quinta-feira, 11 de junho de 2009

À LUZ DO QUE SE NASCE - E TU COMO TE CHAMAS?

Começo por vos falar de um episódio muito recente que considero especial devido à paz fora do comum que me transmitiu.

Estava sentada num banco de pedra, num jardim junto a um lago natural. As cores que me rodeavam eram muito intensas ou então os meus sentidos é que mo proporcionavam; o azul forte, quase petróleo do lago, emoldurado por um verde-escuro aberto, salpicado de várias tonalidades, a relva, os juncos bastante altos ondulantes com a brisa suave e o tecto dum azul claro intenso. Debruçando-me um pouco chegava à água que de tão parada me devolveu em reflexo. Sem susto reparei numas rugas e num rosto a que já me habituei encaixando-o no tempo. Mas ao lado do meu vi o de uma menina, era um rosto muito bonito, de olhos expressivos e sorriso nervoso. Olhei-o um pouco mais e voltando-me encarei uma criança de seis ou sete anos, magra e vestida de claro. O vestido era cor de grão com uma gola branca redonda, aberta à frente, donde saía uma tímida fita de veludo preta formando um laço um pouco desfeito. Franzido na cintura, deixava ver umas pernas magras de joelhos proeminentes e acima deles a continuação da magreza. O conjunto era rematado com um casaco de algodão da mesma cor, umas meias brancas pelo meio da perna, descaindo um pouco para cima dos sapatos pretos de verniz, que se seguravam nos pés frágeis, apenas com uma tirinha do mesmo material, presa por uma fivela.

- Olá!

- Olá que estás aqui a fazer? - Respondi.

- A olhar para ti! – Respondeu com a verdade e segurança duma criança, como a criticar levemente a pergunta para uma resposta tão óbvia.

Sorri, fazendo-lhe crer que tinha percebido a mensagem, ao que me respondeu:

- Posso ficar aqui contigo e contar-te uma história?

Acenei afirmativamente para que não me saísse nada do género: onde está a tua mãe, como te chamas, porque estás assim vestida. Sentou-se ao meu lado sem esforço, apesar de ficar a balouçar os pés, pois não conseguia que chegassem ao chão e começou:

“Era uma vez uma menina que quando nasceu foi viver com os pais para uma casa muito grande, que era dos avós. Enquanto não sabia andar, conseguia percorrer todos os sítios e ouvir todas as conversas. Ouvia a avó a discutir com o avô, não percebendo sobre o quê, mas às vezes parecia-lhe ser por causa da sua mãe e do pai. A discussão girava à volta da idade da mãe, que era muito nova e que não devia ter tido a menina, que ainda por cima o pai não prestava porque não gostava de trabalhar e que nunca tinha dinheiro, nem para comer, quanto mais para dar de comer às duas. A menina ficou muito intrigada, mas então se não a queriam porque a foram buscar e donde teria ela vindo?

Não conseguia equilibrar-se nas pernas, estava sempre deitada. Perturbava-a muito o facto de sair dali, sem sair. Era estranho porque ficava sempre no mesmo lugar, mas conseguia ver o que se passava nos outros espaços onde as pessoas falavam. A avó não fazia assim porque quando vinha ter com ela a menina ouvia sempre o som dos seus passos e via-a quando chegava, mas a ela ninguém via. Por isso é que a deixavam sempre sozinha, achavam que estava sempre no mesmo lugar, sabiam o que estava a fazer e não precisavam de estar ao pé dela...quando a entendessem iria perguntar, porque seria ela assim? Também gostava de poder andar e correr com as pernas. Mais uma pergunta era registada no bloco mental.

