terça-feira, 7 de abril de 2009

As cores


Foram elas que deram aso a este tema bastante longo, sobre Arte e espiritualidade. Não ao tema propriamente, mas ao estar direccionada para a escrita neste espaço. Como defini no perfil estou a recuperar, de atitudes que considero menos correctas e que me chocaram apesar de no fundo ser eu a culpada. Pois só nos fazem o que permitimos que nos façam, apesar de eu sempre o repetir a mim mesma e aos outros, mas às vezes não nos ouvimos e hoje foi reavivado duma forma muito interessante por uma pessoa que gosto bastante. Obrigada a si que sabe quem é.
Mas são os caminhos da aprendizagem, umas vezes mais tortuosos mas onde se aprende muito. Vamos então colorir a conversa.
Qualquer tela, tecido ou prato ornamentado e colorido chama mais a atenção a uns do que a outros. Verdade? Já diz o ditado que se todos gostassem do amarelo o que seria do azul e de todas as outras cores. Pois é, mas até uma tela em branco tem cor. Na forma de nos expressarmos ou gostarmos mais daquela cor e a utilizarmos, é por ter algo que nos desperta para ela. Isso é muito importante, bem mais do que por vezes possamos imaginar. As cores, apesar de aparentemente serem poucas, as chamadas primárias, nas suas combinações são milhares. Pois tal e qual os seres humanos, mesmo sendo parecidos têm sempre algo, a sua essência ou individualidade, que os distingue uns dos outros e faz de cada um, ser único. Por isso cada autor mesmo que se debruce sobre o mesmo tema espelha a sua personalidade, a sua alma no trabalho que faz. Quem o vê reflecte exactamente as suas emoções, mostrando as suas tendências. Não podemos considerar algo estático pois tem a ver com muitas coisas e em especial com o seu estado de espírito. Mais sereno e tranquilo pode apresentar-se com tonalidades mais suaves mas o oposto também é verdadeiro. O estado de espírito influência tanto o fazedor como o observador.
Vou "roubar" a mim mesma o que escrevi sobre as cores, não para estas conversas mas para artigos publicados numa revista, que deram origem a um livro, anunciado para breve, mas devido a equívocos, entre ideias, autores e co-autores, ficou adiada a publicação. Mas como a obra é minha, posso usá-la da forma como entender, sem receios de dar ideias a alguém para escrever se entender, até sobre o tema, pois considero que cada um é livre de escrever sobre ideias já existentes, mas de forma criativa sem roubar ou plagiar, isso sim pode ser crime. Serei punida por copiar o que é meu? Não sei mas vou partilhar um pouco convosco.
Começo com uma afirmação de Joahann Wolfgang Von Goethe "As cores são acções e paixões de luz. Na verdade luz e cor relacionam-se perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencentes à Natureza como um todo: ela é inteira e revela-se ao sentido da visão". Depois de um sábio definir as cores que mais dizer? Que mudar de cor é empalidecer? Fazer-se de mil cores é mostrar grande pertrubação, empalidecendo e corando sucessivamente? Ou ainda que pode ser apenas aparência, pois a hipócrisia tem a cor da virtude. Mas são tantas as questões que não se podem contabilizar, tal como o número de cores existentes.
Não tomando a via da explicação cientifica da cor, se é primária ou secundária, por não ser esse o objectivo desta conversa, apenas importa saber que a cor é um fenómeno de luz e energia que estimula a nossa vida e está presente em tudo. Em cada desejo a cor da alma manifesta-se e em cada pensamento, as cores das nossas ideias e intenções. Cor é vibração e influencia os seres, física, mental e espiritualmente. Contribui de forma incisiva na psique humana, provocando estados de ânimo específicos e facilita a interpretação e descodificação da realidade. A cor é uma sensação interna. Não deixando de ser um conceito biológico, baseado na resposta mental do olho à luz e a forma como cada ser vê a cor, o mais importante é a forma como cada um a sente. Ela está no nosso quotidiano, mexe com a nossa sensibilidade porque possui vida e sempre actuou no ser humano de todas as épocas, influenciando tendências por determinadas harmonias de acordo com a cultura, evolução do gosto e fundamentalmente devido a influências e orientações da arte e moda.
Portanto o que quero dizer com isto é que temos de aprender a interpretar tudo o que fazemos e em especial porque fazemos. Essa é a base para o nosso conhecimento interior. Saber interpretar a realidade ou o abstracto fará de nós uns mestres de nós mesmos e em consequência a melhor sabermos lidar com os outros, respeitando as opções e gostos de cada um, porque o que achamos ou consideramos mais bonito para nós poderá não o ser para quem está ao nosso lado.
"Para pintar os sentimentos temos os poetas, para definir e trabalhar as cores os pintores, mas na verdade os peritos somos nós, pois só cada um sabe qual é a cor da sua solidão e do seu amor..."
A cor da alma é a cor do sonho e evolução espiritual, dependendo do que brilha em nós. Foi um pedaço de mim que deixei aqui, quem sabe o poderão ler na totalidade um dia destes. Fiquem em paz e coloridos.

