sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

CONJUGAÇÃO DOS VERBOS


Hoje não estou contrariada
Estou no amanhã se chegar
Porque a raça humana é a culpada
Se tudo isto acabar.
Não entendo o que pretendem
Porque não respeitam a Vida
Porque não pensam nem medem
Os gritos da Terra aflita.
Não há respeito pelos demais
Nem pela Mãe natureza
Não passam de irracionais
E perde-se toda a beleza.
Os verbos são conjugados
Sempre na primeira pessoa
Mas nunca analisados
Por causa nobre e boa.
O quero vai aumentando
Mas perdendo o rumo certo
Porque se vai transformando
Na posse do que é incerto.
O posso desmanda o respeito,
Desajusta e vai desequilibrar
Se o actuar não encontra jeito
Ou forma de reajustar.
O fugir adoptou a solução
Para descurar responsabilidade
O fingir não presta atenção
Para o desculpar ter facilidade
E nesta desenfreada conjugação
Dá-se o tempo nos tons da moda
Desnotificada de argumentação
Desculpe…
Deixe não incomoda!

Dina Ventura - "Only me"

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CRIATURAS PRIVADAS DO POSSÍVEL


Criaturas privadas do possível.
Olhando de relance para a frase
Nada me diz,
Apesar de tudo conter.
Quando olhamos para algo
E não se consegue decifrar
Que fazer?
Desistir?
Ou simplesmente desmontar?
Ver peça a peça
Ao mais ínfimo pormenor
Para poder continuar?
Pois é o que vou fazer.
Ao pegar nas criaturas,
Transformo-as numa
E passa a significar
Cada um dos seres Criados.
Homem
Ser
Pessoa
Que no sentido figurado
Muito deve a outrem
E lhe é inteiramente dedicado.
Tenho orgulho em ser criatura e privar.
Pois privada
Também significa coisa íntima,
Privativa, só sua.
Assim privar com
Ou seja
Relacionar-se com o possível
Que simboliza o que pode ser
Que é praticável
O que pode acontecer.
Pode ser com empenho,
Esforço, diligência,
Esmero e inteligência.
“Deus criou o melhor dos mundos possíveis”
Esta máxima do filósofo Leibniz
Exprime tudo o que contem.
Que cada um, à imagem do criador
Promove o melhor mundo,
Dentro do que o seu entendimento
Concebe como possível.
E aí está:
Só possível quando se trata de uma criatura.
Pois quando passa a plural
Tudo se torna mais difícil
Porque cada uma delas
Realiza o melhor no seu mundo possível!
Mas como a cada um cabe o seu
Nem sempre o possível o é.
Tornam-se, quem sabe,
Personagens, actores da realidade,
Onde desempenham o papel que lhes cabe.
E de verdade, na irrealidade,
Assim desconectados
Privam-se do possível
E navegam no inconformismo existencial,
Das criaturas privadas do possível!

Dina Ventura - "Only me"

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

EU EM MIM


Gosto muito de pensar
Ver onde o pensamento chega
Ir atrás dele e voar
E vê-lo desaparecer

Brinco às escondidas com ele
Enquanto o tento decifrar
E quando chego bem perto
Acabamos por nos encontrar

E assim de mãos dadas
O pensamento e Eu
Fazemos longa caminhada
Até onde o Sol se escondeu

Ai, sentamo-nos em silêncio
No recato da imensidão
E lemo-nos sem questionar
Porque o tempo se perdeu
Sabemos que se ausentou
Para que ficássemos a sós
Porque sabia deixar
O que restava de nós.

Dina Ventura - "Only me"

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ARCA DO INFERNO


Símbolo de cultura
Mesmo sem tampa
Remete-nos
Ao último recurso de salvação.
Passa a peito aberto
Muitas mentiras e dissimulações
Que poderão remeter ao Inferno.
Sempre de sentido dúbio
Pode guardar ou conduzir
Para águas turbulentas
De chamas castigadoras
Enquanto conduzem a vida
Por caminhos escusos
Transportando as almas
Para a escuridão do fogo
E do castigo.
Mais cedo ou mais tarde
Apresenta o que guarda
Ou aguarda
No fim do caminho.

Dina Ventura - "only me"