sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DESILUSÃO

Nada de grave acontece, nem se entra em decadência.
Nela, apenas se dissolve o que não presta e é enganador.
São desenganados os sentimentos e a inteligência.
Troca-se as voltas à aparência, vendo-se a realidade e seus danos,
Deixando de ver nas quimeras o alimento da alma.
E deixa-se o efémero partir levando com ele os enganos.
Olha-se o prestidigitador de frente, como ele é e o que emana:
Apenas o engano de si mesmo, que leva os outros à ilusão.
Hábil no manejo, assentando na destreza e a outros auxílios recorre,
Para conseguir mostrar com firmeza, no que é rico sendo pobre.
Da palavra faz a arma que conduz à distracção,
Leva a ver o que não é, para lhe alimentar o coração.
Há que enfrentar a ilusão.
Deixar de ser iluso e enfrentar o ilusor, sofrendo pela desilusão.
Tomando rumo melhor, chegará à conclusão:
A sinceridade é do tamanho que cada um lhe dá,
Podendo não ser sincero, até mentira será.

Dina Ventura 25 de Fevereiro 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

EU APÁTRIDA ME CONFESSO

Perdi a nacionalidade e não encontrei outra.
Sem pátria, sem agrupamento com a mesma origem
Anulo a história e a tradição comum.
Sem organização, nem estado, estou em estado nenhum.
Anulam-se os caracteres que promovem a nação.
Sem origem mas originada,
Sem agrupamento mas em grupo,
Sem tradição, mas com história,
Sem características que me distingam, sou distinta.
Sem laços que me liguem, estou unida.
No lugar onde estou, rodeado ou só.
Não sei se estou ou se vou ficar.
Apenas recordo um lugar distante
Sem nome, nem data para chegar
Onde um dia irei regressar.
Será outra pátria, apenas o meu lugar.

Dina Ventura 24 de Fevereiro 2010-02-24

POLUIÇÃO

Olhando o céu, renova-se a esperança.
Desvio o olhar das máquinas e do progresso.
São técnicas apuradas para a evolução,
Que carregam nuvens negras de destruição.
Olhando a nuvem cinzenta
Duvido que novidade trará
O mais transforma-se em menos
Questiono o que restará.
A Natureza geme, manifesta-se para encontrar solução.
Os rios banham-se em esgotos.
As marés tornam-se negras, para o bem de uma nação.
Tudo corre risco. Tudo é profanado.
Os animais fogem para onde não há salvação.
O planeta com fé no seu azul tenta a renovação.
Embala-se ao som da lava, lutando contra a poluição
E matam-no aos poucos a cada renovação.

Dina Ventura 24 de Fevereiro 2010-02-24

DISFARCE

Vestido de forma a não se ver, nem que seja uma capa
Sendo fino e invisível, pode alterar o que tapa.
Postiço que como uma sombra, tanto ajuda como amedronta.
Como a dentadura. Postiço que ajuda a comer
Mas sempre faz recordar a saudade pelo que substitui,
Mesmo que melhore o parecer.
Sendo o mal disfarçado
Por um bem inexistente
Estando a cura doente.
Se o bem é o oculto e de normas se sustém
Caem as amarras que o provocam
Mostrando as normas do bem.
E assim em ziguezague
Sem muita ponta ou nó
Se comporta o disfarce quando se encontra só.
Refugia-se na saudade do que substitui e não é,
Desejando ser de verdade, sem nunca perder a fé
E nadando em águas profundas para não perder o pé.

Dina Ventura 24 de Fevereiro 2010-02-24

ANGÚSTIA

Com residência fixa na incerteza
Do incerto se alimenta,
Consolando-se e desfrutando prazeres.
Empurra os caminhantes para vielas estreitas,
Apertando-lhes o coração à medida que avançam.
Provoca-lhes aflição e agonia,
E o que não era pensado passa a fobia.
Processo de inquietude metafísica
Sentido através dos tormentos.
Nada pode ser confundido e é,
Manifestando-se em profundos desesperos,
Para os quais não há argumentos.
Do não saudável se desenvolve,
Mesmo que eivado de desejo ardente
Leva à incerteza que promove,
Consegue reduzir o que existe a ausente.
Por esvaziado, oprime e reprime a expansão.
Leva ao vazio do vazio
E à incompreendida razão.

Dina Ventura 24 de Fevereiro 2010-02-24

O SOL



Tela - O SOL - do pintor surrealista Bernardino Costa (B.C.)

