domingo, 28 de novembro de 2010

ESTOU SEM ESTAR


De mim
Não consigo falar
Porque em mim
Estou sem estar.
Lanço-me em voo picado
Como gaivota no mar
Percorro caminhos sem fim
Por terra, água e ar
E encontro dentro de mim
O lugar onde quero estar.
Não consigo guardar ou esconder
O que encontro na procura
Reparto mesmo para perder
E não considero loucura.
Acho que o que tenho não é meu
Faz parte do nada que tenho
Porque se tenho é porque nasceu
E não preciso nem retenho.
E é na vontade de dar
Que encontro a verdade
E se a isto se chamar criar
Só o faço em liberdade.

Dina Ventura – “only me” – 26 de Novembro 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

NOS CORREDORES DA VIDA


Com receio de ser injusta
Acabo por ser injustiçada
E o que mais me assusta
É julgar que sou culpada.
Pois acho que devo fazer
Com que consigam sentir
Que para se poder crescer
Não poderemos mentir
Se ao enganar os outros
Se pensa na melhor imagem
A máscara cai aos poucos
Sujando toda a passagem
Precisamos reconstruir
O que em nós não está bem
Mas temos de saber assumir
O que não compete a ninguém
Mas não consigo dar desprezo
A quem não me parece bem
Porque aquilo que mais prezo
É o que de bom a alma tem
Acredito
Que as pessoas acreditem
Mesmo no que não é verdade
Mas precisam acreditar
Que é a sua realidade
E neste vaivém de valores
Entre o que é e o que seria
Passam a vida em corredores
De uma vida vazia.

Dina Ventura – “Only me” - 22 de Novembro 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ARCO-ÍRIS DE PAPEL


Olhando para o nada
Decidi mais uma vez
Apesar de um pouco cansada
Perguntar o porquê
De pensar
De ler
De escrever
Se nada me apetece dizer.
Mas foi isso que me motivou
Se nada posso fazer
Questiono se esgotou
Ou simplesmente não quer.
No pensamento surge a imagem
Do céu que chora
Relativizo
Ganho juízo
E sorrio apenas
Porque é a chuva que me embala
Misturo-me nela
Abraço-a e ela fala.
Mas não me sai da mente
Que o céu
É a casa da gente
Que se aventura na vida
Mesmo sem estar perdida
Por esta ou aquela razão.
Não consigo escrever no branco
Vou buscar papel
Realizo um leque
De todas as cores
Transformo o dedo em pincel.
Perco-me em palavras tontas
Olho as folhas coloridas
Encanto-me nas gotas caídas
E não saem as palavras que quero.
Sei que as vou encontrar
Sejam belas ou horrores
E enquanto aguardo que cheguem
Olho o arco-íris
Que se acaba de formar
No papel de mil cores.

Dina Ventura – “Only me” – 24 de Novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ECOS DE MIM


Olhando as palavras que rolam
Se encontram e formam frases
Reparo que quando se colam
Se tornam bastante audazes.
Dizem tudo o que eu sinto
Sem pedirem autorização
Descobri porque não minto
E não faço correcção.
Não consigo pensar direito
A não ser que saia em rima
E mesmo não sendo perfeito
É a minha obra-prima.
Não sei o que se passa comigo
Para o pensamento cantar
Quando penso não consigo
Não vale a pena inventar.
Assim deixo ao sabor do vento
Tudo quanto posso pensar
Não me preocupo nem lamento
Se não conseguir agradar.
E neste corrupio sem nexo
As palavras tentam acalmar
E mesmo sendo desconexo
Só elas podem falar
Do que sinto
Do que sou
Do que vejo
Do que estou
Do que ouço
Do que saboreio
Do que me arrepia
Do que me enerva
Do que me trás alegria
Do que me irrita
Do que me desafia
Do que não sei
Do que quero aprender
Do que quero conhecer
Do que a vida representa
Da verdade que me alimenta
De mim.

Dina Ventura – “Only me” – 22 de Novembro 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

FICO FELIZ


Quando me encontro no que leio
Me responde ao que receio
Fico feliz.
Mesmo não sendo meu
O que podia ter escrito
Abençoo quem o escreveu
Fico feliz.
Alguém como eu
Que procura,
Se questiona
Responde e tenta entender
O porquê de ser isto
E não outra coisa qualquer.
O poder que em si tem
O conhecer.
O escrever guarda em si
Um pouco do divino
Que todos devemos ter
Respeitar e compreender.
Não há pagamento maior
Do que sentir o alimento
Com que a alma nos presenteia
Sentindo uma Luz bem dentro
Quando no papel semeia.
A colheita será maior
O quanto não importa
Se se pretende receber
O que apenas conforta.
Representa evolução
Forma de Crescer
E tranquilidade no coração.
Querer apenas.
Quantos entendem
Quantos compreendem
Não importa
Porque o que conta
É a finalidade
Do bem que faz
O que a sensibilidade
Carrega e trás
A quem sente e escreve
A quem pode ler e gostar
E mesmo sem interpretar
Sente que também lá está
E que se pode encontrar.
Sem ser poeta ou escritor
Consegue interpretar
A melodia certa com amor
Através do piano da alma
Que sem teclas ou notas
Faz com que nos encontremos
Mesmo em terras remotas.
E aí sim
Fico Feliz.
Acredito em pleno
Que mais vale ser aprendiz
Com alma de grande luz
Do que um mestre que se diz
Mas que à fama se reduz.
Dina Ventura – “only me” – 21 de Novembro de 2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ALMA


Vivo
No fantástico da poesia
Sem receios de maior
Porque não estou prevenida
Para o que há de pior
Vivo
Acreditando que tudo é bom
Ou que pode melhorar
Esqueço no tempo dum som
O que me pode magoar.
Vivo
Sem medo de acreditar
Que quem não tem, possa ter
Quem não conjuga o verbo amar
Venha um dia a entender.
Vivo
Procurando dentro de mim
Que um ser é mais do que é
E que para além do ruim
Existem outros com boa-fé
Vivo
Ciente que quero o bem
Para o Mundo em geral
Não invejo de ninguém
Porque tenho o essencial.
A Alma.
Dina Ventura - "Only me" - 18 de Novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

SOFRIMENTOS E CAUSAS


Causas
Razões
Emoções
O que faz com que exista
Não é efeito sem causa
Sendo causa primária
Não há para além dela
Outra coisa
As secundárias precedem-na
E
As causas finais
As que pelas quais
Se supõe
Que cada coisa foi feita no Universo.
Assim
Foi determinado um conhecimento
O que produziu uma razão
Uma deslocação
E lá
No lugar de encontro da causa
Se falou
Se concordou
Em que a força está na razão
E a razão na união
Que poderá salvar
Seres que não se defendem
Das garras do invisível.
Estudo atenta e questiono
Porque estou aqui?
Porque são assim?
Os olhos pousam
Numa imagem de ternura
Da mãe que amamenta a filha
Enquanto defende
O que nós chamaríamos cria
Que não deixa de ser um filho
De outro ser que será mãe
E que perante a injustiça do homem
Só suplica
Sem pedir a ninguém
Que a salvem
Porque ela não consegue.
Desesperada procura abrigo
Na casa onde todos suplicam
Pede ajuda do divino
E aí sofreu castigo
Foi espancada
Banida da casa santa
Porque não é gente
Nem fala
E agora chora
Por ter perdido os seus filhos
Por lhe serem infligidos castigos
Que ela não compreende.
E quem poder ajudar
De graça e sem pagamento
É porque sentiu o apelar
De quem tem sofrimento.

Dina Ventura – “Only me” – Novembro de 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FORÇAS CONTRÁRIAS


Existem
Ocasiões que se apelidam de nada.
São momentos de coisa nenhuma.
Foi assim que me senti
Como que fechada num recinto
Sem paisagens ou ideias
Que me fazem criar
E no papel manifestar.
Mas as palavras estão “desgrávidas”
Porque abortaram o conteúdo
Mas teimam em exibir-se
Mesmo não viventes
Repetem-se intermitentes
Forma última de chamar a razão.
Chamam porque não podem parar
Não dão descanso
Porque o interior não quer guardar.
O cansaço vence
A inércia faz
Com que o interior se movimente
Para tender ao equilíbrio.
Relanço olhares antigos
Já perdidos no presente
E ao futuro prometidos
Recomendam afastamento
Do bulício que incomoda
Da maldade subtil
Que tanto está na moda
Que de poemas faz ardil
Do amor a ratoeira
Sacode os panos coloridos
Que levantam a poeira
Que não deixam ver.
E eu caio na sonolência
Que empurra a inspiração
Ela repudia as contagens
Da realidade ferida
Em que apenas existe o espaço
Onde a alma se refugia,
Quando perdida
Ou então enjoada
Do aproveitamento infeliz
Da gente que se diz amada
Mas que à vista não condiz.

