sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LIBERTAÇÃO

Escrevendo tantas vezes, outras tantas cheguei à conclusão que era uma escrita sofrida e magoada. Era como se o deslizar da caneta fosse um rasgar da minha própria pele, com o intuito de amenizar um pouco o meu sofrimento interior. Quanto mais sofria, tanto mais me apetecia escrever. Como se fosse a única abertura por onde entrava um pouco de ar que mantinha a minha vida, já por um fio. O ar faltava, a cor vinha apenas como metáfora e sonhando abria-se uma clareira nessa escuridão interna. Tinha vergonha de mim, de não conseguir ser eu própria, porque como ouvia dizer, os poetas, os artistas é que escreviam ou demonstravam a sua arte através dos sentimentos mais profundos e de tristeza. Encarando-me de frente eu era uma fraude, uma mentira que fingia sentir o que sentia apenas para parecer o que não era. Mas afinal o que era eu? Porquê tanta revolta contra o que não sabia ou conhecia? Porquê tantas perguntas sem resposta? Cheguei à triste conclusão que eu era uma preguiçosa, sem vontade de executar e limitava-me a martirizar o pensamento, para justificar o nada fazer. Tomei a liberdade de me dizer o que tão prontamente conseguia explicar aos outros. Então se é tão fácil darmos conselhos, ajudarmos quem precisa, se conseguimos ser tão bondosos com os outros, correndo prontamente em seu auxilio e se muitas vezes nos auto elogiamos dizendo que o fazemos sem pedir nada em troca, então afinal que ser somos nós que nos maltratamos tanto ao longo da vida. Porquê? Que tal começarmos por olhar um dos mandamentos “ama o teu próximo como a ti mesmo” com verdade e revolucionarmos a nossa vida? Um a um revolucionaremos o Mundo! Comecemos por gostar de nós mesmos de forma despojada e serena.
Após reflexão deixei de sentir necessidade da angústia e da dor, que faziam com que a caneta ganhasse vida e entrasse em movimento. A medo, iniciando a escrita, receei o conteúdo do meu sentir.
Que o tom poético, com o deixar de ser sofrido, tivesse menos beleza. Que a expressão saísse menos densa, menos cheia ou talvez menos rebuscada de natural. Nada disso me está a acontecer, muito pelo contrário. Sinto a caneta bem livre, o olhar do meu pensamento com olhos mais claros e tão mais penetrantes na minha alma, agora não tanto em fuga de si mesma.
O cansaço dissipou-se. As procuras em constantes viagens circulatórias, iniciam uma marcha mais calma e plena de conhecimento do que desejam procurar. Escolha de caminhos que apesar de árduos são menos tortuosos.
A brisa, que me enche os pulmões, ajuda-me como que empurrando o meu corpo, que se torna mais leve à medida que avança.
Recuos, poucos..às vezes muitos, nunca deixam de existir. Encaro-os, não como retrocessos mas sim, como paragens para descansar em terrenos já conhecidos e que me deixam usufruir dum descanso tranquilo e sem temores.
Dina Ventura (in: nas asas do vento encontrei orixá)