quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PAREDES FORRADAS

Forrada de papel, de cetim, de madeira ou pedra, mudou?
Mas ela continua lá. Muda a fachada mas o conteúdo é o mesmo.
Não será. Talvez por oculto, mais corroído se torna.
Jaz inerte, sem respirar e aparenta a cara que não tem.
Roça-se no disfarce airoso da beleza que não é sua e convence-se.
Ninguém ousará retirar-lhe os enfeites.
E assim recomposta, numa vaidade comprada, vive.
Cega, porque vê por olhos que não são os seus.
Surda, porque não é aos seus ouvidos que os sons se dirigem.
Muda, porque não se pode denunciar.
Ausente, mesmo presente, porque o que prevalece são as capas.
Se na fúria da liberdade, arranca o que a forra que vê?
Restos da tinta original. Mistura de caliça com cola.
Desenhos desbotados de um papel arrancado.
Resta a parede que tentando firmeza, aguarda.
Não se convencendo que não passa, mesmo sem o forro,
De mais e apenas, uma parede forrada.

Dina Ventura – 27 de Dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

DESRESPEITOS - INCONSCIÊNCIAS

Vou escrever porque estou a levar as coisas a sério. Significa a partir do momento em que se pensam, não podendo deixar de ter em conta as inúmeras vertentes que vou descrever, não eliminando a do não sério, pois ficará uma exposição mais completa.
Hipótese 1 – Não sério
.Falar por falar;
.Dizer que se sente, sem sentir;
.Ter muito tempo disponível e ter de se encontrar formas de o preencher;
.Aposta, não se podendo desistir para não denegrir a imagem;
.Fornecimento de dados para apenas preencher o curriculum vitae.
Concluo que nenhum de nós consegue ser tão pobre ao ponto de se limitar a tão pouco, portanto hipótese 1 excluída.
Hipótese 2 – Sério
Existem milhares de sérios e alguns não o sendo, não deixam de o ser também.
.Não capacidade de encontrar equilíbrio;
.Posse de bens com ambição de alcançar sempre mais, tirando disso proveito próprio;
.Insatisfação perante o tudo que se tem, não o descurando, mas tentando compensações;
.Necessidade de correr em campos alheios para activar os músculos um pouco perros;
.Necessidade de dar vazão ao espírito aventureiro que cada um de nós possui;
.Necessidade de reviver os gritos da adolescência nos impulsos naturais;
.Gosto pelo proibido e necessidade de o sentir, também fisicamente;
.Procura incessante do novo, como reabastecimento do velho já cansado;
.Carências, um pouco apagadas, que sem autorização resolvem emergir;
.Procura de emoções novas e fortes, como lufada de ar fresco na existência;
.Atracções, simplesmente, que não encontram estabilidade;
.Gosto pelo jogo, não se gostando de perder;
.Regras quebradas pelo facto de o serem;
.Almas sonhadoras em busca de lugares secretos;
.Encontros apenas pela necessidade de se darem;
.Correria um pouco louca em busca do ar que nos falta;
.Desejo de não pensar pelo tanto que se pensa;
.Confusão, sabendo-se sempre o que é;
.Ansiedade, sem sequer se ser dono da ânsia de querer;
.Causas não explicáveis à priori para efeitos super rápidos;
.Acontecimentos ao longo do tempo acontecendo, acabando por ser apenas uma narração;
.Super valorização de algo que apenas existe simplesmente;
.Necessidade de dar, por vezes não acontecendo no lugar e tempo certos;
.Necessidade de receber, o que por vezes não se aceita de quem nos quer oferecer;
.Contradições naturais no que dentro de nós existe;
.Necessidade de nunca se perder o espírito de conquista;
.Necessidade e vontade de estar onde não se pode ou com quem não se deve;
.Apenas vontades;
.Necessidade de algo ou de alguém que faz com que os dias se tornem muito difíceis;
.Gostar apenas.
Todas estas hipóteses são sérias a partir do momento em que existem, mas será assim tão simples? É, porque se não o fosse tudo se processaria de forma diferente. Portanto há que analisar cada uma destas hipóteses até se conseguir encontrar uma resposta. Para quê encontrá-la? Mais que não seja para conhecermos melhor a nós próprios e sabermos porque somos, o que somos, para que somos.
Tudo é sério. Assim sendo, tudo terá de ser tomado em consideração e após dissecação de todos os pontos a que conclusão se chega? Tudo poderá funcionar em perfeito equilíbrio? Temos capacidade para tal? Ou seremos como os sapatos? É preferível termos vários pares pois a sua duração será muito mais longa. Coitado do par único, como conseguirá combinar com tudo e tudo palmilhar? Não! Têm de existir vários pares, para quem tiver capacidade para tal! Temos? Então sejamos sapatos!
Estou furiosa porque não quero ser sapatos. Mas não o seremos realmente?
Data: Não interessa a localização no tempo, pois não deixo de acreditar que sempre existirá quem pense!
Dina Ventura in: nas asas do vento encontrei

