segunda-feira, 12 de julho de 2010

AO SABOR DO VENTO


Esconderijos de refinado odor a Natureza.
Grutas de paredes bordadas a gotas cintilantes.
Ar tão puro e fresco que magoa quando respirado.
Transparência opaca num sabor a terra.
Horizontes distantes, mas claros e nítidos,
Que nos aproximam.
Imagem fantástica e irreal
No que de real me rodeia.
Visão empolgante, do que é meu,
Sobre a Terra.
Eu confrontada com ela sem nos magoarmos.
Tudo o que de Natural existe se naturalizando em mim.
Viagem do pensamento.
Não terei obrigatoriamente
De permanecer sempre dentro de mim.
Assim, coloco-me nos meus olhos e saio
Como um pássaro que se lança em voo aberto.
Há um limiar do qual me atiro sem medo,
Imaginação.
Sobrevoando assim oceanos e montanhas,
Liberto o meu físico da cola invisível
Que me agarra ao solo.
Liberdade, voo picado, em direcção à Luz.
Ressuscitar da Alma já incolor por falta de Sol.
Voo.
Sem asas,
Apenas pairando ao sabor do vento.
Nada me poderá deter porque,
Mesmo que pare, já voei.
Mas como posso pensar em parar
Com toda esta visão
Que me é permitido desfrutar.
Há que continuar...
Voar.
Subo.
Não há plágio de gaivota
Há sim necessidade de conhecimento
Da Beleza,
Da urgência do encontro entre mim
E o que sou.
É aí que encontro.
É neste voo em que me lanço
Que poderei encontrar,
Libertando-me.
Voo até parada,
Mas ninguém me poderá alcançar.
Sei que na porta da gruta existe
O limiar em que me apoio.
Olhando vejo-o lá em baixo
E sinto-me segura
Aquele canto é meu,
Bem como os ares em que me esvoaço.
Sou eu que vou
E não alguém que vai por mim.
Há a junção de mim comigo,
Plenamente.
Não há confusão no espírito,
Nem espírito confuso
Há sim, liberdade de Ser,
Dizendo.
Existe também cansaço de voo
E consequentes paragens
Em nuvens suaves de abandono e reflexão.
Depósitos aéreos de energia sólida
Transformada em aragem,
Pela simples passagem.
Mutações constantes nos diferentes estados.
Apreensão sonora do evoluir no espaço.
Reparo em mim.
Sou eu.
Que estou onde quero sem no entanto chegar,
Ao ponto que sei existir,
Para que eu exista.
É algo que se apresenta sem ocupar um espaço.
Propaga-se de um ponto.
Nasce, sem jamais ter deixado de Existir.
Fonte inesgotável, precisando de alimento.
Paro,
Mantendo-me no espaço ao sabor do vento.
Leveza natural
Protegida da longínqua gravidade.
Olhando para baixo,
Sinto a responsabilidade do que tenho.
Tenho à minha frente uma dura batalha.
Vou lutar com todas as forças
Para manter o que tenho.
Dom Natural
Que possuindo-o me faz Viver.
Capacidade de Voar...

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio