domingo, 10 de maio de 2009

TRISCAR CONSIGO MESMO

by: dv


I

Pergunto a mim mesma porque se dizem determinadas coisas?

Que necessidade haverá?

Sinceramente. Juro. Prometo. É verdade. Acredita. Sério. Sem dúvida.

Quantas palavras atiradas, lançadas para alguém sem direcção certa.

Desacerto de alvos. Setas atiradas para sítios incertos, por isso ferem.

Dói a dor ou o não fazer sentido?

Que sentido se dá ao que dói? Ao que magoa e rasga a alma?

Acresce…a alma expande-se por se libertar do que a rasgou.

Passa, transparente e sem dificuldade ao que se lhe opôs.

Ninguém consegue apagar a luz de uma alma.

A luz é imensa, intensa, inesgotável e invisível.

É suave e agreste na sua condição humana,

Mas nunca perde o sentido do caminho de volta.

Ela é que tem os significados que as palavras desconhecem.

Ela tem os segredos que por vezes desaparecem.

Ela tem o remédio para todos os males.

Ela tem o que muitas vezes não se sente,

Alma!


II

Para que se corre? Talvez para fugirmos de nós mesmos.

Tenho pressa em aprender, será porque não o quero fazer?

Ou por ter perdido tempo a não entender?

São, a cada momento, questões mentais,

Desacertos com o exterior em serena harmonia,

Mas que vai despoletar a vontade da conversa íntima.

De questionar o porquê de mim e dos outros

E o que os outros pensam e eu não

E se serei capaz para além do que penso.

É a guerra entre o pensamento que não controlo

E a vontade que tenho de o controlar.

Ele escapa-se, não há possibilidade de o acompanhar.

Já escrevi muitas vezes sobre isto.

Da minha incapacidade de acompanhar o meu pensamento.

Sinto-o.

Vejo interiormente o que diz e depois não permite que o exponha.

Diz não existirem palavras no meu dicionário, que eu sou uma aprendiza.

Aceito.

Por isso me esforço por aprender.

Porque não deixa então que eu o faça?

Porque não me ensina quando o diz?

Será para me pôr à prova?

É essa a forma como ensina?

Não me sinto escritora nem poeta, então porque tenho de escrever?

Porquê sem pensar sai a escrita certa que me soa a cântico.

Paro de pensar.

É esquisito como ele desencadeia esta amálgama de palavras

Que sem sentido revelam o verdadeiro sentido do que sinto.

Paro, olho-me e acho-me complicada. Rebuscada.

Mas não é isso que sou, nem o que quero ser. Quero apenas comunicar.

Mas como se comunica com palavras sem sentido?

Sem forma correcta, parece um castigo:

Escrever mil vezes a mesma frase para nunca mais esquecer o erro cometido.

Hoje sinto-me diferente. Sinto-me envolta em tintas e palavras. Nada condiz e tudo acelera nesse sentido. A chuva cai. Talvez lave a tinta!

Dina Ventura – Maio 2009