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PAI NATAL

Enquanto olhava o Tempo, surgiu sem ser esperado.
Olhou-me sorrindo mas não parou.
Lançou palavras cantadas que o meu coração escutou.
Nada te trago, pois não preciso provar-te que existo.
Aqui estou.
Olho-te a tristeza na alma, por quem prometeu e falhou.
Mas nada posso fazer.
Acompanho-te, não te esqueci, porque sem ti não existo.
Mas a caminhada prossegue. Tento encontrar quem não me vê.
Por esses te deixo a ti.
Sei que merecias um presente, mas nada tenho para te dar.
Foste tu que me deste e me fizeste acreditar.
Que vale a pena não desistir, sonhar e esperar.
Mesmo que a dor vagueie pelo espaço onde a vida irá de nascer
E a sapiência da espera faça acontecer.
Mas...voltarei, senão me esqueceres voltarei.
E com este som se afastou,
Deixando-me só em mim com a sensação de já não estar.
Dina Ventura - 25 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ABRAÇO

É um sentimento que protege.
É uma vontade que nos impulsiona.
É a protecção contra os receios de perda.
É o calor que aquece o frio que nos petrifica.
É uma brisa que nos refresca do calor tórrido.
É uma lição que nos ensina o que é sentir.
É partilha na troca de forças e energias.
É a presença que embala na solidão.
É refúgio que ao fecharmos os olhos é só nosso.
É liberdade, porque enquanto se abraça o coração sorri.
É conforto que anula o desconforto sentido.
É ternura que circunda a alma.
É crença naquilo que nunca se perde.
É dar e receber, sem nada se dar, dando tudo.
É sentir que a vida se pode encontrar, no abraço trocado.

Dina Ventura 19 de Novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

IMERGENTE


by: Nuno Kabu

Nasceu. E quando nasce não pode morrer.
Aconteceu. E quando acontece não pode deixar de existir.
Onde quer que esteja, estará e não pode deixar de estar.
Trago comigo o que de mim é e me alimenta.
Está sempre comigo, mesmo que esteja ausente.
Incapaz de controlo, torna-se selvagem.
Segue solto, livre e sem sentimentos de culpa.
Obriga-se a refúgios para que não o atormentem.
Lança-se nos braços do sonho para poder viver.
Enfrenta os medos que não sabia existirem.
Segue sem rumo, sabendo o rumo certo.
Dorme na vigília, para não se perder no sonho.
Embala-se nos encontros, sem data marcada.
Movimenta-se parado, sabendo que está vivo e avança.
Imergente, tal como um raio, instalou-se para ficar.
Mártir de si honra-se de o ser.

Dina Ventura, 18 de Novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

LIBERDADE


Fotografia by: MLinus

Tudo tem forma, texto e contexto.
Se a liberdade tem nome, como consegue ser livre?
Se lutam por ela, se a perseguem e não lhe dão paz, como saboreia o nome.
Como tem o poder de fazer, deixar de fazer e de escolher?
Independência.
Pressupõe o estado oposto ao do cativeiro e da servidão.
Apoiada no cajado da franqueza, fraqueja, pela fraqueza das lutas.
Ajoelha na sinceridade, fala consigo mesma e o espírito pede asas.
Aí, o corpo abandona-se à vontade de nada ter que o aprisione.
Será a obtenção do poder de não ser tolhido, privado e castrado, no exercido das suas faculdade e direitos. Mas. Palavra dura que pode até nem ser palavra e sim (…).
Traidor da liberdade por um lado e anjo da consciência por outro.
Palavra dúbia que faz hesitar e tremer a liberdade. Apenas um mas.
Assim a Liberdade vê-se, não liberta entre leis.
Aí, mesmo que queira ser livre não pode, porque existem outras liberdades.
Se é definida como tendo poder de escolha e ausência de constrangimento, porque fica constrangida, quando escolhe ou não.
Se não é dominada pelo o medo, acaba por o acolher na sua propriedade.
Se exprime os seus pensamentos, sem acanhamento ou preconceitos, corre sérios riscos de ultrapassar as leis que a emparedam.
Pensa em si mesma, olha-se de frente e sente o que fazer:
Libertar a liberdade, da liberdade que não tem.
Dina Ventura - 11 de Novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

TORRE DO SILÊNCIO


by: DV

Com a tua presença, Amigo, percorro sozinha a margem do rio.
Sigo com o olhar a corrente que se despenha, levantando cachão.
Enche-me a cara com a sua transpiração e mistura-se com as lágrimas.
O silêncio abstém o falar, impondo a ausência de ruído.
Apenas se ergue no ar, o murmúrio das águas que caiem em catadupa.
Carrego o sossego, o segredo ou omissão de uma explicação.
Enlevada nesse estado de paz, sou no entanto conduzida à inacção.
É-se reduzido ao silêncio após todos os argumentos se esvaírem.
A réplica morreu.
Por alguma razão, é o nome dado à torre onde os indígenas expõem os corpos dos seus mortos, para que sejam devorados pelos abutres. Aí, nada os fará gritar, nem de dor, nem de mágoa, pois ao silêncio se reduziram. Mas quem os colocou lá, será cruel? Não. Adoram o seu Deus numa pedra ou numa árvore, prestam culto ao Sol, ao fogo e são hospitaleiros, bondosos e inofensivos. Apenas tribais.
Não deixando de ser torre de carnificina de corpo já morto, alimentando aves, é a libertação do que resta e não presta, mas alimenta outros seres. Aguardam atentos por mortes que lhes restabeleçam as forças. No entanto, aberta na cúpula, por onde entram os abutres também em silêncio se libertam as almas. Passam a vida a alimentar-se da morte de outras vidas, que já repousaram noutros silêncios na margem de um rio, apreciando a beleza da Vida.
Dina Ventura 10 de Novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