Dina Ventura - "Only me" - 12 de Novembro 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

POETA REFÉM


Se todos vivessem o amor
Que cantam na poesia
Não passavam por tanta dor
E tornavam a vida em magia
Sonhar e transpor para a vida
Com luz o que deseja alcançar
Reforça cada lição aprendida
Na conjugação do verbo Amar
Tal como na busca do ser
Se revela a verdade que tem
E nem tudo está no escrever
Quando a alma não contém.
E se a cor que pinta as letras
É feita de restos já gastos
Os versos não passam de tretas
Deixando o autor de rastos.
E quando se quer levantar
As dores são tantas e fortes
Que já não tem mais para dar
E encosta-se a suportes.
Embala-se no amor roubado
Que nem chega a ser seu
Porque o objecto amado
Nunca lhe pertenceu.
E assim a vida passa ao lado
De quem quer e nada tem
E tudo lhe é retirado
Ficando de si próprio refém.

Dina Ventura – “only me” – 11 de Novembro 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

QUERER SER, NÃO SENDO


Desnecessário será
Dizer
Que a conversa se dispersa.
Tal como os objectivos
Mesmo que em uníssono
São desvirtuados
Corrompidos
E encaminhados
Para veredas escuras
De almas ansiosas
Que na ânsia de chegarem
Querer os primeiros lugares
Se esquecem que o principal
É conseguir alcançar
Sem pressas, com verdade
E terem consciência
Que nunca se perde o lugar.
Se o merecem é seu
Acredito que está guardado
Mesmo quando ocupado.
E assim vira a conversa
Para o que de repente interessa
Entre o gosto de saber
E o divertir por prazer
Por mal querença
Ou por se sentirem pequenos
Não dando conta que a presença
Apenas será notada
Quando a alma for elevada.

Dina Ventura – “Only me” -10 de Novembro 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

INVEJA


Corrompe
Maltrata
Distorce
Mas atraiçoa-se.
É deformada.
Vem disfarçada.
Ora maltrapilha
Ora bem arranjada
Assim é a inveja
Que invade o coração.
Reveste-se de muito brilho
Mas transmite nas veias
O veneno com ar de perdão.
É a morte anunciada
De quem bebeu da poção
Que parecendo mágica
Transforma o falso em verdade
Mas carrega a morte trágica
Porque é triste a realidade.
Não faz parte do que é Arte
Da grande arte que é Viver
E transforma a cura em dor
Sendo maior o sofrimento
De quem pensa ser amor.
Não vendo que o brilho cega
E a alma fica perdida
Iludida, apenas carrega
Uma dor desmedida
Perdendo o belo o valor.

Dina Ventura “Only me” – 9 de Novembro 2010

CRESCI COM A POESIA

FOI UM SUCESSO.
AGRADEÇO DE ALMA AOS MUITOS AMIGOS PRESENTES E AOS QUE NÃO ESTIVERAM MAS ME ACOMPANHARAM. BEM - HAJAM.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DIA 6 DE NOVEMBRO - CONTO CONTIGO



ÀS 17:00h NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE CASCAIS - S. DOMINGOS DE RANA
COM SURPRESAS!!!!!

EVENTO QUE SERÁ UMA FESTA!!!!

NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE CASCAIS - S. DOMINGOS DE RANA

O LIVRO "CRESCI COM A POESIA" - EDITORA CALEIDOSCÓPIO


Capa elaborada por Ana Sarmento

CONTRA CAPA - Pintura do pintor Bernardino Costa (B.C.)

CRESCI COM A POESIA

Parte da poesia que deu título ao livro

(...)
Cresci
A olhar as árvores que cresciam
Perguntando-lhes se eu seria assim
Ao que alegres me respondiam
Que sim e que temos o mesmo fim.
Cresci
Sem entender o que queriam dizer
Mas não perguntava a ninguém
O que me contavam era segredo
E as respostas eram só para mim
Cresci
Para mais tarde recordar e aprender
O que tudo de bom me ensinaram
Que sem elas não saberia descrever
Como se anda quando nos param
Elas disseram-me que as raízes
As mantinham apenas de pé
Mas que para serem felizes
Respiravam pelas folhas com fé
Que nunca deixasse de acreditar
E que elevando a alma bem alto
Eu sempre conseguiria chegar
Ao céu…apenas num salto.
E eis-me agora a agradecer
Às árvores de quem fui querida
Que para que eu pudesse crescer
Muitas delas ficaram sem vida.
Guardo essas sábias respostas
Bem dentro do meu coração
Pois fizeram-me sentir que as portas
Não se abrem apenas com a Razão.
Bem hajam árvores da minha vida
Que na alma me semearam esperança
Fizeram com que depois de crescida
Mantivesse em mim a criança.
Dos vossos frutos tirei o prazer
Que me mostram hoje a alegria
De como vos consigo agradecer
Com uma simples poesia.
Dina Ventura - 2010

LANÇAMENTO DO MEU LIVRO

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

EXPOSIÇÃO - "SIMBIOSES"

Grupo: CORES, TRAÇOS E PALAVRAS, formado com o objectivo de divulgar ARTEs - Vai apresentar-se pela primeira vez, com ARTE MISTA - da PINTURA à FOTOGRAFIA passando pelo trabalho em VIDRO, ARRAIOLOS, artesanato DIVERSO. LIVROS.
Inauguração dia 3 de Outubro, na galeria Bento Martins pelas 16 Horas - Junto ao Colégio Militar em Carnide.
APARECE E TRÁS UM AMIGO TAMBÉM...
(PARA VER EM PORMENOR CLICAR NO CONVITE ABAIXO)

EXPOSIÇÃO: SIMBIOSES

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

TRIPLICIDADES


Óleo do pintor Bernardino Costa - BC














TRIPLICIDADES
De flor passa a adaga
Destroços do que já era
Embates de velas e mastros
Acumulados no convés.
E dos traços, sulcados a cor
Nasce o engrossar do esboço
Por vezes reabre a dor
Por mais que seja o esforço.
E escondendo o traço feito
Repõe o que era passado
Carrega nas marcas da tinta
O que já era e foi renovado.
Assim de um passa a dois
De dois resta apenas um
Os dois fazem sentido
Um só não faz sentido algum.
E agora para completar
Compõe a tela primeira
Que representa a origem
Dando aso à terceira.

Dina Ventura 25 de Agosto 2010

FLOR DE LIS


Óleo do pintor Bernardino Costa (B.C.)

Entre pássaros, pétalas e penas
Canas, telhas e traços
Correm as estrelas em cantos
À espera de pequenos abraços.
E envoltos nos arremessos da vida
De amarelo e azul se compõem
No embate a que os tons obriga
Enquanto os destroços se expõem.
E assim no tom que juntos emanam
De verde quase se vestem
Mas sem se misturarem não ganham
As cores que no sonho investem.
E assim despidos da cor
Que na mistura daria
Brota o Lis em Flor
Ganhando vida e magia