Arte e espiritualidade - continuação

Quarta parte
Este tema serviu de mote para conversas tidas, durante uma exposição de pintura intitulada "De mãos dadas" que me sinto muito honrada em ter participado com duas amigas a Ana, http://anagpintora.blogspot.com e a Sónia: http://sabordomar.blog.com. Para quem as desejar visitar pode e deve, pois vale a pena.
Ora essa exposição serviu para nos libertarmos, descomprimirmos, dialogarmos e de mãos dados nos sentirmos bem e foi isso que aconteceu. Muito grata a elas e a quem nos deu essa oportunidade.

A arte alimenta-se de ingenuidade, de imaginação que ultrapassa os limites do conhecimento e é aí que encontra o seu reino, a essência ou centelha divina, chamem-lhe o que quiserem, que cada um de nós possui e desenvolve mais ou menos.
O dizer tem o dom, acredito, mas creio que os grandes mestres e artistas se esforçaram e esforçam para conseguir alcançar o que para eles seria o seu melhor, porque o que para nós está perfeito para eles não estaria. E é esta essência que cada um guarda bem dentro de si, a que a ciência não tem acesso e não sei se algum dia terá, julgo e espero que não, que nos liga directamente à arte e ao desenvolvimento espiritual, ou seja a uma evolução no sentido positivo como seres pensantes.
Todos os passos são importantes para que avancemos em direcção ao nosso "eu", sem nos afastarmos dos outros, antes pelo contrário, pois considero que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que ao esquivar-se do sofrimento ou sacrifício para lutar, perde ou deixa escapar a felicidade.
O olhar uma tela, mesmo que não a entendamos, activa em cada um de nós, os mais profundos sentimentos por vezes adormecidos por alguma razão ou devido até à falta de tempo para Olhar. Se olha apenas e diz que "coisa" tão simples parece de criança, mas que arte é esta? Será que não está a conseguir enxergar porque perdeu a sua criança algures ou terá medo de a enfrentar?
Arte seja ela qual for é sempre um caminho essencial para a busca da transcendência que nos inunda a alma e que por vezes é tão subtil que nem nos damos conta.
Para Willian Blake, Sir, (1757-1827), poeta místico inglês, a noção de espiritualidade era tão intima quanto a arte. Por vezes era incomprendido e até apelidade de louco, por usar com todas as forças da alma, a criatividade contra a parte científica. Poeta, artista plástico e acima de tudo e o mais importante um observador do mundo. Para ele por mais brilhantes que as descobertas cientificas fossem, não seriam suficientes para explicar os processos da Natureza e a alma humana, muito mais complexos do que por vezes os cientistas concebem. Melhor do que ninguém ele sabia que somente a arte, com a sua maior liberdade de expressão, é capaz de tornar possível a manifestação das tendências do espirito. Palavras suas "Ver o mundo num grão de areia e o paraíso numa flor silvestre, segurar o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora". É isso o que um artista consegue fazer, estimulando a sua criatividade e dando asas ao seu espirito para que possa voar para além fronteiras.
Grata por terem chegado até aqui.

