quinta-feira, 2 de agosto de 2012

ÊXODO - de Dina Ventura
Esmalte s/ tela - Julho 2012



O BALOIÇO DA MADA - BY Dina Ventura - Julho 2012
óleo - (pintura de olhos vendados

quinta-feira, 17 de maio de 2012

ALEGORIA

Alegoria del sol - Salvador Dali


Caverna onde se esconde algo sagrado,
Tamanha é a sua impotãncia e significado.
Da parábola, nasce a imagem
Que apresentada ao espirito
Lhe transmite a ideia de outra.
Sem medo de errar
O espirito lança-se em busca
E começa a voar.
Nada mais simples para exemplificar
Do que aos poetas
Colocarem uma venda no amor,
Sem terem de o cegar.
Na abstração se retrata,
Se orgulha de ser quem é,
Podendo ser outra coisa qualquer.
E lá está a balança e o gládio
Imponentes para que a Justiça se cumpra.
A preguiça, inveja, tristeza ou alegria
Passam de seres morais,
A personificações na poesia
E é na gente que se tornam vida.
A arte mata a sua sede na alegoria
As visões são o celeiro
A arte a fonte limpida
Exprime-se, revela-se e desvenda-se
Tal como a alma se alimenta
Para evoluir
Bebendo nas alegorias da vida
E do sentir
Dina Ventura – Maio 2012 

terça-feira, 17 de abril de 2012

PARALIZAÇÕES


Após grandes percursos
Densos em pulular
Estancaram em cadeia
Escaparam as soluções
Do choro e da barreira
Pelo que ainda faltava
Para ultrapassar a fronteira.
Não era chegada a hora
De dar o salto mortal
Estancaram
Para ganharem fôlego
Darem atenção ao sinal
Que as chamaria de volta
Sem qualquer imposição
Dando tempo a si próprias
Para maior reflexão.
Sem encontros nem promessas
As palavras socaram o medo
Sem recearem o desprezo
Ou mesmo a paralisação
Encostaram-se a si próprias
Num ato de reflexão.
Arranjaram homónimos e sinónimos
E tentaram analisar de perto
O que representavam os antónimos.
E assim para o complemento
Mais direto ou indireto
Há sempre uma proposição
De se escutar o chamamento
Formando uma multidão.
De vidas múltiplas são o contrário
Entre o mundo e a prisão
Onde se encontram encerradas
Morrendo entre o sim e o não.

Dina Ventura – “Only me”

segunda-feira, 19 de março de 2012

CUMPLICIDADE


Quieta e silenciosa
Tento escutar o pensamento
Mas ele nada me diz.
Sinto-o parado, adormecido,
Não sei o que pensar.
Mau sinal para começo de dia,
Ou sinal para um dia diferente.
Não sei.
Agitou-se e apenas me deu um mote:
Agostinho da Silva.
Tento recordar muitas das suas palavras
E elas misturam-se
Num emaranhado de sensações
Que me provocam
Um sentimento de incapacidade,
Pois só consigo reconstituir,
Duplicidade.
Não suporto não relembrar o que diz.
Sem vergonha recorro a “Vida Conversável”:
“ (…) E isso imediatamente me levou à ideia de que o português é um ser complexo, do qual, para sermos simples, podemos dizer que é pelo menos um ser duplo, aplicando a palavra, que em português tem má nota, duplicidade ao nível de muito bom. Podemos dizer que uma das virtudes do português é a duplicidade, que geralmente é apontada como um defeito em toda a gente, porque se relaciona com a palavra hipócrita. Coisa curiosa também, porque em grego hipócrita quer dizer apenas o ator. O ator que não era sinceramente ele, pois claro, que era um hipócrita. Assim um hipócrita é um ator, que é ator na vida e que tomou um sentido completamente diferente depois, quando a vida começou a ser alguma coisa, muito mais atenta ao ganho, muito mais atenta à conquista de um objetivo do que ao desenvolvimento da personalidade. Se esta se pudesse desenvolver livremente, nós teríamos o ator na sua plenitude como o foi, por exemplo, Fernando Pessoa. Podíamos dizer que Fernando Pessoa é o hipócrita por excelência. Não sendo ele na sua vida ator, porque se o fosse, teria tido bons empregos, teria talvez entrado na política, teria talvez sido ministro e não foi nada disso, porque não era hipócrita, ele era apenas ator para fora, para dentro nunca o foi, isto é, (…), ele nunca cometeu o pecado contra o Espírito Santo, nunca foi ele próprio ator, ele era as personagens, mas não o ator em si mesmo” Agostinho da Silva
Pois é
E só recorrendo a um filósofo
Grande Mestre
Que tento sempre escutar
Que muito admiro,
Consegui “dizer” o que me ía na alma.
Atriz, duplicidade ou quem sabe
Cumplicidade.

Dina Ventura - "Only me"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

DESPERTAR PARA O PASSADO


Despertei ao som de um grito
Ou melhor, de uma frase bombástica:
“Interpreta o passado, vive em verdade o presente e conhecerás o futuro”
Julgando ser a profecia para resolução dos erros humanos, decidi partilhá-la.
Foi o que fiz, convencida que era nesse processo que vivia.
Na verdade tento viver e por essa razão
O que me leva a escrever nesta folha de papel o desabafo.
Em verdade vivo, mas será que realmente o é?
E se algo no passado foi mal interpretado?
Esquecido ou atrofiado?
Até que ponto a verdade do presente é real?
Assim me encontro, tentando buscar respostas em mim,
Recorrendo ao passado
Para que o presente seja vivido
Em verdadeiro conhecimento de mim
E não um simples ideal de futuro
Estruturado em bases desconhecidas.
Pergunto-me como se esquecem coisas importantes do nosso percurso.
Porque se esquecem?
Será porque nos magoaram ou podiam magoar ainda
Será por não lhes termos dado importância
Ou por nos penalizarmos e sentirmos relutância
Em nos aceitarmos despidos aos nossos olhos.
Em verdade me questiono
Me desdobro em mim
Sacudo a alma
Para que se decomponha
E me mostre toda a minha verdade
Sem vergonha.
Aí, sentimos várias
Que se atropelam, se afrontam
E ficam em desalinho
Sem saber afinal qual o caminho
Que as reunirá.
Insensatez da vida
Dos caminhos percorridos
Dos medos assumidos
Que trucidaram os sentidos.
Por isso a cada momento vivido
Há necessidade de o receber
Não como um dado adquirido
Mas batalha por vencer.
E em cada pedaço do caminho
Existem lugares reservados
Que nem mesmo quando se está sozinho
Podem ser alcançados.
Não vale a pena maltratar-se
Por não ter feito o que se queria
Compensa avaliar-se
E trazer à luz do dia.
Tudo o que temos em nós
É possível alcançar
Mesmo que pareça impossível
Vale sempre a pena tentar
E descobrir o que de nós escondemos
Mesmo que sem intenção
Mas sentimos que serão medos
Que nos bloqueiam o coração.
Por isso o trabalho do passado
É tão importante no presente
Para que o futuro não seja ocupado
Por algo que não se sente.

Dina Ventura – 17.01.2012 -“Only me”