Dina Ventura 25 Agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

EU E ELE


As diferenças
Estão
No manejo da inteligência
De forma pouco harmoniosa
Com as tradições.
Será o acto poético uma mentira?
Será a poesia apenas
Arredores do meu íntimo?
Tenho sempre de regressar a mim
Tenho de olhar
Todas as maneiras de ser
E sentir com o que me cruzei.
Chega a altura de me fechar
Bem dentro do meu espírito
E Escutar
A minha sensibilidade
Não me deixa
Envolver por dogmas
Não me deixa aceitar sem compreender.
Para que entenda a vida e os seus enigmas
Não
A solução não está na religião.
Está no Eu.
Há no Ser e Sentir.
A religião da palavra
Proferida com Energia
Emanada da alma.
O meu laboratório
A minha alquimia profética
É a escrita.
Nela, experiencio, me ouço e me entendo.
Me Toco
E encontro Algo para além de mim.
Gostava que sentissem o que escrevo
Mas sei que não é possível
Pois tudo o que escrevo
Na minha Alma fica
E na minha carne se impressa.
Seja a dor física ou da alma
As alegrias ou tristezas
Os sofrimentos recônditos
Que não consigo passar.
Sendo dor dos meus sentidos
Refugia-se no que sinto
Enquanto que quem lê
Sente, mas o que é dele
Porque não minto
No que sinto
E faz doer.
Portanto rebusco como se pode sentir
O que não é nosso, nem foi
E do que se pode gostar
Depois de imaginar.
Olhei Pessoa e questionei-me
Se serei como diz
“Que a sinceridade emocional, falha de verdadeira sinceridade”
Talvez, pois acho que a alma dita
E não tem vida na terra
Pois pertence a outro lugar.
A minha chave está
Na minha personalidade, desde criança.
Desde a inadaptação ao presente
A “saudade de qualquer coisa”
A quem chamo quem sabe futuro
Ou no fundo a saudade de um lugar
De onde vim.
Com a saudade psíquica
Relembro
Com a saudade metafísica,
Quero acreditar
Que existe.
É um Lar.
Ou serão as minhas raízes índias
Que me tentam alertar
Ligadas a um passado longínquo
Para ouvir o chamado e acreditar.
De tal modo abstracto e vago
Que há a transferência para o futuro
Talvez a viabilização de encontrar
A forma de saltar o muro.
Será que a alma de poeta tem pátria?
Ou tem simplesmente Universo?
É presunção?
Ou constatação?
A escrita serve sempre de elemento compensador
De tudo o que falta, não existe ou não se conhece.
Luto para ser ponderada
E a alma por vezes rejeita…
Quer ser livre
Quer lançar-se no vento
Por isso nas asas do vento encontrei.
O meu destino está em mim
E na escrita me alimento.
São tempestades mentais
Bonanças reconfortantes,
Terapias empolgantes
E descansos fluviais.
Força Universal
Que envolve todos os seres
Que faz de todos poetas
Mesmo não querendo ser.
Existe algo na minha mente
Que vai regando a minha escrita
Pode ser sentimento indefinido
Para quem não acredita.
É um paraíso perdido
Perdido no antes de nascer
Um acto de ser feito
Enquanto se percorre a vida
Ou quem sabe ao morrer.
No fundo será
Nesse local distante,
Mas presente
Mesmo ausente,
Onde a inspiração brota.
É no desamor que se preenche
Pois o amor de carne é.
O que me comanda é o espírito
Por isso sinto o espírito apenas.
Fiz sempre tudo sozinha
Nunca copiei de alguém
E agora ao ler o que leio
Não consigo entender
Se o fazem porque é bem
Ou se porque nasce do ser.
E depois de parar para pensar
Foi o que ganhei por querer
Pensei sentir inveja
Por o fazerem “bem feito”
Mas afinal não era isso.
Por defeito ou qualidade
Eu preciso ser diferente
Na minha forma de ser
Gosto de ser Eu,
Sendo gente.
Sou livre ao escrever
Mesmo em verso e não verso
Consigo dizer o que sou
Não quero
Parecer-me com ninguém
Porque é de mim que dou
Mesmo que me achem não poeta
Porque sinto a alma repleta
No que é meu e não emprestado.
Não gosto de influências
Gosto de seguir em liberdade
Só tenho pena de não saber escrever
Como uma grande sumidade.
Mas não nasci para isso
Nasci para mostrar quem sou
E mesmo apoiada no que era
Até parecendo feitiço
Nunca desesperei na espera.
E quando me apaixonei
Pela alma de Pessoa
Senti que o reneguei
Pela minha escrita não ser boa.
Mas depois da paixão assumida
Interiorizei na minha alma
Que o não ser conhecida
Me trazia muito mais calma!
E mesmo com dúvidas
Planto e semeio
Na alma
As flores.
Enfrento
Com algumas dores
De peito aberto
As palavras
Sem receio.

Dina Ventura 20 de Agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

AS FORÇAS DA NATUREZA - OS MITOS NA PINTURA


óleo - Iansã - O Fogo e a Paixão - Dina Ventura
É a divindade do fogo, dos raios e da guerra
É ela quem trás as tempestades e a ventania
Para varrer a maldade humana da terra
E domina os furacões e ciclones,
Está presente nos ventos fortes,
No deslocamento de objectos sem vida.
Senhora do barro vermelho e da sua lama.
Deusa da espada de fogo,
Dona das paixões.
Convivemos com esta Força da Natureza diariamente.
É o vento, a brisa que alivia o calor,
Mas também o calor, o tremer dos ramos,
Dos cabelos, a lava vulcânica,
O fogo, o incêndio, a devastação pelas chamas.
Sente-se no poder do raio,
Na electricidade,
Está presente no simples acto
De acendermos uma vela ou uma lâmpada,
É o choque eléctrico,
A energia que gera o funcionamento do rádio,
Televisão, computador,
É a energia viva, pulsante e vibrante.
Força da provocação e do ciúme,
Mas também da paixão violenta que corrói,
Criando sentimentos de loucura,
Desejo de possuir.
A sua cor é o laranja e a cor de fogo.
Ela é o desejo incontido,
Sentimento mais forte do que a razão.
A frase “estou apaixonado” tem a sua regência,
Energia que faz os nossos corações
Baterem com mais força
E cria na nossa mente
Os sentimentos mais profundos,
Ousados e desesperados.
É o ciúme doentio, a inveja suave,
O fascínio enlouquecido, em suma é a paixão.
É a disputa pelo ser amado,
O não medo das consequências
De um acto impensado
No campo amoroso.
Ela vai até à vontade de trair,
De amar livremente,
De deixar fluir.
Rege o amor forte e violento.
Conhecida por guerreira de fogo
Gosta de participar em tudo,
É vingativa com aqueles que não a respeitam,
Porém não mede esforços
Para agradar quem a reverencia.
Foi rainha
É protectora dos bombeiros
E de todas as mulheres guerreiras.
Iansã.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

AS FORÇAS DA NATUREZA - OS MITOS E A PINTURA


óleo - OS CAMINHOS - Dina Ventura


OS CAMINHOS
Força da Natureza que está presente Nos momentos de impacto e fortes,
Sendo aí que o seu encantamento se faz sentir,
Bem como numa colisão
No ar, mar ou terra,
No estrondo provocado por algo pesado que cai,
Na explosão, no derramamento do ferro fundido.
No dia a dia encontramos esta energia nos estaleiros,
Oficinas, ferreiros, quartéis,
No disparo de uma arma,
No acto de se afiar uma lâmina,
Serrar, martelar um prego,
No despertar de um relógio,
No grito de raiva,
Na dor aguda da faca ou da bala que penetra a carne,
É nestes actos que o seu encantamento se faz sentir.
É assim a Energia do impacto,
Da detonação, da vida mantida acesa num ser,
Da defesa e da guerra,
Gosta de lutar e é imbatível,
Mas pode também evitar uma luta.
É também a viagem, a estadia longe,
Os veículos, a jornada, a empreitada, a luta do dia a dia.
É os caminhos-de-ferro, o som do comboio nos carris.
Considerada uma força impiedosa e cruel,
Podendo até passar essa imagem,
Mas sabe ser dócil e amável.
Foi considerado chefe
Porque foi ele que abriu caminho
Para que todas as divindades chegassem ao mundo.
É a franqueza, decisão, convicção, certeza,
O facto consumado.
É a própria energia, incontrolável, devastador,
É a vida na sua plenitude.
Está também presente nas construções,
No cimento, na muralha, é o obstáculo difícil de vencer.
Ele é aço donde são forjados os instrumentos
Como a espada, a faca, a lança
E ainda o carvão mineral docemente em estado bruto.
O acto de cortar também lhe pertence.
Assim são os caminhos e o desbravar!!

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

AS FORÇAS DA NATUREZA - OS MITOS E A PINTURA


óleo - O INICIO - Dina Ventura

Primeiro nascido da existência e como tal,
O símbolo do elemento procriado.
É o princípio de tudo,
A força da criação, o nascimento,
O equilíbrio negativo do universo,
O que no entanto não significa coisa ruim, mas sim o antídoto.
É a célula mãe da geração da vida,
O que gera o infinito infinitas vezes.
Força natural viva que fomenta o crescimento,
É o primeiro passo em tudo,
O gerador do que existe, existiu e existirá.
Está presente mais que em tudo e todos,
Na concepção global da existência.
Ele mantém o equilíbrio das trocas,
Provoca o conflito para procurar a síntese,
Tudo o que se une, se multiplica, separa e se transforma
É princípio da transformação.
Estando assim associado ao nascimento e ao futuro.

