quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ESTADOS - EFEITOS - QUALIDADES - III



ABRAÇO
Se se abraça criamos um elo ou cirro de vinha,
Podendo chamar-se também gavinha.
Folhagens bem frescas lavradas em volta de uma coluna.
A lavra afasta o abraço, pois obriga o monge a viver no mosteiro.
Celas separadas por uma simples parede, que tudo faz.
Gavinha ou abraço, um apêndice, enrolado em espiral
Que se sente e que de alguma forma ajuda a suportar o próprio peso.
Porque serão os cirros penas? Ou tentáculos de alguns peixes?
Será com intenção de proteger, distinguir algo de algo?
E que abraçarão as nuvens brancas bem distantes,
Parecendo formadas de filamentos ou penas cruzadas?
Aparecerem em dias calmos podendo anunciar a chuva ou a neve.
Porque tudo se parece, se imita, se retrata e se reporta à Natureza.
Será assim um abraço.
Cria cirros, indo do extremo do bem ao oposto,
Consoante a natureza da sua Natureza.

AUSÊNCIAS
Olho e nada vejo que me impele.
O sono invade os meus sentires e o meu corpo.
Não para levar-me ao sonho, mas antes
Para não me levar a pensar. O Pensamento está incerto, vazio.
Procura no que já pensou e nada lhe faz sentido.
Adormeceu e adormecido de nada serve.
Se reage é esquecido, se não esquece é ferido.
De que serve então não pensar?
Apenas desnivela o equilíbrio e ressarça as exclamações
Do nada que procura ouvir.
São ecos, ecos sem embates de devolução
Que se perdem no espaço, vagueiam no vácuo
Em esperanças que estruturam a realidade,
Que não é, nem será mais do que o pensamento!
Olha, canta, permite e espanta.

PORQUE SE PROCURA
PORQUE SE ENCONTRA

“Para iluminar, esclarecer. Sentir o Sentir. Falar do pintar! Isso sabe-se! Como?
Não me compete a mim saber a alma sabe e saberá. O subconsciente, a Alma Grande, sabia.
Tenho sempre o que quero, é uma espécie de círculo, que primeiro me põe à prova, me molda mesmo no crisol.”

Para sentir, o sentido de Sentir.
Da escrita do pensamento nas palavras da alma.
Preencher o vazio que sempre se possui
E crescerá se não se preencher e “desalimentar”.
É preencher sem ter. Controverso? Talvez.
Mas mais ainda quando não se sabe possível.
Talvez a alma saiba, por isso busca e alcança sempre o que quer.
Mas nem sempre o tem. É algo que alberga, mas doa. Sem querer ter.
Será um circulo…pode ser! Mas sendo-o, não vale a pena lutar para ter.
Têm-se apenas sentindo.

TOLERÂNCIA
Não possuída deixa de ser qualidade.
Sendo-a, aponta para a indulgência por aquilo que não se pode ou não se quer impedir.
Sendo cega entra na condescendência quem sabe sem utilidade. Melhor será, tal como o corpo humano, adquirir a capacidade de suportar certos medicamentos. Tendo em conta a quantidade para mais ou menos, necessária à compensação e equilíbrio.
É dar permissão ou compactuar com algo, que pode não cumprir ou não comparecer. Aí a cada um se deixa a liberdade de praticar a crença que professa. Mas tolerando os abusos é-se no entanto cúmplice deles! Então que fazer com a tolerância?
Tudo se pode desde que não seja totalmente defeituoso. Temos de ter em atenção que tolerável também pode ser sofrível e pouco cotado. Ou seja, abaixo do suficiente.
O que se tolera pode por vezes encetar o caminho do maçador, do repetitivo, do aniquilador e o mergulho em águas salobras. Não faltando a água, não sacia a necessidade. A sede mantém-se pela ausência das propriedades que alimentam a vida.
Haja tolerância na Tolerância.

Dina Ventura 14 de Outubro 2009