REJEIÇÃO

Acto de atirar fora, tirar de si, expelir, tal como o mar rejeita na praia o cadáver.
É um vómito, que provoca o retirar do que está a mais, que estorva e é estorvo.
É desprezar, dizendo que sim para dizer não ao que outro oferece entrega e dá.
Tal como na Natureza, é a amplitude do deslocamento produzido por uma falha.
Cria um fosso imenso de profundidade incalculável, a não ser que se mergulhe nesse provável abismo, para se ter a noção.
Contudo pode tornar-se numa defesa, tal como quando do aparecimento de anticorpos que destroem o enxerto, após o transplante de um órgão. O corpo rejeita, mesmo aquilo que o poderia fazer viver. Mas não suporta o que não conhece e não é seu, não lhe reconhece valor suficiente para a cura. Será egoísmo da matéria, da máquina ou apenas o não querer prolongar a vida. Ficam sempre as dúvidas na validade e aceitação da rejeição.
Por outro lado, são muitas vezes os vencidos que rejeitam. Tal como no campo de batalha limitam-se a depor as armas e a lançá-las ao rio, para que a correntes fundas as levem ou depositem.
Demonstra oposição a algo, por não concordância, ou então por o ter em nenhuma ou pouca conta. Engole mas o estômago rejeita.
Então mantém afastado, como o próprio rejeito, que sendo uma arma de arremesso, ao ser lançado cai conforme a intenção do acerto. Não havendo intenção, pode acertar onde nunca pensou, mas humilhou quando embateu e alguém morreu sem esperar. Porque achou que as estrelas vistas, eram as de luz própria e afinal houve engano de visão. Eram apenas meteoritos incandescentes devido à velocidade de arremesso e, quando embateram, enegreceram e queimaram. À volta da cratera, o fogo do impacto que logo se apagou, deixou terra queimada, cinzas, sombras e silêncio.
Dina Ventura 7 de Novembro de 2009.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

DESPOJAR


Forografia - Universo - gentilmente cedida por: MLinus


Saio de mim quando me encontro contigo. Porque tem de ser.
O caminho não é visível, em corpo.
Na estrada da vida, ouvi o som dos teus passos na mente.
Voltei-me de repente e senti. Tudo mudou, tudo está diferente.
Não tem portas, nem medos, apenas campos abertos de beleza.
Neles me encontro e conto segredos. Contigo, senti em nós a Natureza.
Nada de opções. Nada interfere porque a liberdade não tem forma.
Dispo-me dos receios, transponho barreiras,
Encontro os meios de abrir fileiras.
Nascem emoções, nas fontes. Sentimentos sonhados são sentidos.
Nada resta, nada falta, nada se tem. Nadas.
Tudo chega, tudo sobra e tudo está ausente. Presente.
Não existe, porque o que existe não se sente.
Apenas se saboreia a vontade de ter, de saber, de sentir e ficar.
Resta a vontade louca de beber, de entregar o que já está fora de nós.
É o contra-senso do que é intenso, que o mundo grita e se incendeia.
Para que reflicta e se repita, sem nunca ter acontecido.
Nasce ao acaso, por obra e graça. Sem promessas ou ilusões,
Apenas transporta e transborda sensações.
Sustos sem medos, sonhos sem dormir.
Abrem-se portas e janelas sem se abrir.
Procura-se tudo no lugar certo, que não se sabe existir.
Salta-se entre nuvens, refugia-mo-nos em recantos fechados,
Abertos em espantos e fontes de prazer.
Refazem-se as forças no continuar, no sentir de sentidos refeitos.
Nos acasos perdidos, de mil essências, que se buscam e ofuscam o real.
Nada se parece, por ser igual. Perde o sentido no erguido ermo do Infinito.
Persigo a fonte, mato a sede e morro junto, por não beber.
É a loucura da loucura perfeita.
O transmutar da mente, na agonia escaldante.
É o encontro do Mundo, no mundo existente,
Que não existe, mas persiste em ser Único.

Dina Ventura 6 de Novembro de 2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

IDIOTICE

A escrita hoje está embargada por uma inspiração algo estranha que se por um lado me empurra para o fazer, por outro anula-me o pensamento assucatado. Mas vence a vontade, por ser maior que o desalento. Resolvi então escrever, ou melhor transcrever algo que alguém partilhou comigo e que ao entregar-me o escrito disse:
“Olha faz com “isto” o que quiseres, podes deitar fora, ler ou não, ou até dizer que é teu, para mim não existe, pois não passou de uma conversa meio idiota que tive com outra idiota maior ainda, a pensar numa idiotice qualquer, tanto que também podia chamar-se:
de outro planeta”.
Depois de ler, fiquei emocionada e resolvi publicar. O nome que lhe atribuo é exactamente o que a autora lhe deu. Pelo menos ficam a saber que é uma “ela”. É sim. Uma pessoa que conheço muito bem, que acho com uma alma repleta de símbolos indecifráveis pela grande maioria dos seres humanos, devido ao que representam no seu mundo idílico, afável, acolhedor, mas ao mesmo tempo misterioso, que quando nos aproximamos temos a sensação que se evapora.