Dina Ventura - im: nas asas do vento encontrei

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A CHEGADA - III - HÁ MAIS


Pormenor da tela do pintor Bernardino Costa (B.C.)

Só pode haver.
Algo ou algos dentro de mim,
Que fazendo parte de um Todo,
São Todos também.
Tenho de os ver assim.
O tempo que demora a desbravar
É directamente proporcional
Ao que sinto desbravar em mim.
Não sei se será egoísmo,
Mas não,
Penso que é necessidade de crescer.
Como uma fonte.
Se a comparação for vaidade
Ou pretensiosismo, assumo.
A Fonte apoiada na sua nascente
Deixa que água brote, com que finalidade?
Não acredito que seja apenas por...
Há uma interligação entre essa fonte
E tudo o que ela poderá abranger,
Sendo tanto maior
Quanto maior o alimento na nascente,
Tornando-se depois numa necessidade,
Utilidade cíclica.
No final de tantas voltas
Chego à conclusão
Que tudo era muito mais simples
Do que sempre imaginei
E que só somos de Verdade quando:
Chegamos a nós e aos outros;
Que não estamos sós;
Que temos a energia suficiente e necessária
Para chegarmos à Luz.
Parece realmente fácil,
Mas para isso é sempre necessário
Percorrer um caminho.
Quem tiver a Sabedoria para o encontrar
Sem sofrimento,
Tanto melhor, se é que é possível,
Porque questionarmo-nos profundamente,
Olharmo-nos no fundo da alma
Por vezes é difícil,
Mas sem o fazermos não conseguimos chegar.
Não basta socorrermo-nos
De quem julgamos ter poderes sobrenaturais
E pós mágicos,
Pedindo-lhes que façam por nós
O trabalho doloroso
Ou nos cedam a fórmula milagrosa
Que nos permita transformar a nossa vida
Apenas com um pedido ou pagamento,
Sem que tenhamos a consciência plena
De que os obreiros edificadores somos nós
E que nem os deuses o farão,
Apenas nos poderão ajudar a ter forças
Para levar a bom termo a tarefa,
Caso vejam que o sentimento que nos impele é nobre.
Eles podem ajudar,
Mas apenas dentro de nós encontramos a poção certa,
Difícil é chegar até ela pelo caminho certo.
Mesmo às apalpadelas,
O que conta é a Vontade de Encontrar,
Tomando consciência
Que nem sempre o caminho que escolhemos é o melhor.
Chegando a essa primeira verdade,
Retomamos e chegaremos.
É a aprendizagem.

Dina Ventura in: nas asas do vento encontrei

A CHEGADA - II - OPTO


Pormenor - Tela do pintor Bernardino Costa (B.C.)

A temperatura é amena,
Permitindo que uma aragem bem fresca me toque.
A sensação é agradável.
Olho em redor
E vejo-me acompanhada da beleza,
Da frescura daquele lugar
E do envolvimento com a Natureza.
Volto a olhar para o cartão que me tinha levado até ali.
Palavras amarradas a um papel com o intuito de ferir.
Tento reler
Mas apenas vejo um cartão em branco
E apenas me sai:
Neve ou luz.
Sem grandes focagens
Apenas tento seguir em frente,
Em qualquer direcção.
Opto.
Sem optar,
Apenas impulsos,
Sigo sem rasto
O que o meu poder de orientação me indica.
Algo lá ao longe se começa a desenhar.
Não uma miragem
Mas a possibilidade de ser algo.
Caminho apenas embalada
Pela vontade de chegar.
Reúno em mim a construção
Do que estará lá,
Questionando-me se o será mesmo.
Nada melhor do que a curiosidade
Para o confrontar.
E se não for?
Algo será.
Só me resta saber.
Tremo.
Não na emoção da procura
Mas sim na emoção do encontro.
É algo superior a mim,
Incontrolável,
É um vibrar interior,
Que suplanta todas as emoções,
Porque as contém.
À medida que os contornos se vão tornando
Cada vez mais nítidos,
Facilmente me apercebo do que é.
Após uma análise superficial,
Sinto que posso continuar.
Há mais.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

A CHEGADA - I - ENTRO


Tela (pormenor) do pintor Bernardino Costa

Prostrada perante mim,
Embalada pelo calor que se faz sentir,
Olho sem conseguir enxergar nitidamente ao longe,
Mas semicerrando os olhos
Os contornos tornam-se mais nítidos.
Vou aproximar-me mais,
Apesar de saber que o caminho poderá ser longo,
Inútil e quem sabe, sem fim.
Compenso o calor desagradável
Com pensamentos frescos,
Ando sem parar,
Deixando que o fresco interior
Me apazigúe a caminhada.
Todo o percurso é árido, ressequido,
Apenas quebrado por uma solitária verdura
Que teima em sobreviver,
Um pouco fora do sítio.
Olhando mais atentamente para o seu verde,
Recobro as forças para avançar
Em direcção ao que me parece estar ao longe,
No fim da caminhada.
Esperança muito real,
Pois será onde descansarei após tal percurso.
Chego.
Paro e vejo que aparentemente valeu a pena.
Não sei se o interior será melhor ou pior,
Só sei que a entrada é frondosa
E dum verde inimaginável.
Folhas balançam de mansinho
Como que para afastar o calor,
Protegendo aquela entrada, gruta talvez,
Refrescada por uma pequena cascata
Com ar de velha habitante,
Que mais parece querer preservá-la.
Tudo me é familiar.
Com facilidade contorno um pequeno lago natural,
Equilibrando-me sobre as pedras
Que parecem postas ali ao acaso
Mas propositadamente alinhadas.
Chego à entrada
Um pouco dissimulada por plantas altas,
Canas que se vergam em sinal de vénia respeitosa
À luz que deixam entar.
Entro.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

sexta-feira, 16 de julho de 2010

DESRESPEITOS - INCONSCIÊNCIAS

O que leva as pessoas a enganarem o "outro".
Será que é o outro?
Ou será a si mesmo?
Por desrespeito do Ser? Ou apenas por querer ter?
Insatisfação? Solidão? Ou apenas não Amor?
Nem próprio, nem por ninguém?
Será que nunca ninguém traiu?
E o que sentiu?
Colocou-se no lugar do Outro?
Conseguiu?
Ao fim de doze (?) vou de forma extensa
Quem sabe até cansativa para o tema
Tentar Entender, sem atacar ou defender
Apenas Olhar a Verdade do Ser.

