terça-feira, 20 de abril de 2010

CORAÇÃO


De órgão oco, a músculo.
Se sentimento moral a afecto
Sede de resíduos no crepúsculo
Guarda o que está longe, bem perto.
Coração
Aperto no peito e pulsação
Generoso, mas frágil no amor
Amolece um pouco a razão
Derrete o gelo com calor.
Coração
Tanto se zanga como acalma
Perde o ânimo mas acalenta
Expressa o sentir da alma
No âmago que representa.
Coração
Do efeito de corar
À varando do afecto
Na árvore faz brotar
O que lhe parece certo.

Dina Ventura 20 de Abril de 2010

QUERO



Que nasça de mim o que sou.
Buscar em mim a essência
Tratar do que brotou
E olhar-me em consciência.
Quero
Partir para qualquer lugar
Alcançar o imenso do Ser
Poder erguer a voz e gritar
Partilhar o meu bem-querer.
Quero
Atravessar o azul do céu
Ir ao infinito buscar
O que por direito é meu
Mesmo sem alcançar.
Quero
Marcar encontro comigo
Repousar na imensidão
Não esquecer quem é amigo
Deixar de lado a solidão.
Quero
Repartir o que alcançar
Mesmo o que não sei possuir
Porque me refugio no dar
Sem precisar exibir.

Dina Ventura 20.4.2010

SEI


SEI
Que não quero ficar
E que não quero partir
Só pretendo partilhar
Sem necessidade de ir.
Sei
Que não se pode alcançar
Sem esforço no querer ir
E quando se consegue ganhar
É o momento de partir.
Sei
Que nada possuo nesta vida
A não ser, o Ser que sou
Mesmo que esteja perdida
Sempre sei onde estou.
Sei
Que quem percebe não entende
Que perceber não é nada
Que no sentir está o Ser
Capaz de falar em voz calada.

Dina Ventura 20 de Abril 2010

ESCREVO
Para conseguir descansar
Deixando a palavra correr
Permitindo que vão desaguar
No mar que as quer ler.
Escrevo
Sem medo do sentir
Mesmo numa rota incerta
Indo apenas por ir
Deixando a alma liberta.
Escrevo
Sem pensar no verso
Nas regras do que é bonito
Nem que saia o reverso
Mas respeito o que é dito.
Escrevo
O que alguém me dita
Sem sequer saber quem é
Aposta em mim na escrita
Por isso me quer de pé
Escrevo
Com fé na alma de índia
E em princípios seculares
Sentindo que alguém me guia
Para que veja os pilares.
Escrevo
Seguindo as regras naturais.
Sem medo e em liberdade
Enquadro-me nos ideais
Dum povo que não tem idade.
Escrevo
Que sendo índia de coração
Agradeço ter nascido
Para mostrar a gratidão
Pelo meu povo desaparecido.

Dina Ventura 20.Abril.2010

PRECISO


Preciso
Do sorriso da vida
Da beleza do mar
Da força incontida
No prazer de dar
Preciso
Do sussurrar do rio
Do grito das aves
Do espaço baldio
De palavras suaves
Preciso
Do meu mundo
De estar bem contigo
Do suspiro profundo
De te sentir comigo
Preciso
De saber o que sinto
Sem perguntar ao vento
Acreditar no que pressinto
Sem nenhum lamento
Preciso
De estar só sem estar
Acreditar que tenho
Para poder sonhar
Com o que não tenho
Preciso
De não precisar
Que te lembres de mim
Para eu me alimentar
Do que sobrou de mim.
Preciso
De não precisar
Sabendo que preciso
Para restar o amar
Que trás sempre um aviso.
Preciso
Descansar.

Dina Ventura – 20 de Abril 2010.