“IDIOTICE
Resolvi escrever não sei se a mim, se de mim, se para fora de mim. Como não tenho nada de realmente a dizer, não existirá real para o escutar. Então sentada na cadeira dos sonhos e ilusões, coloquei defronte outra cadeira e chamei-lhe ouvinte.
Olhei para o Ouvinte e percebi que não só me ouviria, como não fugiria, enquanto eu não quisesse que fugisse. Iria entender tudo desde que eu soubesse o que dizia. Mesmo que não soubesse e o dissesse, ele entenderia da mesma forma. Estava ali prontinho a escutar tudo o que eu quisesse, pudesse e soubesse dizer. E assim fiz e comecei:
Sei coisas que uns acreditam outros não. Sinto outras que ninguém mais sente e vivo outras que mais ninguém pode viver. Amo um amor de Amor feito, mas que é feito sem ser. A ver se te explico. Todos falam de amor, mas o amor não se fala, sente-se. Dizem que o amor é eterno e não é, porque ele não tem tempo. Dizem que pode ser físico e também não é, porque ele não tem corpo. Dizem tanta coisa dele, que nem se sabe se é ele ou ela. Não sei se tem lugar ou morada! Dizem que é no coração, mas não é. O coração apenas o acusa ou delata, ou ele o usa para isso. Então onde viverá o amor? Acho que Vive sem viver, ele é apenas. Sendo, não vive e sim Vive. Porque tem de ser ele como as pessoas o querem? Ele pode ser outra coisa. Sabes, tipo os seres de outro planeta?! Acho que é esse o nome que se lhe deve dar, Outro Planeta. É lá que por certo vive, convive e se ama! Sim porque o amor se o é ama-se. Cá, chamar-lhe-iam narcisismo. Mas não é nada disso. É porque quando o amor encontra o que ama, torna-se nele, num único e isso faz com que se ame a si mesmo. Transforma-se numa linda flor, única, isolada, tal como o Narciso e no entanto de cor bela, revigorante e chamativa, denunciando a toda a gente o seu perfume colorido.
Dina 4 de Novembro de 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

CENTELHAS DE VIDA

Saem em rajada. Disparadas pelas prisões invisíveis.
São balas que ferem o poderoso escudo da alma.
Ela aumenta-se, confronta-se e expande-se.
Espaço por entre os estilhaços de mil luzes e sonhos.
Sai e liberta-se.
Salta o muro e encontra-se. Sem barreiras Vê.
Pontos de luz que se olham, que se tocam, sem tocar, em fogo-fátuo.
De mil cores, explosões mil, que fazem desmaiar.
A Alma liberta almas, centelhas de vida
Que não sabiam existir.

Dina Ventura 2 de Novembro de 2009

SENSAÇÃO FLUTUANTE DO SER

Não descansando no regaço do descanso,
Reforço o que se chama de pacificante.
Age, agita e contorce-se em si mesmo.
Reserva-se, preserva-se e recua.
Retoma o balanço, sai de si e entra no espaço.
Vagueia, reduz-se, produz e reproduz-se.
Aumenta, querendo diminuir, o que é incontrolável.
Reforça-se nas forças da força que não tem.
Busca nelas a sensação de reconforto do ausente,
Que presente acompanha, desanca a mente e desnuda,
O que é sentido, nos sentidos de não sentir.
Assim vive a sensação de ter um dia a posse da razão,
Que rastreia a vida, a rasa para a forma de rara chave.
Plena e flutuante esvoaça por entre penhascos, bosques e rios.
Salva o que resta:
A liberdade de sentir, ouvir e possuir sem ter,
Por não precisar de obter o que já tem.
Apenas sensações flutuantes do Ser.

Dina 2 de Novembro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O AMARELO


FLOR AMARELA - Fotografia de Manuel Lino.
Cedida gentilmente, mesmo antes de ter sido publicada, por um amigo que se dedica à arte de reter imagens maravilhosas, há muito tempo, BEM NÍTIDA A FORÇA DO AMARELO. Se quiser confirmar visite o site:
http://olhares.aeiou.pt/MLinus

O QUE PODERÁ ENCONTRAR NO "MISTÉRIO DAS CORES" SOBRE O AMARELO:
(...) A cor é uma sensação interna. Não deixando de ser um conceito biológico, baseado na resposta mental do olho à luz e a forma como cada ser vê a cor, o mais importante é a forma como cada um a sente.(...)
AMARELO
Reflecte a parte esquerda do cérebro, por isso está ligado às actividades intelectuais, à aprendizagem, emotividade e intuição. Representativo de vitórias, sucessos e fama. Dá força e energia para realização de projectos variados.
Características das pessoas influenciadas pelo amarelo – São pessoas emotivas, alegres, bastante activas e positivas. Conseguem alcançar o que ambicionam. (...)