Vou escrever porque estou a levar as coisas a sério.
Significa a partir do momento em que se pensam,
Não podendo deixar de ter em conta
As inúmeras vertentes que vou descrever,
Não eliminando a do não sério,
Pois ficará uma exposição mais completa.
Hipótese 1 – Não sério
.Falar por falar;
.Dizer que se sente, sem sentir;
.Ter muito tempo disponível e ter de se encontrar formas de o preencher;
.Aposta, não se podendo desistir para não denegrir a imagem;
.Fornecimento de dados para apenas preencher o curriculum vitae.
Concluo que nenhum de nós consegue ser tão pobre
Ao ponto de se limitar a tão pouco,
Portanto hipótese 1 excluída.
Hipótese 2 – Sério
Existem milhares de sérios
E alguns não o sendo,
Não deixam de o ser também.
.Não capacidade de encontrar equilíbrio;
.Posse de bens com ambição de alcançar sempre mais, tirando disso proveito próprio;
.Insatisfação perante o tudo que se tem, não o descurando, mas tentando compensações;
.Necessidade de correr em campos alheios para activar os músculos um pouco perros;
.Necessidade de dar vazão ao espírito aventureiro que cada um de nós possui;
.Necessidade de reviver os gritos da adolescência nos impulsos naturais;
.Gosto pelo proibido e necessidade de o sentir, também fisicamente;
.Procura incessante do novo, como reabastecimento do velho já cansado;
.Carências, um pouco apagadas, que sem autorização resolvem emergir;
.Procura de emoções novas e fortes, como lufada de ar fresco na existência;
.Atracções, simplesmente, que não encontram estabilidade;
.Gosto pelo jogo, não se gostando de perder;
.Regras quebradas pelo facto de o serem;
.Almas sonhadoras em busca de lugares secretos;
.Encontros apenas pela necessidade de se darem;
.Correria um pouco louca em busca do ar que nos falta;
.Desejo de não pensar pelo tanto que se pensa;
.Confusão, sabendo-se sempre o que é;
.Ansiedade, sem sequer se ser dono da ânsia de querer;
.Causas não explicáveis à priori para efeitos super rápidos;
.Acontecimentos ao longo do tempo acontecendo, acabando por ser apenas uma narração;
.Super valorização de algo que apenas existe simplesmente;
.Necessidade de dar, por vezes não acontecendo no lugar e tempo certos;
.Necessidade de receber, o que por vezes não se aceita de quem nos quer oferecer;
.Contradições naturais no que dentro de nós existe;
.Necessidade de nunca se perder o espírito de conquista;
.Necessidade e vontade de estar onde não se pode ou com quem não se deve;
.Apenas vontades;
.Necessidade de algo ou de alguém que faz com que os dias se tornem muito difíceis;
.Gostar apenas.
Todas estas hipóteses são sérias
A partir do momento em que existem,
Mas será assim tão simples?
É, porque se não o fosse
Tudo se processaria de forma diferente.
Portanto há que analisar cada uma destas hipóteses
Até se conseguir encontrar uma resposta.
Para quê encontrá-la?
Mais que não seja
Para conhecermos melhor a nós próprios
E sabermos porque somos,
O que somos,
Para que somos.
Tudo é sério.
Assim sendo,
Tudo terá de ser tomado em consideração
E após dissecação de todos os pontos
A que conclusão se chega?
Tudo poderá funcionar em perfeito equilíbrio?
Temos capacidade para tal?
Ou seremos como os sapatos?
É preferível termos vários pares
Pois a sua duração será muito mais longa.
Coitado do par único,
Como conseguirá combinar com tudo e tudo palmilhar?
Não!
Têm de existir vários pares,
Para quem tiver capacidade para tal!
Temos?
Então sejamos sapatos!
Estou furiosa porque não quero ser sapatos.
Mas não o seremos realmente?
É preciso respeitar os outros,
A vida dos outros,
A família dos outros,
O mundo dos outros
O mundo!
Porque não o fazendo,
É a nossa própria alma que não é respeitada!
A data deste escrito?
Não interessa a localização no tempo,
Pois não deixo de acreditar
Que sempre existirá quem pense!
Que vale a pena não magoar os outros
E para isso basta apenas:
Assumir-se na Verdade de Ser.

Dina Ventura

quinta-feira, 15 de julho de 2010

IMAGEM


Desdenhosamente ri-me para ela,
Crente ou talvez não,
Na capacidade visual da absorção.
Resposta imediata de retribuição
Conduzindo à fuga,
Para não ser absorvida.
É um reflexo apenas do que existe
E que procura justificação.
Relatos, apenas relatos de uma existência.
Repouso eterno nas imagens paradas,
Regresso ao passado apenas por captação.
Angústia.
Sentimentos frustrados
Por não conseguir ultrapassar.
Imagens paradas
Que nos apelam ao movimento.
Saídas para tempos diferentes,
Em que as épocas não têm lugar.
Restos do que se pretende,
Apenas uma ínfima parte.
Vazios.
Espaço uniformizado mostrando,
Na ampliação,
Mudez defeituosa.
Enganadora visão que apenas faz recordar.
Esboço irreal,
Que anseia a perfeição...
Fotografia...

Dina Ventura

quarta-feira, 14 de julho de 2010

REGATOS DA CONCENTRAÇÃO


Simples cantatas que se embrenham no ar térreo.
Imagem quadro duma solidão não só.
Esvoaçar sem esforço dentro de si próprio.
Transporte.
Passeio calmo na margem enevoada
Dum cinzento claro impregnado de luz,
Envolvendo cada passo, aveludando o caminho.
Não vontade de pensar na vontade de criar.
Deixar que o tempo viva sem no entanto o notar.
Beber do ar diferente sem ser preciso respirar.
Abandono.
Fluir de ideias loucas sem as querer prender,
Como regato rebelde, sem leito a percorrer.
Encanto das mil noites, enquanto nelas viver,
Inspirar total, sentindo o corpo renascer.
Instantâneos.
Anestesia natural percorrendo as veias,
Estado de embriaguez profundo
Com o cheiro a Natureza.
Osmose plenamente sentida,
Confundindo-me com a paisagem.
Entorpecimento total surgindo-me a dúvida se...
...serei realmente o que era
Ou será que me tornei no Natural...
Sem morrer, morrendo para o que de mim me afasta.
Com um suspiro chego à parte mais elevada,
O regato confunde-se com a terra húmida
E faz-me não esquecer.
Reparo com espanto que já não está cinzento claro.
Em pleno, o Sol brilha e o regato reaparece,
Pequeno fio transparente, que espreita antes de se lançar...
...ao encontro dum espaço leito que o leve a algures,
Não apenas para ir, mas sim por querer!

Dina Ventura

segunda-feira, 12 de julho de 2010

AO SABOR DO VENTO


Esconderijos de refinado odor a Natureza.
Grutas de paredes bordadas a gotas cintilantes.
Ar tão puro e fresco que magoa quando respirado.
Transparência opaca num sabor a terra.
Horizontes distantes, mas claros e nítidos,
Que nos aproximam.
Imagem fantástica e irreal
No que de real me rodeia.
Visão empolgante, do que é meu,
Sobre a Terra.
Eu confrontada com ela sem nos magoarmos.
Tudo o que de Natural existe se naturalizando em mim.
Viagem do pensamento.
Não terei obrigatoriamente
De permanecer sempre dentro de mim.
Assim, coloco-me nos meus olhos e saio
Como um pássaro que se lança em voo aberto.
Há um limiar do qual me atiro sem medo,
Imaginação.
Sobrevoando assim oceanos e montanhas,
Liberto o meu físico da cola invisível
Que me agarra ao solo.
Liberdade, voo picado, em direcção à Luz.
Ressuscitar da Alma já incolor por falta de Sol.
Voo.
Sem asas,
Apenas pairando ao sabor do vento.
Nada me poderá deter porque,
Mesmo que pare, já voei.
Mas como posso pensar em parar
Com toda esta visão
Que me é permitido desfrutar.
Há que continuar...
Voar.
Subo.
Não há plágio de gaivota
Há sim necessidade de conhecimento
Da Beleza,
Da urgência do encontro entre mim
E o que sou.
É aí que encontro.
É neste voo em que me lanço
Que poderei encontrar,
Libertando-me.
Voo até parada,
Mas ninguém me poderá alcançar.
Sei que na porta da gruta existe
O limiar em que me apoio.
Olhando vejo-o lá em baixo
E sinto-me segura
Aquele canto é meu,
Bem como os ares em que me esvoaço.
Sou eu que vou
E não alguém que vai por mim.
Há a junção de mim comigo,
Plenamente.
Não há confusão no espírito,
Nem espírito confuso
Há sim, liberdade de Ser,
Dizendo.
Existe também cansaço de voo
E consequentes paragens
Em nuvens suaves de abandono e reflexão.
Depósitos aéreos de energia sólida
Transformada em aragem,
Pela simples passagem.
Mutações constantes nos diferentes estados.
Apreensão sonora do evoluir no espaço.
Reparo em mim.
Sou eu.
Que estou onde quero sem no entanto chegar,
Ao ponto que sei existir,
Para que eu exista.
É algo que se apresenta sem ocupar um espaço.
Propaga-se de um ponto.
Nasce, sem jamais ter deixado de Existir.
Fonte inesgotável, precisando de alimento.
Paro,
Mantendo-me no espaço ao sabor do vento.
Leveza natural
Protegida da longínqua gravidade.
Olhando para baixo,
Sinto a responsabilidade do que tenho.
Tenho à minha frente uma dura batalha.
Vou lutar com todas as forças
Para manter o que tenho.
Dom Natural
Que possuindo-o me faz Viver.
Capacidade de Voar...

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

quarta-feira, 30 de junho de 2010

TOMADA DE CONSCIÊNCIA



Vou ficar aqui.
Vou esperar por ti.
Vou publicar,
O que não escrevi.
Vou mostrar ao falso,
Todo o seu poder.
Vou dizer ao mundo,
O que sei fazer.
Quero acompanhar
O não evoluir,
Deste mundo falso,
Onde vim cair.
Acabo por descrer
Naquilo que acreditei,
É a luta constante
Do não viver por viver.
E agora a passos largos
Estou a chegar ao fim,
Duma luta sem luta
Dum descrer de mim.
Sem sonhos nem ilusões
Vou ter que lutar
Penso que tenho a vida,
Vida que vou conquistar!