Arte e espiritualidade - continuação

Terceira parte
Tomos somos artistas. Agora gostava de falar sobre, "subtilmente e baixinho", os grandes mestres da Arte. Falar deles posso, comparar-me com eles é que seria uma afronta. Mas cada um é cada um, não deixando de Ser e se dá de alma e coração não tem de sentir medo ou de se inferiorizar perante quem acha "grande" e sim trabalhar para chegar o mais próximo possível. Este é o ensinamento que podemos e devemos recolher de quem admiramos. Não sentirmos inveja ou acanhamento por não podermos ser iguais, tão perfeitos, ou famosos, isso não nos enalteceria antes pelo contrário, falar deles e aprender com eles é uma honra e não uma comparação tenebrosa. Se eles se mostraram e mostram ao mundo, algum objectivo tinham e têm, quem sabe não será que alguém Olhe para o seu trabalho, alimente a sua alma de beleza, dê cor à sua vida e ao que o rodeia. O que os grandes mestres nos podem fazer é, incentivar a que dentro das nossas possibilidades cheguemos bem fundo dentro de nós, explorando e trabalhando as nossas capacidades artísticas. É isso que fará com que a nossa mente se abra e o nosso espírito se expanda e necessite cada vez mais dessa abertura expansiva para evoluir. Possivelmente é essa a razão porque estamos aqui, ou porque está a ler o que escrevi, quer discorde ou concorde. Apesar de cada um se apresentar como um ser individual, existem muitos pontos em comum, principalmente no que concerne à parte espiritual e à evolução como ser humano, independente dos caminhos que cada um percorre para o fazer, quer seja através da pintura, da escrita, da leitura, do desporto, do pensamento, qualquer tipo de trabalho que sirva de embolo para que a alma se movimente e expanda. Pode ser uma conversa simples, sobre coisas simples, mas eu gosto de coisas simples, pois muitas vezes são essas coisas que se tornam o refúgio de um espirito complexo.

Arte e espiritualidade - continuação

Segunda parte
Contar uma história é uma arte, cantar, dançar, pintar, ou fazer outra qualquer manifestação com a alma, é Arte. Tudo isso nos pode conduzir a reflexões profundas e a descobrir muita coisas para as quais ainda não tínhamos sido alertados. A Arte deve abalar, mexer com o intimo, provocar sensações nunca antes ocorridas e em especial que façam sentido e sentir. Diz-se que a arte acompanha a vida e vive-versa. Pois então a cada passo que dermos há que colar-lhe arte para que melhor nos possamos descobrir. Isso representa um passo para o conhecimento de si mesmo, ou seja o encontro com a sua espiritualidade. Nada mais simples e a que todos temos acesso, desde que queiramos e não apenas uns poucos privilegiados, como muitas vezes acreditamos, de uma forma errada. Ou por nos colocarmos à distância ou por nos distanciarmos de nós mesmos. Acreditem que todos têm dentro de si uma centelha de artista à espera de ser iluminada ou acesa, para que possa produzir cor. Não é algo complicado ou transcendente, é apenas olharmos para as coisas de uma forma mais atenta e ver através delas e de nós próprios, sem nos importarmos com: e se os outros não gostarem? Haverá sempre quem não goste do que se faz, ou porque na realidade não está bonito ou bem feito e aí poderemos tentar melhorar, ou simplesmente porque o outro tem uma forma de sentir muito diferente e aí é apenas uma questão de opinião e gosto diferentes. Nada o deve obrigar a gostar, nem a quem faz ou fez desistir por isso, desde que não colida ou interfira de forma impositiva na vida do outro. Apenas devemos respeitar a liberdade de expressão e a liberdade de opinião.
O autor da Vida criou a vida. A vida formou a arte. A Arte voltou-se para o homem e o homem tende a voltar-se para algo que o transcende. Então é neste ciclo que todos nos encontramos. Ora se a espiritualidade é a busca do significado e sentido da vida, e se esta formou a arte, então a espiritualidade também está inserida nela. A Arte será pois a tradução do espirito através da matéria ou doutro meio de comunicar.
Os espelhos reflectem a imagem do rosto e a arte em geral reflecte a imagem da alma. A chamada obra de arte seja ela de que tipo for, é uma personalidade. O seu autor, desde o artista plástico, escritor, contador de histórias, cozinheiro, ou feitor do trabalho mais singelo, desde que elaborado com a alma, vive na sua obra de arte depois dela ter vivido mais ou menos tempo dentro dele. Mas para que isso aconteça e que a sua mensagem possa ajudar a colorir vidas e até o Mundo, deve-se começar em primeiro ligar pelo aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no nosso interior. Isso tira as inseguranças e receios de nos mostrarmos aos outros através do que fazemos, do que somos com o objectivo de não só ajudarmos como sermos ajudados. É a troca. Todos temos algo para partilhar e todos somos artistas.