APARECE


Programada sessão de autógrafos a partir das 19:00 horas. Lanche "leve". Exposição da tela "O Beijo", que dá rosto à capa. Estarão também expostas e para venda fotografias da mesma. Grata.

CONVITE



CONVITE POR IMAGEM QUE APRECIARÁ A SUA PRESENÇA NO ANTIGO SOLAR DA NORA - AUDITÓRIO ORLANDO RIBEIRO - TELHEIRAS - LISBOA - DIA 28 DE OUTUBRO 2009 - PELAS 18 HORAS.

A EDITORA CONVIDA


"Um livro fascinante, que é uma viagem ao mundo maravilhoso das cores"
Editora Caleidoscópio.

O MEU NOVO LIVRO::::::::::::


O que é a cor? Que influência tem em si? Que cor teve o seu passado? E o presente? E que cor terá o seu futuro? De que cor é o seu nome? QUER SABER ESTÁ TUDO AQUI - NAS LIVRARIAS A PARTIR DO DIA 28 DE OUTUBRO DE 2009.

domingo, 18 de outubro de 2009

ESTADOS - EFEITOS - QUALIDADES - IV


Fotografia de: A.Pombo

UNIVERSO
O todo que não se alcança. O sistema Solar com os seus planetas satélites e estrelas.
O tão almejado tudo que existe, sem se saber o que é.
O sistema do Mundo. Reduz-se. Passa ao mundo. À Terra e a nós.
À nossa universalidade. Ao domínio moral ou material comparável esta dimensão.
Passa-se do tudo que existe e não se sabe, àquilo a que se limita o nosso pensamento ou acção. Isso resume-se ao nosso universo. Linhas idênticas de universos paralelos que se resumem a expansão, continuidade das estrelas e luz.
Tal como nele tudo em nós se forma de pequenos nadas.
Partículas simples mas que não deixam de ser fundamentais.
Que tal como no Universo os fragmentos se encontram submetidos a duas forças:
A da gravidade ou reacção devido à densidade da massa, corpo.
Outra a força explosiva provocada pelos sentires.
Assim somos universos habitando o Universo.

ESPERANÇA
Acto de fé que a antecede e de espera de um bem que se deseja.
Consoladora na e da ausência.
Segunda de três virtudes teologais que se complementam.
A primeira, carrega a fidelidade a promessa ou compromisso
Confiante na lealdade no saber e na verdade do que a esperança deseja.
A última leva-nos a desejar a felicidade que a esperança almejava
E quando se alcança a entregamos sem reclamar.
Sempre ambiciona algo novo que parece destinado. Futuro brilhante.
Tal como para Alexandre, ela é o estandarte dos que se lançam,
Em empreendimentos ousados, contando apenas com os recursos da sua inteligência, esforço e entrega por bem querer.
Simbolizada, muitas vezes, por uma pequena e jovem ninfa de rosto sereno, que segura com firmeza na sua frágil uma flor. De nada mais necessita. Despojada de tudo, resta a beleza de ter acreditado na Esperança.

MÃOS DADAS
Não apenas parte de um corpo, ou escova de pontas metálicas que serve para cardar.
Ao serem cortados, os membros das reses passam a sê-lo também.
O conseguir fazer as coisas de maneira e feição, permite-te o título de mão para.
Mas terá de saber executar.
Unificadora, liga a conta ou chicote de um cabo a si mesmo.
Pode ser a medida certa ou não, depende da capacidade de bem pegar.
Protege ou ofende. Acaricia ou maltrata. Faz e desfaz.
De mão dada é ajuda, protecção e auxílio.
Portadora de destinos!
Alberga em si as linhas da vida, da cabeça, do coração e da fortuna ou sorte, que está associada a um dos mais longínquo planetas, quem sabe contendo nos seus anéis a história guardada de cada um.
Na base dos dedos estão as qualidades, registo das alegrias e tristezas!
As ambições também estão lá, incentivando a felicidade a sabedoria, a inteligência, o gosto pelo belo, o trabalho, o amor, a coragem, o sonho, a melancolia, a castidade, a elegância e o amor do Amor.
Quando se unem as mãos dá-se a entrega, a dádiva do tudo que se possui!
De mãos dadas a força da imensidão!

FALAR
Ao pensar nela liga-se a palavras ditas, ao emitir e proferir sons!
Mas será obrigatório?
Exprimem-se pensamentos em palavras não ditas, mas a quem se dirigem?
Alguém as conseguirá ouvir por as sentir? Trabalho árduo esse!
O falar será então substituído por gestos, símbolos ou apenas olhares.
Como a honra, que também fala e é necessário obedecer-lhe!
Revelar nos olhos todas as palavras, que falam os pensamentos sentidos!
De mil formas se pode falar, mas de poucas o sabemos fazer. Há, no entanto, uma escola importante de ensino árduo e solitário. Falar consigo mesmo!
Palavras escutadas em surdina, por vezes agredidas e que dão a resposta.
São duras, talvez por isso, não passarem de sons articulados no silêncio do ser.
Melhor seria transparecer, trocar, falar palavras diferentes com significados comuns.
Aprender o que as palavras querem dizer é fácil, senti-las mais difícil.
Traduzi-las com fervor para que não tropecem, caiam, se amolguem e percam o valor.
No guardador de palavras, elas “estão”, à espera de serem lembradas, ditas, escritas, faladas e sentidas!
Há que falar!