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Ed. Caleidoscópio

sexta-feira, 25 de junho de 2010

NÃO MORRENDO PARA A VIDA...MORRE-SE EM PAZ


Há sempre a esperança
De uma felicidade próxima.
É tão dolorosa a espera que por vezes
Transforma cada momento num inferno!
É preciso acreditar.
Mas é preferível não viver esperando,
Porque isso torna a vida
Angustiada e não completa.
É preciso ter algo para viver.
Não se pode fazê-lo
Sem pelo menos ter a vida
E isso, claro, tem-se
Porque se está vivo.
Consegue-se ignorar a morte
Pois se não o fizéssemos
Viveríamos obcecados
E sem capacidade de pensar.
Porque não usar as mesmas armas
Para com as dificuldades
Que se nos apresentam!
Seria até mais fácil.
Porquê menosprezar o nosso Eu
Se conseguimos ultrapassar
O que está fora do nosso alcance!
Porque não ultrapassar
O que nós próprios construímos.
Será que o nosso poder
É superior à morte?
Não, sei que não é.
Ela é inatingível e só se atinge
Quando se acabou por esquecer.
Só aí ela aparece porque é livre!

Dina ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

quinta-feira, 24 de junho de 2010

AMOR NO MUNDO


Depois de olhar para trás,
Enquanto espero o Sol,
Respondo a mim mesma
Indo noutra direcção.
É cedo ou tarde: luto, Ele me dará a mão.
Amar será tudo ou então nada se terá.
Mas deixem as coisas rolarem
Enquanto as faces aquecem.
Amando depressa,
Se faz tarde e cansa,
Mas Amar criando, faz Viver,
Ainda que a noite se aproxime.
Ri e Vive, sê franco e puro.
Procura-te!
Tu tens dentro do peito o que procuras,
Algo em troca, quem sabe o amor.
É por tudo o que acontece
Onde quer que se procure
Feliz do que anoitece,
Impotente mas com Luz.
Mas por outro lado há a dor
Dos que morrem,
Sem terem visto
O que de bom e a favor
Morre ao seu lado sem aviso.
Uns com tanto outros sem nada,
Dói por dentro, é uma facada
Onde nada acaba nem começa,
A água mantém-se estagnada.
Mas é o mundo.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

quarta-feira, 23 de junho de 2010

CHORO O MUNDO


Choram as pedras
Pelas coisas que não foram.
Choram os caminhos
Pelo tempo que não andam.
Choram as árvores
Pelo vento que não sentem.
Choram os rios
Pelos peixes que morreram.
Choram as aves
Pelo ar que lhes tiram.
Choram os inocentes
Pelas dores que não merecem
Choro eu,
Por não saber o Tudo que existe,
Por não conseguir saber
Porque choro,
Por não conseguir chorar.
Choro sem lágrimas visíveis.
Choro doloridamente o que perdi.
Choro o que se ausentou de mim.
Choro o que não consegui
Choro por não entender o Mundo
Choro por quem não sabe chorar
Choro por quem não sabe reclamar
Choro
Sem saber se choro o que devo.

Dina Ventura - in nas asas do vento encontrei

terça-feira, 22 de junho de 2010

DONO DE NADA


Se queres ferir,
Despreza o que te derem
E nem sequer te apercebas
Desse desprezo.
Age como se fosses
O dono do mundo,
Que não tens.
Fala como se ninguém ouvisse.
Olha como se não visses
Que te ouvem!
Faz isso e fere.
Fere sem dares por isso.
Se quiseres saber o que é ferir faz,
Sem saberes, com que te firam
E nessa altura vais-te aperceber.
Aí terás o mundo,
Mas não és o dono
Ouvirás, verás,
Sem seres ouvido
Nessa altura sentes
Que és ferido
E apercebes-te,
O quanto é doloroso ser ferido,
Para tão fácil ferir!

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

RODOPIAR DA ESSÊNCIA


É preciso parar.
Parar em pleno,
Dominado pelo cansaço,
Prostrar-se perante ele
E esperar que novas forças nasçam.
Enquanto esperas,
Deixa-te levar...
Deixa-te envolver por todas as brisas
Talvez alguma te traga algo de bom.
Não lutes quando já não tens forças,
Porque tudo te escapa por entre os dedos
Desfeito em pedaços, em tiras
E serão tantas,
Que jamais conseguirás juntá-las.
Por vezes é necessário deixar tudo
Para começar tudo de novo.
Será um interregno, maior ou menor
Mas que dará coragem
Para depois de deixar tudo
Começar tudo de novo!

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

domingo, 20 de junho de 2010

CONTRADIÇÃO


Sinto que não sinto,
O que devia sentir.
É um sentimento estranho de sentir.
Penso, perco-me, sinto-me vazia
Incapaz de qualquer sentimento de sentir!
Mas sinto que penso
Muitos pensamentos sentidos.
E para além disto, que sinto?
Vontade de sentir?
Não, não quero sentir o que sinto.
Quero apenas que saibam
Que sou, o quê não sei, mas sou.
Que sou, que penso, que sinto,
Sem saber que fazer
Para não sentir
O que sinto.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

segunda-feira, 14 de junho de 2010

IMAGEM...REFLEXO


Desdenhosamente ri-me para ela,
Crente ou talvez não, na capacidade visual da absorção.
Resposta imediata de retribuição
Conduzindo à fuga, para não ser absorvida.
É um reflexo apenas do que existe e que procura justificação.
Relatos, apenas relatos de uma existência.
Repouso eterno nas imagens paradas,
Regresso ao passado apenas por captação.
Angústia.
Sentimentos frustrados por não conseguir ultrapassar.
Imagens paradas que nos apelam ao movimento.
Saídas para tempos diferentes, em que as épocas não têm lugar.
Restos do que se pretende, apenas uma ínfima parte.
Vazios.
Espaço uniformizado mostrando, na ampliação, mudez defeituosa.
Enganadora visão que apenas faz recordar.
Esboço irreal, que anseia a perfeição...
Fotografia...

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

sábado, 12 de junho de 2010

AO SABOR DO VENTO


Esconderijos de refinado odor a Natureza.
Grutas de paredes bordadas a gotas cintilantes.
Ar tão puro e fresco que magoa quando respirado.
Transparência opaca num sabor a terra.
Horizontes distantes, mas claros e nítidos, que nos aproximam.
Imagem fantástica e irreal, no que de real me rodeia.
Visão empolgante, do que é meu, sobre a Terra.
Eu confrontada com ela sem nos magoarmos.
Tudo o que de Natural existe se naturalizando em mim.
Viagem do pensamento.
Não terei obrigatoriamente de permanecer sempre dentro de mim.
Assim, coloco-me nos meus olhos e saio
Como um pássaro que se lança em voo aberto.
Há um limiar do qual me atiro sem medo,
Imaginação.
Sobrevoando assim oceanos e montanhas,
Liberto o meu físico da cola invisível que me agarra ao solo.
Liberdade, voo picado, em direcção à Luz.
Ressuscitar da Alma já incolor por falta de Sol.
Voo.
Sem asas, apenas pairando ao sabor do vento.
Nada me poderá deter porque, mesmo que pare, já voei.
Mas como posso pensar em parar com toda esta visão
Que me é permitido desfrutar.
Há que continuar... voar.
Subo.
Não há plágio de gaivota
Há sim necessidade de conhecimento da Beleza,
Da urgência do encontro entre mim e o que sou.
É aí que encontro.
É neste voo em que me lanço
Que poderei encontrar, libertando-me.
Voo até parada, mas ninguém me poderá alcançar.
Sei que na porta da gruta existe o limiar em que me apoio.
Olhando vejo-o lá em baixo e sinto-me segura
Aquele canto é meu, bem como os ares em que me esvoaço.
Sou eu que vou e não alguém que vai por mim.
Há a junção de mim comigo, plenamente.
Não há confusão no espírito, nem espírito confuso
Há sim, liberdade de Ser, dizendo.
Existe também cansaço de voo e consequentes paragens
Em nuvens suaves de abandono e reflexão.
Depósitos aéreos de energia sólida
Transformada em aragem, pela simples passagem.
Mutações constantes nos diferentes estados.
Apreensão sonora do evoluir no espaço.
Reparo em mim.
Sou eu.
Que estou onde quero sem no entanto chegar
Ao ponto que sei existir, para que eu exista.
É algo que se apresenta sem ocupar um espaço.
Propaga-se de um ponto.
Nasce, sem jamais ter deixado de Existir.
Fonte inesgotável, precisando de alimento.
Paro, mantendo-me no espaço ao sabor do vento.
Leveza natural protegida da longínqua gravidade.
Olhando para baixo, sinto a responsabilidade do que tenho.
Tenho à minha frente uma dura batalha.
Vou lutar com todas as forças para manter o que tenho.
Dom Natural que possuindo-o me faz Viver.
Capacidade de Voar...