Assim os dias foram passando até que acordou sem conseguir respirar. O que estava a acontecer? De repente a avó entrou e o ar chegou até ela. Estavam aos gritos e a avó a dizer que o pai a estava a sufocar. Seria verdade? Não a quereriam ao ponto de lhe tirar o ar? Não podia ficar mais tempo sem utilizar as pernas. Foi treinando e sem a ajuda de ninguém, com apenas oito meses, apostou que seria capaz de descer aquela escadaria enorme de madeira e ir ter com a avó. E foi. Lutando contra algo que a puxava para o chão, decidiu com esforço virar-se de costas e descer ao contrário podendo assim segurar-se e lá foi. Quando a avó a viu começou a gritar como se ela tivesse feito algo de mal, mas depois começou a dar-lhe beijos. Foram todos ver que já andava. A menina apercebeu-se que pareciam contentes por ela ter feito tanto esforço para chegar ali pelo chão. A sensação é que quanto mais conseguia andar, menos conseguia desclocar-se pelo ar. Para ela a casa era enorme, era antiga de paredes muito grossas e muito altas. Brincava no pátio, recinto que ladeava toda a zona fronteiriça e tinha no centro uma pedra enorme. Descia por uma escadas de pedra para uma zona ainda maior onde estavam umas casas pequenas, de um lado e do outro, já sem telhados e que a avó dizia serem casas de pombos, “antigamente haviam pombos, agora não há nada...” e sem terminar a explicação avisava-a que não podia ir para lá “porque lá estavam bichos”. Esse pátio terminava ao fundo por um portão enorme de ferro, muito alto, que a separava dum mundo que nem sabia existir, mas que por vezes ela ultrapassava sem necessidade de o abrir, esgueirando-se por entre os ferros grossos. O que mais prendia o olhar da menina naquele portão, não era o cadeado que substituía a velha fechadura, nem os salpicos de ferrugem que o tempo lá tinha colocado, mas sim, lá bem no alto um boneco ou melhor, dois cavalinhos apoiados nas patas traseiras que lhe davam um pouco de vida. Que seria aquilo?

- Vó...eu queria aqueles bonecos...” dizia, mas a resposta era sempre a mesma:

- “Não te atrevas a subir o portão, aquilo que lá está é um brasão e ninguém o pode tirar!”.

Intrigada, naquele momento só desejava saber o que seria um brasão e ia puxando o avental da avó insistindo. Apesar da pouca paciência e num tom áspero que lhe era peculiar, não por não gostar da neta mas sim mostrando a sua raiva contida contra os dissabores da vida, respondia-lhe deitando um cesto de erva, talvez serralhas, para dentro da capoeira dos coelhos:

- “ Quer dizer que esta quinta já foi de reis, viveram aqui, mas que não tinham de trabalhar como eu, não faziam nenhum e...”

Assim continuava a ladainha que aos ouvidos da menina soava a música que ia embalando os seus sonhos de criança. Olhando o velho brasão enferrujado sentia-se uma princesa e orgulhava-se de viver ali, só não entendia porque era a avó tão amarga e porque trabalhava tanto que nem tinha tempo para brincar com ela.

Mais uma vez a voz da avó a embalava enquanto atravessava o pátio e se ia refugiar junto de uma zona muito verde. O chão forrado de trevos, que para sua triste sorte eram de três folhas, sentava-se de pernas cruzadas olhando para o infinito e imaginava como seriam as coisas fora dali. Sabia que era pequena demais para entender, como sempre a avó dizia, mas sentia que alguma coisa se passava de errado. Um dia tinha de saber.

A avó um dia comentou que um homem tinha sido morto quando tentava subir aquele portão. Quem seria? Um dia ainda descobriria. Morto? Não entendia o que era morto, possivelmente seria ir embora para longe, para além daqueles montes e serras que rodeavam a quinta. Podia ser, mas ali ela estava protegida. Às vezes transpunha o portão para ir brincar com uns meninos guardadores de rebanhos. Gostava de brincar com eles. Eram três irmãos: um rapaz que coxeava muito e duas meninas. Brincavam às casinhas, às escondidas, à apanhada, ao jogo da cabra cega e muitos mais, que a menina só conhecia porque eles lhos tinham ensinado. Quando a brincadeira estava na melhor parte, a avó aparecia sempre a gritar por ela e lá terminava a felicidade da menina, voltava para casa de lágrimas nos olhos, pois durante mais uns dias não teria ninguém com quem brincar.