ESPÍRITO DA CARNE
Dos músculos à parte mole dos corpos, tal como a polpa de certos frutos e à natureza humana, no ponto de vista da sensibilidade. Pois como diz o ditado “a carne é fraca”. Que seria então dela sem o espírito? Seria devorada como a de um animal ou fruto qualquer, para sobrevivência, gula ou simples prazer.
Que forma anímica lhe incute essa substância incorpórea? Esse espírito? Dá-lhe o alento vital. Alma.
Ente imaginário, que se prova a si mesmo de forma irrefutável. Transformando a carne que alberga, desenvolvendo-a, criando um espírito e ser superior.
Corpúsculo, a quem é atribuída a faculdade de levar a vida e o sentimento aos diversos pontos do organismo animal, deixando de ser apenas carne e transformando-o em espírito da carne. Em uníssono os dois se ligam, os dois evoluem e Vivem em comunhão. Compensam-se, apoiam-se e satisfazem-se mutuamente. O espírito apazigua a da carne, quando esta apenas é vista como objectivo sem espírito.

LUZ
Claridade, o que ilumina e torna visível. O astro Rei.
É a evidência, a verdade, a ilustração e o esclarecimento.
O brilho e o fulgor, que está na luz dum simples olhar.
Tudo o que ilumina o espírito, dando claridade intelectual, intuição, faz tornar evidente, aparecer e ter valor. Faz-se luz!
É a revelação, a fonte da verdade. Remete para o nascer do Sol, o abrir dos olhos e ou a alma.
Conhecer e dar conta do que se ignorava. Sem ela nada se vê, nada se sente.
Tudo seria gélido, agreste, morto e sem vida. Pois é ela que faz vibrar, nas ondas que recebemos e provocamos.
Vivemos nos sentidos, reflectidos, refractados e de difusão.
Somos senhores da sua velocidade e intensidade. Se é invisível, negra, fluorescente ou fria.
Sem ela os seres definham, não crescem e não evoluem.
A luz é algo que se vê no exterior, mas que mora no interior de cada um!
Para que a luz nos ilumine de verdade é preciso Abrir os olhos da alma!

Dina Ventura – Outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ESTADOS - EFEITOS - QUALIDADES - III



ABRAÇO
Se se abraça criamos um elo ou cirro de vinha,
Podendo chamar-se também gavinha.
Folhagens bem frescas lavradas em volta de uma coluna.
A lavra afasta o abraço, pois obriga o monge a viver no mosteiro.
Celas separadas por uma simples parede, que tudo faz.
Gavinha ou abraço, um apêndice, enrolado em espiral
Que se sente e que de alguma forma ajuda a suportar o próprio peso.
Porque serão os cirros penas? Ou tentáculos de alguns peixes?
Será com intenção de proteger, distinguir algo de algo?
E que abraçarão as nuvens brancas bem distantes,
Parecendo formadas de filamentos ou penas cruzadas?
Aparecerem em dias calmos podendo anunciar a chuva ou a neve.
Porque tudo se parece, se imita, se retrata e se reporta à Natureza.
Será assim um abraço.
Cria cirros, indo do extremo do bem ao oposto,
Consoante a natureza da sua Natureza.

AUSÊNCIAS
Olho e nada vejo que me impele.
O sono invade os meus sentires e o meu corpo.
Não para levar-me ao sonho, mas antes
Para não me levar a pensar. O Pensamento está incerto, vazio.
Procura no que já pensou e nada lhe faz sentido.
Adormeceu e adormecido de nada serve.
Se reage é esquecido, se não esquece é ferido.
De que serve então não pensar?
Apenas desnivela o equilíbrio e ressarça as exclamações
Do nada que procura ouvir.
São ecos, ecos sem embates de devolução
Que se perdem no espaço, vagueiam no vácuo
Em esperanças que estruturam a realidade,
Que não é, nem será mais do que o pensamento!
Olha, canta, permite e espanta.

PORQUE SE PROCURA
PORQUE SE ENCONTRA

“Para iluminar, esclarecer. Sentir o Sentir. Falar do pintar! Isso sabe-se! Como?
Não me compete a mim saber a alma sabe e saberá. O subconsciente, a Alma Grande, sabia.
Tenho sempre o que quero, é uma espécie de círculo, que primeiro me põe à prova, me molda mesmo no crisol.”

Para sentir, o sentido de Sentir.
Da escrita do pensamento nas palavras da alma.
Preencher o vazio que sempre se possui
E crescerá se não se preencher e “desalimentar”.
É preencher sem ter. Controverso? Talvez.
Mas mais ainda quando não se sabe possível.
Talvez a alma saiba, por isso busca e alcança sempre o que quer.
Mas nem sempre o tem. É algo que alberga, mas doa. Sem querer ter.
Será um circulo…pode ser! Mas sendo-o, não vale a pena lutar para ter.
Têm-se apenas sentindo.

