanto conduzida à inacção.
É-se reduzido ao silêncio após todos os argumentos se esvaírem.
A réplica morreu.
Por alguma razão, é o nome dado à torre onde os indígenas expõem os corpos dos seus mortos, para que sejam devorados pelos abutres. Aí, nada os fará gritar, nem de dor, nem de mágoa, pois ao silêncio se reduziram. Mas quem os colocou lá, será cruel? Não. Adoram o seu Deus numa pedra ou numa árvore, prestam culto ao Sol, ao fogo e são hospitaleiros, bondosos e inofensivos. Apenas tribais.
Não deixando de ser torre de carnificina de corpo já morto, alimentando aves, é a libertação do que resta e não presta, mas alimenta outros seres. Aguardam atentos por mortes que lhes restabeleçam as forças. No entanto, aberta na cúpula, por onde entram os abutres também em silêncio se libertam as almas. Passam a vida a alimentar-se da morte de outras vidas, que já repousaram noutros silêncios na margem de um rio, apreciando a beleza da Vida.
Dina Ventura 10 de Novembro de 2009