Ia para casa e por vezes sentia medo, principalmente quando se lembrava das coisas que a avó lhe contava sobre espíritos que falavam e faziam barulhos. Não sabia ao certo o que eram espíritos mas dizia-lhe que eram os mortos que voltavam para atormentar os vivos. Mas que tinha ela com isso? Seria o que morreu no portão? O seu pequeno coração disparava.

Assim os dias foram passando e depois já ninguém ligava porque a menina andava, nem deixavam, porque estavam sempre a chamá-la para ver onde estava e queriam que ela estivesse sempre no mesmo sítio. Então para que servia andar? Mas ela não ligava, fugia e ia subir às árvores, comia os frutos e gostava muito.

Certo dia estava a brincar junto das escadas grandes e viu duas pessoas que nunca tinha visto lá em casa, já eram velhos. Seriam amigos da avó? Mas eles conheciam-na e começaram a conversar com ela. Já estava assim, há um bom bocado, quando a avó chegou e lhe perguntou com quem estava a falar. A menina disse-lhe com quem era, apontando para o casal de velhos e ficou sem entender quando a avó lhe respondeu que não estava ali ninguém e o que estava a ouvir eram as pessoas a passar atrás da casa. Ela perguntou se não os estava a ver ao que a avó respondeu que não, estava era a ouvi-la falar sozinha. A menina ficou sem reacção e não entendia porque é que a avó lhe estava a fazer aquilo e apenas disse que os senhores lhe estavam a dizer que um dia a avó ainda iria acreditar nela. E assim foi, passado um tempo eles voltaram, a menina foi a correr chamar a avó e então falando com eles pediu-lhes que dissessem à avó porque estavam ali. Estavam, segundo eles, para lhe fazerem companhia e tomar conta dela. A avó não queria acreditar mas não havia dúvida ouviu o que disseram, mas se não havia ninguém...e olhando para onde a menina apontava, não via, apenas sentiu um arrepio e o ar gélido.”

- Queres ouvir mais? – Perguntou a menina tocando-me de leve no braço.

- Queres contar? – Reagi apanhada de surpresa e mais uma vez de forma não correcta ao que respondeu.

- Não foi isso que perguntei, porque para que eu possa contar tu tens de querer ouvir.

- Desculpa, quero sim, quero muito.

Lançou-me um sorriso condescendente, como a dar-me mais uma hipótese e continuou balançando apenas o pé direito:

“A menina nessa altura sentia-se muito só porque o pai já não morava ali. A mãe morava mas quando perguntava onde ela estava, a avó se estava bem disposta respondia-lhe que tinha ido trabalhar, se estava mal que não estava porque não queria saber dela para nada e que a tinha deixado com ela só para lhe dar mais trabalho. Tudo era muito estranho para a menina. Nunca respondiam ao queria saber e quando falava sobre alguma coisa, ninguém acreditava ou lhe dava atenção, era tudo muito estranho.

Uma noite acordou ao som de vozes alteradas, mas teve a sensação de não ser com ela. Apurou o ouvido e muito quieta apercebeu-se do que era. Ouviu o avô dizer para a avó:

- Você é que tem a culpa...é um inferno, essa miúda é um diabo, será que vai ser assim a vida inteira?

Num tom abaixo, mas fazendo-se ouvir claramente, a avó dizia-a:

- Mas será que não tens coração? Que culpa tem o anjinho se o pai e a mãe são assim?

Que queriam dizer com aquilo? A menina não entendia, para um era um diabo, para outro um anjinho e os pais são assim como?

