I
Pergunto a mim mesma porque se dizem determinadas coisas?
Que necessidade haverá?
Sinceramente. Juro. Prometo. É verdade. Acredita. Sério. Sem dúvida.
Quantas palavras atiradas, lançadas para alguém sem direcção certa.
Desacerto de alvos. Setas atiradas para sítios incertos, por isso ferem.
Dói a dor ou o não fazer sentido?
Que sentido se dá ao que dói? Ao que magoa e rasga a alma?
Acresce…a alma expande-se por se libertar do que a rasgou.
Passa, transparente e sem dificuldade ao que se lhe opôs.
Ninguém consegue apagar a luz de uma alma.
A luz é imensa, intensa, inesgotável e invisível.
É suave e agreste na sua condição humana,
Mas nunca perde o sentido do caminho de volta.
Ela é que tem os significados que as palavras desconhecem.
Ela tem os segredos que por vezes desaparecem.
Ela tem o remédio para todos os males.
Ela tem o que muitas vezes não se sente,
Alma!
II
Para que se corre? Talvez para fugirmos de nós mesmos.
Tenho pressa em aprender, será porque não o quero fazer?
Ou por ter perdido tempo a não entender?
São, a cada momento, questões mentais,
Desacertos com o exterior em serena harmonia,
Mas que vai despoletar a vontade da conversa íntima.
De questionar o porquê de mim e dos outros
E o que os outros pensam e eu não
E se serei capaz para além do que penso.
É a guerra entre o pensamento que não controlo
E a vontade que tenho de o controlar.
Ele escapa-se, não há possibilidade de o acompanhar.
Já escrevi muitas vezes sobre isto.
Da minha incapacidade de acompanhar o meu pensamento.
Sinto-o.
Vejo interiormente o que diz e depois não permite que o exponha.
Diz não existirem palavras no meu dicionário, que eu sou uma aprendiza.
Aceito.
Por isso me esforço por aprender.
Porque não deixa então que eu o faça?
Porque não me ensina quando o diz?
Será para me pôr à prova?
É essa a forma como ensina?
Não me sinto escritora nem poeta, então porque tenho de escrever?
Porquê sem pensar sai a escrita certa que me soa a cântico.
Paro de pensar.
É esquisito como ele desencadeia esta amálgama de palavras
Que sem sentido revelam o verdadeiro sentido do que sinto.
Paro, olho-me e acho-me complicada. Rebuscada.
Mas não é isso que sou, nem o que quero ser. Quero apenas comunicar.
Mas como se comunica com palavras sem sentido?
Sem forma correcta, parece um castigo:
Escrever mil vezes a mesma frase para nunca mais esquecer o erro cometido.
Hoje sinto-me diferente. Sinto-me envolta em tintas e palavras. Nada condiz e tudo acelera nesse sentido. A chuva cai. Talvez lave a tinta!
Dina Ventura – Maio 2009