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

sexta-feira, 11 de junho de 2010

GOSTAR



Gosto.
De ter o gosto pelo gosto
De ter o gosto pelo riso
Gosto de gostar.
Gosto de ser simplesmente o que sou.
Gosto de procurar e de saber onde estou.
Gosto de encontrar.
Gosto de ter o que tenho
Que é o gosto pela procura do para Além.
Gosto de existir.
Gosto de pôr a questão se existo
Se serei como sou
Se saberei mesmo o que penso
E porque penso no que sou.
Gosto de pensar.
Gosto de me cansar a pensar.
Gosto do jogo da mente
Gosto de enrolar o pensamento
Gosto de gastar as palavras
Gosto de girar.
Gosto de repetir o que sinto
De sentir por dentro e por fora.
Gosto que uma ferida doa.
Gosto do prazer da cura.
Gosto de dar liberdade
Deixar fluir as palavras.
Correr pelas estradas, subir aos montes
Gosto de cantar.
Cantar canções de palavras
Palavras cantadas sem voz.
Gosto de canetas.
Gosto de tudo o que é louco
Perguntar o que louco quer dizer.
Sinto prazer quando sei e não se consegue explicar.
Gosto do fácil que é perceber
E que exista claridade
Para que se possa entender.
Gosto dos olhos.
Gosto de quem não tem olhos mas Vê.
Gosto de gostar de gostar
Porque simplesmente gosto
No simples acto de dar...

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

RESPIRAR


Respiro.
Já alguém pensou, no que e como respira?
Pois se não, que o faça urgentemente.
Não faltando o que se chama de ar
Há possibilidade de pensar.
Penso.
Em que pensarei após respirar, perguntarão
Essas sábias cabeças, que por certo também o farão.
Como devem saber, penso que respirando posso pensar.
E vou fazê-lo.
Quero muito ar.
Quero imensidão.
Sinto:
Tão profundamente quão profundo é o meu pensamento.
Mas se ele só chega aos sítios mais longínquos dissolvido no ar,
Pensamento mais ar dão-me a sensibilidade.
Espaço.
Sinto-me flutuar.
Já imaginaram quanto pensamento e ar?
Sinto-me livre, com vontade de pensar,
Porque tenho o elemento primordial.
Mundo.
Tudo gira. Tudo é de tudo sem pertencer a.
Apenas estamos ligados pelo que me faz viver.
Ar.
Tenho-o não o posso perder de novo, há que respirar.
É isso.
É impossível perder o respirar, respirando.
Mas não.
Eu sei que é possível, por isso vou ter cuidado.
Não posso parar e tal como ele tenho de girar.
É a força do pensamento que me faz movimentar.
Penso.
Vivo.
Agarro-me à vida.
Respiro.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei - Editora Caleidoscópio

quarta-feira, 9 de junho de 2010

BALANÇO


Contar os dias é dificultar a vida.
Importa é que se sinta o que o passar significa.
Não interessa o que fica para trás,
Conta é o que o hoje mostra, com o passar do tempo.
Onde quer que estejamos há que sentir.
Depois, há que enfrentar os rios de palavras
Enquanto o são de verdade. Ou seja:
Declarações da alma através da escrita
Transformando-nos em meros leitos.
Enciclopédias de sabedoria simples
Que o passar do tempo nos sussurra.
Zumbidos leves de Saberes
Que devido à fragilidade humana se perdem.
Esboços torturados duma hipotética beleza rara.
Máximas inacabadas, não por falta de tempo mas sim de conhecimento.
Borbulhar de riachos com aspiração a rios, sem se encontrarem no que são
Riachos.
Águas pouco claras que ao longo do tempo se vão coando.
Olhares despreocupados nas margens lixentas disfarçadas pela verdura.
Despertar incerto numa manhã cinzenta, na foz já cansada.
Encontro de águas para um nascer de algo.
Mares.
Remoinhos violentos num bater de ondas.
Incontrolável dimensão de profundidade desconhecida.
Lugares desejados, secretos, de conhecimento reduzido.
Navios procurados nas profundezas remotas
Oscilando em abismos de paradeiros inacessíveis.
Ventos.
Agitando as bandeiras do que existirá
Enquanto a procura se torna dolorosa porque é procura.
Caminhando em esforço contra a força do vento
Esperando alcançar o que deveras procura.
Noite.
Aparecendo, reporta ao que já passou,
Totalizante espera resultados palpáveis do que poderá ser.
Oculta, sem se esconder, passeia-se às claras.
Sai sem discussão, dando prazo sem dar e promete voltar.
Encontro.
Já de saída cruza-se com o Sol.
Olham-se de costas seguindo direcções opostas.
Idos deixam-nos à mercê do que são:
Tempo.
Esperas inúteis para os conhecer,
Encontros solenes de admiração e espanto.
Nada nos priva da sua companhia mesmo não estando connosco.
Trazem-nos o que são, pedindo em troca o que precisam:
Análise.
Porquê de existirem por si e sem nós.
Espaço.
Aberto sem no entanto nos ser permitido.
Seguem-se as vias da dedução e da lógica,
Encontram-se resultados questionando-os de dúvidas.
Incontroláveis procuras neste tempo que existe em nós.
Síntese.
Dia – Noite – Tempo

Dina Ventura

segunda-feira, 7 de junho de 2010

LÁGRIMAS DA ALMA


Não tenho vergonha de dizer.
Escrevo estas palavras com as lágrimas
A rolarem pelas faces
Porquê?
Nem eu sei ao certo,
Pois é um mar de emoções
De causas possíveis
E que fazem de mim
O mais frágil dos seres neste momento.
Não entendo porque as pessoas se maltratam,
(Ou melhor eu entendo, mas a minha alma não
e faz-me chorar)
Não enxergam o seu interior
Porque têm, para sobressaírem
Ou se desculparem, agredir os outros.
Não entendo porque se todos dizem
Defender o espírito e as palavras
Que embalam a alma
Porque depois nada disso fazem.
Porque não são sinceras,
Porque fogem de si mesmas
Para se apresentarem aos outros como perfeitas.
Não sou perfeita, sou muito imperfeita
Mas sei que não desejo mal a ninguém
Que não utilizo ninguém
Que não uso nenhum ser, par ame favorecer.
E que tento da melhor forma possível ajudar!
Será que nessa ajuda aos outros está alguma mentira?
Estará oculta, alguma intenção menos saudável?
Uma necessidade de através da ajuda dada, ser aplaudida.
Não sinto isso…não quero aplausos para a minha alma
Nem para a minha pessoa, que a possui,
Quero, que cada um se respeite, para poder respeitar os outros.
Existem dias de cansaço, hoje é um deles.
Estou cansada, de acreditar no inacreditável
E de no inacreditável me apoiar, para conseguir acreditar
Mas hoje, nada me apetece, a não ser chorar
Para limpar, talvez, o lixo onde tive de entrar
Para conseguir ver de perto o lixo que me rodeia.
Hoje, nada faz sentido se deixar de sentir
E ao Sentir choro, por mim e por todos.
Penso que as lágrimas que não me deixam ver as letras
Serão o que a minha alma estava a precisar
Para limpa e sozinha pode descansar.
Não sou heroína, não sou nada, nem ninguém
E neste momento estou cansada
Cansada, deste mundo que é uma luta,
Que não pára, porque o que o impede de melhorar
São as pessoas, que dizem que o querem mudar.
Estou farta de palavras, de tentativas de bem falar,
Mas sei que sem elas também não consigo explicar.
Por isso neste momento no meio delas só me resta chorar.