Os dias e anos foram passando entre o temor e a liberdade. Já não era bebé e a avó disse-lhe que tinha de ir para a escola. Não fazia ideia o que era, apenas sabia que tinha outros meninos para brincar e que viviam com os pais e não com os avós como ela. Sentava-se isolada e pensava nos pais, não perguntava nada à avó pois já sabia que a resposta não era boa e seria igual à das vezes que se atreveu a perguntar:

- A tua mãe é uma desnaturada e o teu pai outro que tal, não querem saber de nada e eu que aguente isto... – dizia a avó como que acusando a menina de tudo aquilo.

Pelo que conseguia entender era chamada de nada e de isto. A um canto questionava-se porque não a queriam os pais. A avó dizia que eles não estavam juntos, que não sabia do pai dela e que a mãe dizia que andava a trabalhar mas que queria era passear, que não lhe ligava nenhuma, até se esquecia que tinha uma filha e se não fosse ela não sabia o que seria...e por aí fora, até a cabeça da menina já não aguentar mais. Mas como a mãe se esquecia dela? Seria por estar cansada? Talvez, porque nem tudo o que a avó dizia estava certo, a mãe trabalhava e até já a tinha levado lá.

Era um lugar muito bonito e as pessoas eram muito diferentes, importantes, dizia-lhe a mãe. Tinha medo deles porque era sempre avisada para se portar bem, não incomodar, não ir para lado nenhum, não sair dali. Sentia-se triste porque descobriu que existiam lá coisas muito bonitas. Havia um salão muito grande que entre tantas coisas novas tinha um piano preto que reluzia como que a chamá-la. Mas a menina não lhe podia tocar, nem sabia, mas pelos menos podia sentir aquela boca com dentes pretos e brancos a rirem-se para ela. Perguntava-se porque não tinha nascido a poder fazer coisas e a tê-las. Esquecia rapidamente essas questões enquanto atravessava, às escondidas, aqueles salões e ia ver os peixes que se encontravam num lago que estava dentro de casa. Achava-o lindo e ficava ali horas a imaginar, da mesma forma que o fazia junto ao lago das avencas na quinta onde a avó morava. Não via grande diferença, apenas o facto de estar dentro de casa.

Mas uma coisa muito mais importante a prendia àquele lugar. Era a tia, irmã mais nova da mãe. Ela tinha casado muito nova como dizia a avó e tinha ido viver para aquele sítio porque o marido trabalhava lá, com os cavalos. Por isso arranjaram trabalho à mãe da menina, que se deliciava no picadeiro a olhar aqueles animais, que como o tio lhe dissera eram de competição. Gostava muito da tia e por isso às vezes não gostava de ir lá a casa, porque os ouvia discutir muitas vezes. Só o facto de gostar muito daqueles animais fazia com que na altura tudo fosse ultrapassado. Aquele lugar tinha coisas diferentes, desde a comida aos cheiros, tudo que fazia a menina sonhar. Mas as visitas lá eram muito poucas e depressa acabavam, depois tinha de voltar para os avós e apesar de gostar muito deles, em especial da avó, sentia-se muito só.

Mantendo-se ainda imobilizada naquele canto onde se refugiava tantas vezes e com o pensamento quase tão dormente como o corpo, continuava com perguntas que lhe fervilhavam na pequena cabeça, sem no entanto encontrar as respostas. Sentia-se rejeitada, diferente dos outros meninos e às vezes fazia de conta que tudo estava bem. Tinha os pais junto de si, que todos gostavam dela, que não se sentia só...e adormecia embalada por todos aqueles pensamentos.

Era uma criança solitária. Refugiava-se no seu mundo, habituando-se aos poucos a viver nele e a sentir-se confortável, pois tinha vergonha e medo do mundo real. Era um mundo para ela muito feio, cheio de proibições, rejeições, mentiras e gritos. Não entendia o que eram essas coisas. Iria crescer? Se isso acontecesse como seria?

Um dia a mãe da menina, que pouco estava com ela, disse-lhe para se preparar porque iriam à praia. Nem queria acreditar, praia! Não sabia bem o que era, mas podia brincar e tomar banho na água com sal e saltava de tanta alegria com tão pouco. Mas para a menina era tudo: ir à praia com a mãe. Ainda não tinha acabado e então disse-lhe que para ir com ela tinha de se portar bem e que não podia chamá-la de mãe.