TOLERÂNCIA
Não possuída deixa de ser qualidade.
Sendo-a, aponta para a indulgência por aquilo que não se pode ou não se quer impedir.
Sendo cega entra na condescendência quem sabe sem utilidade. Melhor será, tal como o corpo humano, adquirir a capacidade de suportar certos medicamentos. Tendo em conta a quantidade para mais ou menos, necessária à compensação e equilíbrio.
É dar permissão ou compactuar com algo, que pode não cumprir ou não comparecer. Aí a cada um se deixa a liberdade de praticar a crença que professa. Mas tolerando os abusos é-se no entanto cúmplice deles! Então que fazer com a tolerância?
Tudo se pode desde que não seja totalmente defeituoso. Temos de ter em atenção que tolerável também pode ser sofrível e pouco cotado. Ou seja, abaixo do suficiente.
O que se tolera pode por vezes encetar o caminho do maçador, do repetitivo, do aniquilador e o mergulho em águas salobras. Não faltando a água, não sacia a necessidade. A sede mantém-se pela ausência das propriedades que alimentam a vida.
Haja tolerância na Tolerância.

Dina Ventura 14 de Outubro 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ESTADOS - EFEITOS - QUALIDADES - II

CEGUEIRA
Cego é quem não vê o que o rodeia.
Mas quem não vê, não o sendo?
Entra no fanatismo, no extremo e no desvario,
Acabando por cair no lago da ignorância.
Na ausência completa e profunda dos sentimentos altruístas.
A cegueira moral leva à perversão,
Com a conservação da inteligência.
A quantos a sua psique lhes nega a visão
E as coisas passam a ser vistas e não reconhecidas.
Apenas cegueira simplesmente cega.

DESENCANTO
De rompante o despertar.
Bateram à porta. O desencanto aparece sem se anunciar.
Diz estar na hora de acordar, de dar inicio às apresentações.
Arrasta com ele uma multidão e começa por lhe dar nomes.
Sem ordem alfabética, nem organização. Acotovelavam-se
Para ocuparem o espaço que estava vazio à sua espera.
Desilusão? Presente! Decepção? Presente
E continuou por tempo infindável. Até que chegou a uma chamada que não se ouviu o grito de estar ali! Mas estava, apenas não respondeu.
Ilusão!!!
Voltou a não soar…silêncio, ausência ou paragem?
Nada disso, apenas indecisão.
Não sabia se estava, ficava, existia ou desistia.
Seria engano dos sentidos ou da inteligência?
Não sabia se tomava a aparência pela realidade,
Ou se tudo não passava de uma ilusão da vista. E então?
Não seria esse o seu nome…mas sim miragem!
Confusa, mas firme em si recompõe-se no efeito artístico
Que procura produzir, na impressão da realidade.
Que fazia ali o desencanto? Para a expulsar?
Dizendo que apenas se alimentava de ideias quiméricas,
Coisa efémera e enganadora…
A ilusão reagiu, empurrou o desencanto e gritou!
Cala-te tu! Por causa de três letras destruíste tudo! O encanto que possuías, que arrebatava, dava prazer. Tinha atractivos! Onde estão? A beleza, a sedução, os encantos da Natureza e todo o encantamento? Fica com o teu “des”! Não vences, eu sim eu sou vida…
Porque a própria Vida é real, mas é também uma ilusão.

ESCRAVIDÃO
Entrega total ou dedicação, acreditando escrupulosamente. Assim, sofre-se o domínio, é-se escravo.
Escravo de um sentir, de um fazer ou simplesmente escravo. Não deixa de ser um estado, uma condição de servidão, cativeiro, sujeição ou dependência, faltando enfim a liberdade por bem querer ou fazer.
Pode não ser por compra ou sujeição absoluta, mas por entrega ao que se acredita ou obedece. Dominado pela paixão e entrega da alma.
Que seja,
Mas nunca ter alma de escravo, o que a torna vil e baixa.
Ser escravo das suas paixões, obedecer-lhe cegamente sem forças para as refrear. Morre.
Da guerra a mercador, ou a lago…
Nunca à escravidão.

INTERFACE
Não passa de uma preposição que significa entre.
Antecipa-se e torna-se mediadora por vezes de nada.
Acompanhada algumas vezes de traço, só com autorização.
O segundo elemento deixa que se lhe junte, caso o H ou R assim o entenderem, depende de HR.
Assim, sem homem ou razão não há hífen, seu elo de ligação.
Sem ele serve de acompanhante, atira o sentido para algures, ou unem-se, acrescendo algo no meio deles.
Assim várias opções: ou dá espaço ou liga-se a ela ou se afasta.
E na face? Sem, não liga. Com, é irregular.
Então para que servirá o inter na face?
Representará alguma que não se vê e que por isso se disfarçou de inter passando a ser uma em duas, não duas numa, mas sim três em duas! Interface.