Sem rosto, com as feições que lhe queiramos dar,
Tal como a verdade é o sol da inteligência
De génio lhe posso chamar.
Presenteia o dia com a noite
Onde sereno repousa no silêncio da música,
Nos acordes de sol de um violoncelo distante.
Inebria-nos de raios e abre-nos a alma,
Tal como nos cega quando olhado de frente.
Assim é o seu poder.
Principio vivificante de todos os seres.
Sonho perfeito, distância inalcançável,
Que apenas em sonhos se pode penetrar
Sem asas de cera, apenas com intenção maior.
Visível em universos. Rei de vários.
Mas para quantos apontam os raios equilibrados
Como fonte de vida.
Quero sentir em mim o calor do Sol,
Para que a alma transborde a energia absorvida
E espalhe a luz pela noite das estrelas.
Sóis distantes mas que não deixam de ser,
O Sol de outros mundos.

Dina Ventura 24 de Fevereiro 2004

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

AMOR NA SAUDADE

Enquanto espero nada sinto
A não ser a angústia da espera.
Existem sofrimentos por perdas.
Olhos inchados pelas lágrimas vertidas
Ou pela dor de achar que não se sente.
Ninguém acredita no óbvio.
Recusam aceitar o que é certo,
Mas nada podem fazer.
É a hora. Chegou a hora da despedida.
Chamam-lhe partida. Será que é?
Ou será um regresso,
Em hora não coincidente com quem fica?
Sensação de dor sem haver ferida.
Sensação de cura sem estar doente.
Ânsia no encontro sem estar marcado.
Refrescar a mente com o frio da ausência.
Perder o medo na maior ameaça.
Dormir acordado com medo de esquecer.
Aquecer a alma na fogueira apagada.

Dina Ventura 21 de Fevereiro 2010

CANTEIROS DA VIDA

Quando sinto a falta, Procuro.
Se não encontro, Recordo.
Se não tenho memórias, Sonho.
Se o sonho se perde, Fantasio.
Afago o meu ser, em mim
E atraso o relógio do encontro.
Reparo que parou, não anda.
Aceno ao tempo que me espera.
Não sabe quem sou e sim no que me vou tornando.
Sem pressa, caminho pelos canteiros da vida.
Colho as flores, reponho sementes,
Arranco pedaços de ervas ruins
Que crescem, ao acaso, para me fazerem notar
Que nem tudo é perfeito, mas tem de ser feito
Para que o equilíbrio se dê.

Dina Ventura – 21 de Fevereiro 2010

LABIRINTO

Neste espaço minúsculo percorro uma imensidão.
Ando na água até perder o pé
E nado até perder as forças.
Ando em terra e perco o Norte,
Volteando nos caminhos isolados.
Voo no espaço para alcançar o Sol,
Mas situo-me no que arde, para não me perder.
Saltito no fogo em busca de calor,
Da luz que me guiará através dos elementos.
É com eles que me embrenho na densidade
A que o labirinto me reduz.

Dina Ventura – 21 de Fevereiro 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

MOMENTO

Curto espaço de tempo seja de dor, desejo, desalento, tortura, paixão ou amor.
Tempo ou ocasião em que algo se faz ou acontece.
Então o que significa na realidade? O que o promove e incita?
Há que aproveitar sempre? Há que ocorrer sempre?
Depende da importância, da urgência ou do acaso ou do encaminhamento da força para tal?
Tanta interrogação para certos momentos, quando apenas relacionados com os eixos de balanço tendente ao equilíbrio.
Linguagem confusa, para o movimento de oscilação e de vaivém.
Tal como as forças aerodinâmicas que se exercem sobre o alvo.
Mas também do momento da força, em relação a um ponto, resultante da sua intensidade, da distância e da sua direcção.
Para muitos, é a crise final de que resulta a solução ou desfecho. Teve por consequência, um anterior acontecimento de outros momentos para conduzirem a ele.
O momento da força em relação a um ponto é chamado de Centro dos Momentos.
É um valor absoluto. Sendo o centro, quer dizer que muitos formam um, ou que os outros nada contam até ao centro! Mas sempre contam.
Mas momentos também significam, quem faz momice, trejeitos naturais ou estudados.
No fundo e de forma figurada, tudo poderá não passar de um disfarce e de uma hipocrisia.
Será que por isso, para o bem e para o mal, sempre se diz: Há que aproveitar o momento? Estará implícito o absoluto do qual nada se sabe e de onde resulta o frustrante vazio de e apenas, o preenchimento do momento? Não aumentará ainda mais o espaço esvaziado de conteúdo?
Então elevemos o momento ao seu estado de circunstância, de acaso e por acaso. Apenas isso. Só nos resta entender, que apesar da vida ser mais do que momentos, a cada momento, não a transformemos num momento apenas.

Dina Ventura 6 de Janeiro de 2010