- Ouviste, não podes chamar-me de mãe, trata-me por tia, lá eu sou tua tia!

A menina abrindo a boca e os seus grandes olhos, acenava com a cabeça afirmativamente, sem conseguir falar ou entender. Porque seria que a mãe lhe diria que não o era na praia? Mais uma vez não percebia e sentiu um grande aperto no peito.”

- Gostaste?

- Ai que susto! Acabou a história? – Balbuciei.

- Porque nunca respondes ao que te pergunto?

Olhei discretamente para a posição do sol e notei que já se tinha passado algum tempo, depois perguntei-lhe, enquanto me levantava:

- Como se chama a menina?

- Tem todos os nomes! – Respondeu – Mas gostaste?

De costas para ela e enquanto olhava a água azul respondi:

- Gostei muito, senti muito... – pensava como uma criança tão pequena podia ter contado uma história assim! Reagindo, perguntei voltando-me para ela:

- E tu como te chamas?

Fiquei sem resposta e constatei que já não estava ali. Fiquei sozinha com os meus pensamentos, perguntando-me como teria desaparecido tão rápido, mas fiquei com a certeza que aquela menina era uma Luz e que se continuasse a contar histórias daquelas, poderia aquecer muitos corações.

(in: nas asas do vento encontrei orixá) Dina Ventura


A CHAMA DA MINHA VIDA

O meu refúgio, sou eu, aberto ao Mundo.
Não tenho nada de meu, a não ser o eu que sou.
Não quero nada do que não tenho, do que tenho, ou do que sobrou.
Quero apenas Ser, existir sem existir, para conseguir Ver e Viver.
Não me interessam filosofias, descrições, mandamentos ou padrões.
Mas é com tudo isso que aprendo, me corrijo e repreendo.
É o caos. O absurdo do viver em estado de sítio.
Nada compensa porque nada é para ser compensado.
Mas tudo é para ser feito, para equilíbrio de compensação.
Ninguém se interessa pelo que não quer,
Mas passa a vida a lutar com isso. Perde o tempo nas lutas do não querer
Deixando o que quer na agonizante espera.
Estou farta de ser assim, farta do meu corpo físico, incapaz e incompetente.
A minha alma não merecia isso.
Merecia alguém que a conseguisse entender,
Explicar, descodificar e não fazê-la rodopiar.
Não chego para ela, eu sei, mas que posso fazer?
Tenho tentado de tudo, mas sinto a incapacidade do meu ser.
Não sei se é ela que me quer vencer,
Se sou eu que por teimosia não quero perder.
É uma luta inglória, que apesar de tudo
É a chama da minha Vida!
Dina Ventura – 11 de Junho de 2009

O DESPERTAR DA RAZÃO




Tenho os sentimentos magoados. Não, não é isso, é…sentidos.

Porquê? Porque quiseram juntar-se todos numa só ocasião

E realmente deu uma grande confusão.

O espaço era pequeno para tantos. Acabaram por se acotovelar,

Querendo passar à frente de outro e mais outro, para verem

Aquele que cada um deles achava o mais importante. Mas como são tantos,

Quantos tantos importantes existirão? Até o que foi para ver o seu

Se tornou importante e primeiro para outro. Mas nada disso entenderam.

Apenas pensavam e não sentiam e todos queriam falar e ter razão.

Não se entendia, como sentimentos, apesar de diferentes,

Não pensassem no que são.

Como pode ser, querer ser o que não é e sim o que um outro será?

Não pode. Primeiro terá de ser, para depois conseguir perceber

E até poder vir a ser, o que outro sentimento seria.

Não o mesmo, porque esse é outro, mas o seu, pois nenhum cabe no que não é.

A razão não é sentimento, mas é. E misturou-se, sentou-se e reacendeu a discussão.

Seriamente convencida que tinha a solução.

