quinta-feira, 9 de abril de 2009

MEMÓRIAS da ilha azul

Há alguns anos escrevi um poema,ou pseudo, que nunca imaginei fosse publicado. Mas foi. Vou transcrever um pouco:
"Ilha azul
Sabem o que significa escrever para mim?
É a forma mais bonita que tenho de transmitir o que sinto.
É uma paz suave envolta numa luz clara e límpida.
É um lago de água muito transparente e azul deixando aparecer um fundo lindo, cheio de plantas de um verde divino, salpicado de flores de um vermelho fogo.
Gotas de orvalho nesse mundo irreal. Vida, muita vida.
Correm velozes todos os animais marinhos, a meu lado.
Castelos de uma fragilidade sólida, pintados de fresco, com tabuletas de felicidade.
Que tinta é esta? Não é tinta porque neste mundo tudo já é cor, que se reflecte na terra.(...)
Há também muita muita luz, é um mundo diferente que também não tem gente.
Mas tem árvores, aves, animais, flores e muita cor.
Como se chama? (...) talvez fique para Além. Para além, que quer dizer, bem perto de nós. Dentro de nós e chama-se Ilha Azul. Vamos continuar. Dina Ventura "nas asas do vento encontrei Orixá.

Este voltar atrás fez-me recordar a solidão feliz da época, a fuga através da fantasia para não encarar a realidade e por ainda não ter conseguido encontrar o meu "eu", ou melhor não estar preparada para acreditar nele e achar que era um sonho que só poderia existir num mundo onde as pessoas não tinham lugar. Como estava enganada. Foram as pessoas que me ajudaram a descobrir que esse mundo realmente existe, está em mim, é real e verdadeiramente vivido. Às que me ajudaram a vê-lo de uma forma por vezes dolorosa só tenho a dar o agradecimento maior, pois foram elas que me prepararam para o presente. Fortaleceram-me para não permitir que as maiores avalanches não destruam, nem tirem a transparência a esse mundo ou ilha. Muito grata a todos para que eu o encontrasse de Verdade e não sonhasse apenas com ele. Procurem-no porque ele está aí bem perto bem dentro de cada um. São donos de uma ilha! A cor cabe a cada um escolher a que mais gostar. Não percam tempo, apesar de eu saber que só o tempo fará com que a encontrem. Mas procurem. Começo de uma bela Sexta-Feira Santa.

RECOMEÇO

Tudo tem começo e meio. O fim só existe para quem não se apercebe do recomeço.

A vitalidade revela-se não só na capacidade de persistir, mas também na de começar tudo de novo.


Recomeço.

Nada é tão doloroso, como a espera por algo que não chega.

Quando não se consegue compensar o que não se tem.

É um desejo crescente, doloroso.

Um desejo sem objectivos que leva à desistência.

Não se deve desejar o que não se sabe existir. Mas em mim é uma doença, algo me atrai ao nada e vou-me ferindo, martirizando. É como se conseguisse chegar ao que não existe.

É assim que se vive. Esquecemos de fazer a pergunta: Para que sou? Será que sou só por ser?

Não posso aceitar! Tudo o que me mostram é ilusão. Há que encontrar o outro lado. Esse é que existe porque doutra forma qual o valor da existência? Recomeço.

SACRIFÍCIO

A lágrima é a irmã triste do sorriso. Só conseguirá compreender o que é um sentimento, quem lhe tiver sacrificado uma parte de si próprio, quem tiver lutado para o salvar e sofrido para lhe dar beleza e vida.

Movimentos da alma

Movimentos da Alma.

Provocam uma dor, que não o sendo, desperta o interior dolorosamente. Tenta sair, exteriorizar-se e embate na parte interior do corpo de forma violenta, como uma pedra envolta em veludo.
Todo o ser se movimenta e agita numa avalanche incontrolável. São as emoções fortes que nos tornam frágeis, mas são elas que nos fazem vibrar com e para a vida.
É algo que começa de mansinho, ganha volume e velocidade, dando a sensação de vertigem ou, que se não se conseguir estancar esse movimento, nos afundamos nessa onda que se apresenta imensamente poderosa e que nos poderá derrubar e destruir.
Há que ganhar fôlego, inspirar o mais profundo mesmo em dor, encher os pulmões de oxigénio na maior quantidade possível, para ao mergulharmos nos protegermos do embate e não morrermos de falta de ar. É algo imenso, intenso que só pode ser explicado através da alma e dos seus movimentos. Sempre que ela se movimenta dói de forma apaziguadora. Entra na mente e desfaz e transforma os significados de todas as palavras criadas pelo Homem. Ela transcende todos os símbolos e destrói todas as composições elaboradas e estruturadas no tempo. Provoca revoluções interiores que nos deixam atónitos, sem entendimento ou razão. Olhar a alma significa olharmo-nos sem medo, mas receosos dos nossos sentidos. Há o pôr em causa comportamentos, atitudes e questionando a própria vida das partidas ou provas a que nos submete. É o sentirmo-nos envolvidos por uma força misteriosa que nos supera e faz com que sangremos para a conseguirmos controlar.
Sempre se sabe o que é, costumam dizer os especialistas, mas e quando na realidade nos questionamos e não encontramos respostas? Porque envolvemos outros nas nossas dúvidas, medos e inseguranças e porque lhes atribuímos a origem dos nossos tormentos? O ser humano reage a si mesmo nem sempre duma forma verdadeira e corajosa. Esconde-se atrás de si mesmo, provocando um desdobramento desumano que o desprotege ainda mais. De quê? De nada em especial, porque o não se sentir protegido é por não ter os apoios internos necessários, ou pelo facto dos alicerces estarem pouco profundos e não conseguirem aguentar a estrutura se a tiverem construído e erguido em desacordo proporcional às bases.
A sustentação do ser é tão leve, permeável e frágil, que ao menor descuido pode desabar. A isso se chama viver, crescer e sentir, sentindo-se. Isto é um testemunho.