Arte e espiritualidade

Porque escrever sobre este tema?
Porque o mundo anda tão perdido como neste momento o meu. Para mim, é uma das formas de fugir dele entrando em mim.
Primeira parte
Espero que gostem pois apesar de escrever porque gosto e sinto, a partir do momento em que o mostro, é com a intenção de que alguém também goste ou possa tirar algo positivo do que lê. Vou fazer a ligação entre estas duas palavras. Há quem defenda que espiritualidade não é uma arte e sim um estado de alma, uma filosofia de vida ou um entendimento entre o ser humano e algo que o transcende, e por outro lado a arte, depende do que pode ser visto e é humana. Muito bem também concordo, mas não consigo dissociar as duas. Porque apesar de mesmo que a mensagem contida no trabalho artístico, seja ele de que tipo for, possa estar ligado ao espiritual não deixa de ser visto, ou ouvido e também faz parte de um estado de espírito ou de emoções que se querem passar e passam, se não for feito de uma forma superficial e material apenas. Assim penso que a forma mais bonita e correcta será não as separar e sim torná-las amigas inseparáveis, que comungam da mesma fonte, a alma, o crescimento, a dádiva, a verdade e o dar a conhecer-se. Numa e noutra apesar de a verdade ser apenas uma, a forma de se chegar lá é que pode variar. Na arte uma vez transmitida, o valor e a interpretação, fogem muitas vezes, da ideia de quem as cria, pois cada interpretação dá lugar aos princípios e sentires de cada um. Cada um vê e sente como quer. Assim é com a espiritualidade, cada um é livre de escolher o caminho que deseja para chegar ao que acredita, sem no entanto se desviar da Verdade única. O que interessa é que a mensagem que se deseja passar vá tocar no intimo das pessoas, dando possibilidade de buscar em si mesmas muitas respostas que por vezes nem buscariam ou questionariam.
Sendo a Arte uma forma de expressão ou habilidade de fazer algo, quando se fala sobre ela, encerra sempre uma vertente mística que nos faz mergulhar na alma. Isso é normal, pois cada artista retrata sempre de forma profunda como vê a realidade. É como se visse a alma do mundo e das coisas. Vê para além, retrata a emanação do Ser e da essência espiritual. Falar sobre arte é sempre uma redescoberta, falando daquela que toca a nossa essência, espelhando a centelha da beleza espiritual que existe em cada um de nós.
Os chamados grandes artistas, provam que a sensibilidade, aliada ao talento e com muito trabalho torna possível dizer o indizível e alcançar o inalcançável. É um trabalho por vezes árduo mas que se torna o espelho da própria busca do ser. É a meditação e a contemplação de determinadas coisas, bem simples por vezes, que nos fazem ver muito para além do que poderíamos imaginar.
A arte como actividade humana, técnica ou habilidade, é geralmente entendida como uma actividade ligada à estética e às grandes obras de arte. Também acho, mas não é isso que nos fará menos artistas, por não fazermos parte dessa lista grandiosa. Importa sim que sejamos grandiosos na arte que fazemos e transmitimos, a cada pequeno acto das nossas vidas e em cada dádiva.

Arte e espiritualidade

Porquê falar sobre arte e espiritualidade?