Mas não, não tinha porque cada sentimento da razão não chegava

Para explicar a razão de cada sentimento.

Assim sentimentos e razões não se entendem, enquanto não entenderem

Que talvez a luta que travam entre si, não deixam de ser sentimentos!

Os sentimentos despertam

As razões alertam

Os sentimentos iludem

As razões desiludem

Os sentimentos sonham, as razões acordam, mas esquecem-se

Que os sentimentos despertam a própria Razão!

Dina Ventura – 11 de Junho de 2009

QUERO PARAR - CONECTADA NA DESCONEXÃO - A ESSÊNCIA DO CHORO

by: dv

Hoje a alma chamou-me à razão!

Fez-me sentir de forma pesada o trato que lhe dou.

Senti-me humilhada perante ela, quando me fez sentir de forma profunda

Que sou única. A única que não quero ser!

Sinto-me desamparada, desprotegida e questiono o que afinal

Querem de mim!

Se sou e não pareço ser, que posso fazer? Não sei!

Sou confrontada comigo e choro porquê?

De tristeza? Não. De medo? Não. De estar perdia? Não.

Então porque choro? Não consigo explicar.

Raiva não sinto… tenho apenas ânsia de saber…

Vontade de me conhecer para Conhecer.

Sinto que tenho algo em mim que não me pertence…

Talvez seja isso que me faz chorar…ter em mim algo que não é meu.

Não estou a escrever para ser poesia, prosa poética ou coisa nenhuma,

Ou o que lhe possam chamar!

Estou apenas a chamar até mim, o que me está sempre a escapar!

Só me foge porque não sei o que é, mas sei, só não sei explicar!

Que faço aqui? Para que estou? Sempre fiz esta pergunta e

Ainda não sei ou não me convenci!

É um desprendimento total, algo dentro de mim me puxa para lá

Tirando-me daqui.

O escrever faz-me contactar comigo, faz-me entender

Faz-me não enlouquecer!

Não sei se sinto, se existem os sentires,

Não sei o que sou e sei, mas acho que nunca saberei.

Pois quando parece que sou, deixo de ser! Não consigo entender!

Mas sei que sou verdade, sinto-a dentro de mim.

Só não sei como a usar e se tem algum fim…

Já chorei de raiva, de amor, de tristeza, de alegria,

De dor e de pura cortesia.

E agora porque choro se não sei porque o faço?

Será que a essência do choro é isso mesmo e apenas?

Fazê-lo sem sentir ou permitir e deixá-la fluir?

Sinto-me embalada nele provoca-me sono, cansaço exterior…

Preciso repousar. Parar o meu físico para a alma se libertar.

Vou dormir e sem horas para despertar.

Talvez quando regressar ela me traga as repostas que estou a precisar.

Não a consigo entender, o ver apenas, apaga-me a Visão, a compreensão.

Quero ver doutra forma, com outro tipo de visão.

Quem sabe se aí, tirarei a conclusão.

Não sei se me lêem, mas isto não são palavras.

São emoções, são sentires profundos

De uma alma andando pela imensidão

E deixa o corpo que habita numa grande confusão.

Sem rumo, sem utilidade e sem opinião. Afinal que Querem de mim?

Não estou a percepcionar, preciso doutra Visão.

É dura esta luta…entre mim, eu e a Razão da razão.

Despedaçam-me. Em fracção de segundos, fazem com que percorra mundos.

Como posso captar? Concluir, definir, entender e aceitar?

Não me sinto eu, sou outra ou outras, mas que sei serem a mesma!

Porque se partem? Porque se dividem sem me respeitarem,

Ou pelo menos pensarem no que provocam. Acho que pensam e sabem

E por isso o fazem, para que eu aprenda a lição que me querem ensinar.

Mas hoje não queria aprender, queria apenas ser

E por isso vou dormir. Não são horas para isso!

E que tenho eu com isso?

Não quero saber, não quero ouvir, não quero ler, nem pensar.

Quero parar!

Dina Ventura – 11 de Junho de 2009