Dina Ventura 14h – Dia 7 de Junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

CRIANÇA


Óleo s/tela com aplicações - Crianças - Dina Ventura - 2010

“...as crianças são os seres mais incríveis porque não têm maldade, são puras...”
Gostava de vos mostrar algo
Que na altura não consegui desenvolver,
Não por não saber,
Mas por não ter sido a altura ideal
E que agora penso ser capaz.
Não lembro o que pensava quando era ainda menina.
Não lembro datas... apenas lembranças ténues...
Não me lembro de ter vivido pequena,
Daí a necessidade de manter sempre
Um pouco da criança que não fui.
Aos poucos vou lembrando,
Não de mim mas do que eu senti.
O que de mais nítido guardo na lembrança são cheiros...
Cheiros que nunca esqueço e que me agarram à infância.
Recordo o cheiro do pão quente, da lenha queimada,
Transformando-se aos poucos em cinza incandescente,
Levando ao rubro as pedras próximas daquele semicírculo.
O estalido de protesto de uma ramada ainda verde,
Para dizer às chamas que ainda não estava preparada.
O cheiro acre e adocicado da massa levedada,
Que aos poucos rasgava o aconchegante farelo.
Lá fora o vento forte levava até mim o cheiro da terra molhada!
E, lá longe, aquela barreira que me chamava...
Era um mundo de cheiro e vida onde sonhar era tão simples!
Apanhava um pouco daquela terra sedosa,
Apertava-a carinhosamente e deixava-a escorregar por entre os dedos.
O barro que sobrava nas pequenas mãos era tão moldável...
Uma bola, mais um retoque e o sonho começava.
Do nada um Mundo se formava.
Tudo à minha volta tinha vida e eu criava!
Não sentia o tempo passar.
Apenas gostava daquele lugar e pensava...
Que tudo podia ser de barro, que o seu cheiro era intenso e o sabor?
Como seria? A que sabia? Só teria de o provar!
Mas se eu gostava tanto daquele lugar. Existiriam outros e como seriam?
Era fácil imaginar.
Olhando ao longe, para além daquele monte,
Para mim o dorso de um cavalo a pastar, eu podia imaginar:
Cidades, casas, ruas...era tão fácil, bastava-me olhar
E lá estavam, debaixo daquele tapete de ervas verdes
Tantas coisas que apenas os meus olhos contemplavam.
O movimento era enorme.
Muita gente, embora parecida comigo, parecia não ver.
Seria que também me viam? Nunca cheguei a descobrir!
Após tanta observação o cansaço chegava
E para deixar de ver aquela gente bastava pestanejar!
E outro cheiro me atraía, o da água fresca que brotava daquela bica.
Era uma fonte, que sendo pública, só a mim pertencia.
Porquê? Ninguém lhe ligava, passava despercebida.
Mas para mim era muito importante.
Corria até ela, sentava-me na beirinha e brincava com a água.
Depois de joelhos e inclinando a cabeça
Deixava que me molhasse a cara acariciada.
Estremecia, pensando ouvir passos...mas não
Era uma pinha que caíra. Corria ao seu encontro
E lá ficava sem saber o que fazer. Que poderia fazer com ela?
Pegava-lhe, ficava muito quieta e lá continuava a sonhar!
Sentia a imensidão a rodear-me, eu era pequena mas sentia
Que algo me ligava a ela. Seria o que eu pensava?
Se eu pensasse muito, tanto quanto conseguisse ver
E depois cada um dos pensamentos desenvolver
Como sendo imensos,
Conseguiria aproximar-me mais do que me rodeava,
Ou seja, teria de desenvolver em profundidade
Cada pormenor das coisas e, só olhando para todas elas
Eu conseguiria aproximar-me do que me rodeava.
Era muito difícil e precisava de muito trabalho,
Porque ao mínimo descuido lá se escaparia um pormenor importante!
Pensava como seria um sábio, que para mim era quem tudo sabia.
Como é que eu seria capaz? Nunca seria...e chorava.
Mas pelo menos um bocadinho sábio eu podia tentar.
E lá começava.
Olhava para tudo o que me cercava,
Tentando entender o Porquê das coisas.
E o porquê de serem o que eram e não outras!
Ou será que seriam outras e não as que eu via?
E lá recomeçava tudo de novo,
Com o máximo de hipóteses que eu conseguia,
Até esgotar todas as probabilidades.
Sempre me encontrava numa encruzilhada,
Num ter a certeza sem certezas!
Quanto mais perto parecia estar dum resultado absoluto,
Mais depressa concluía que ainda tinha muito e muito a concluir,
Acabando sempre na Procura...

Dina Ventura (in: nas asas do vento encontrei

segunda-feira, 31 de maio de 2010

ENCANTAMENTO E POESIA


O encantamento é a acção
Que a filha do Sol exerce junto dos outros,
Para poder manter junto de si o que deseja.
Apesar do que Circe fez, que comove e faz pensar
Não tinha o direito, de por egoísmo, aos outros retirar.
Mas tudo é possível na poesia, tudo se pode alcançar.
Sem verso, sem rima, sem concreto ou abstracto,
Tudo se pode realizar.
Não existem barreiras,
Nem fronteiras, críticas ou bandeiras.
A nação é só uma!
Lá, ninguém pertence a nenhuma.
É o centro do universo, dento do Universo em centro.
Reflecte-se em si, fora de si,
Num encontro intimo que só a ela pertence!
Nem todos a entendem, mas todos se deleitam,
Tentam interpretar, copiar, redigir e reflectir.
Pensam que conseguem, mas o encantamento não deixa.
Existe nele a falsa dor, a dor do falso sentir,
No sentir o que é a Dor.
E aí se perdem os poetas, os realistas, os pensadores
E até doutores.
Ditam, reescrevem e fazem da poesia o que quiserem.
Mas ela é Ela, sem rodeios, anseios ou pretensões.
Está-se nas tintas, com as tintas do que pretende pintar.
Sim, porque poesia não é escrita, poesia não existe,
Ela apenas subsiste e persiste na imensidão do Ser.

Dina Ventura

ESPÍRITO DA CARNE


Óleo s/tela - O espiríto da carne - do pintor Bernardino Costa - 1ª fase

Dos músculos à parte mole do corpo,
Tal como a polpa de certos frutos
Assim é a natureza humana
No ponto de vista da sensibilidade.
Pois como diz o ditado “a carne é fraca”.
Que seria então dela sem o espírito?
Seria devorada
Como a de um animal ou fruto qualquer.
Para sobrevivência, gula ou simples prazer.
Que forma anímica lhe incute
Essa substância incorpórea?
Esse espírito?
Dá-lhe o alento vital. Alma.
Ente imaginário
Que se prova a si mesmo de forma irrefutável.
Transformando a carne que alberga,
Desenvolvendo-a,
Criando um espírito e ser superiores.
Corpúsculo, a quem é atribuída a faculdade
De levar a vida e o sentimento
Aos diversos pontos do organismo animal
Deixando de ser apenas carne
E transformando-o em espírito da carne.
Em uníssono os dois se ligam,
Os dois evoluem e Vivem em comunhão.
Compensam-se, apoiam-se
E satisfazem-se mutuamente.
O espírito apazigua o da carne,
Quando este apenas é visto
Como objectivo sem espírito.

Dina Ventura - 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

TRISTEZA



Cavalo morto em liberdade!
Floresta virgem queimada pelas chamas.
Abraços bem fortes na despedida.
Olhos que vêem o que vai no mundo.
Olhos cegos para o que existe!
Rios correndo em leitos secos.
Crianças sorrindo à esmola dada.
Velhos chorando os dias passados.
Mãe limpando as lágrimas pelo que perdeu.
Campos abertos cercados de arame.
Cidades abertas fechadas para o Mundo.
Casas brilhando sob o fogo das armas.
Riqueza pobre de um rico qualquer.
Trabalho esforçado dum preso à vida.
Morte natural sem esperança de Vida,
Vida morta duma forma natural.
Tristeza triste de não saber
O que é Tristeza!

Dina Ventura IN: NAS ASAS DO VENTO ENCONTREI

terça-feira, 25 de maio de 2010

AMOR PRIMATA


Óleo s/tela - Amor primata - do pintor Bernardino Costa - 1ª fase

Aponta para a noite
Dos tempos.
Para a transição
Das espécies,
Sentido em liberdade
E o bater do coração
Na busca.
Sentimento pelo qual
O corpo é levado,
Para o que lhe agrada
Fortemente e deseja.
A posse.
Gosto vivo e intenso.
Fenómeno que permite
Adornar de mil belezas
Todo um local deserto e gélido.
Entrega apenas.
Primeiras emoções da alma,
Sem controlo,
Que despertam
No sopro de uma aragem
E incendeiam
Os sentidos.

Dina Ventura - 2009