O NÚ
Quando ouvido sente-se assinalado, mas ao ser visto torna-se descoberto exposto à vista.
Quem sabe maltrapilho, desguarnecido, sem ornamentos que o disfarcem.
Árvore em pleno final de Outono, sem folhas ou verduras, sentindo-se privada, destituída, desactivada e seca.
Mas porque não a mudança?
A necessidade de retirar tudo o que estava e colocar-se sem disfarces, tornando-se na verdade nua e crua e tomar a sua melhor e nova forma!
Nú.

ESTADOS - EFEITOS - QUALIDADES - I

A DUPLA
Contendo duas vezes a mesma quantidade
Redobram as forças, que vale e pesa em dobro.
É o sal resultante de outros dois. Cristal único.
É uma festa, mais solene do que as outras,
Chamadas apenas de simples ou semi.
São duas estrelas que à simples vista parecem apenas uma.
A longa distância no tempo seria, chamada de sombra,
Fantasma ou projecção aérea de um morto. União de almas.
Mas com o “A” ela é substituída.
Tem várias relações e associações.
De lugar onde, de tempo, de modo, de ordem e sucessão.
Pode negar ou privar, quando se antecipa.
Pode acrescer intensidade e transformação.
Separar, colocar uniformidade ou apenas imitar!
Prolongar apenas, na intensa perseguição de aproximar e fundir.

EVOLUÇÃO
Transformação gradual no tempo sem Tempo.
Tempo e espaço que existem apenas para o impulso vital.
É uma marcha evolutiva, sem retorno.
Apenas se acompanha e se é acompanhado.
Nada detém, nada destrói e tudo aumenta.
Sentido, no sentido dos Sentidos.
Se dá conta, sem dar, dando. Sem controlo.
Emerge e imerge da alma, da necessidade de elevar.
Apenas aumentando e atirando-nos para um centro,
Donde se vislumbram outros e outros
Aumentando cada um, para se encontrar o Centro.

ESBOÇADO
Sendo sorriso, traço ou sentimento
É o delineado inicial de alguma coisa.
Pode ser o traço geral, mas mesmo oculto, contém a obra.
Será um ensaio, uma palavra ou um resumo,
Mas a totalidade está contida.
Não perceptiva para quem não sabe,
Mas profundamente preservada e conhecida
Para quem esboça.

A CURA
Após.
Mas poderá não ser. Pode apenas ser o desejo de a obter.
Sem a tentativa não há o resultado e sem a doença,
Resta a prevenção.
Males reparados. Doenças curadas.
Neles se apoiou a Cura para funcionar.
A sua dimensão caminha em proporção.
De mãos dadas se encontram.
Se anulam ou se complementam.
Ou apenas coabitam ou se expulsam?
Medindo forças para quem deve ficar?
Que vença a cura.

AMOR PRIMATA
Aponta para a noite dos tempos.
Para a transição entre espécies,
Sentido em liberdade e busca.
O amor sentimento pelo qual o coração é levado,
Para o que lhe agrada fortemente e deseja. A posse.
Gosto vivo e intenso.
Fenómeno talvez, que permite adornar de mil belezas
Todo um local deserto e gélido. Entrega apenas.
Primeiras emoções da alma, sem controlo,
Que despertam ao sopro de uma aragem.

A FACE
Do semblante às superfícies rasas se manifesta.
Não é a medida, nem as páginas manuscritas
Com um determinado número de letras por linha.
Obedecendo a uma tabela. Não.
Não é cotar pelo mais baixo, nem tão pouco
Colocar pelas ruas da amargura. Não!
Será talvez o espelho.
Tal como aquele em que o lago se transforma
Pela calmaria das águas, onde tudo parece plano
E a realidade se duplica, virada ao contrário.
Quem sabe o lado duma moeda onde a cara se manifesta
Mostrando o ângulo que nos mostra o oposto e o avesso.
Se fazemos face é porque nos opomos, ou então
Por desejarmos resolver.
Então qual da face faz face ao que se pretende ver na outra face?
Serão duas? Ou mais? Ou tantas quanto se quiser?
É melhor querer…pois nela se encerram muitos sentidos.
Do olfacto passando pelo sabor, o melhor é ouvir
O que o olhar irá reflectir.

O OLHO DE ORWEL
Capta, perscruta e segue!
Persegue sem se dar conta, vigia.
Sabe-se que está lá, mas esquece-se.
Adormece!
Acordo num jardim e as árvores são a imagem captada.
Espaço vazio se não olhado.
Banco vazio se não ocupado.
Abandonado, enferrujado por ninguém se sentar.
Ou sentou e não foi visto nem viu?
Incapaz de se expor, ao ser olhado
Não mostrou ao mundo a miséria de estar só.
Ninguém reparou! Porque não gritou?
Perdeu a voz, esqueceu-se que também é imagem
De si, dos outros e do que não se capta, se não se observa.

APELO DA ALMA
O que se sente, quando se Sente?
Não é paixão, não é amor, nem amizade.
Não é nada que se conheça.
Apenas se sabe que é nascido.
É algo novo que não existe, existindo.
Não tem nome apenas É
Um apelo da alma.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O TEMPLO DA ALMA


by: Bernardino Costa
http://bernardinocosta.artelista.com

Sem forma ou paredes, apenas Existe.
Rebatem os sinos e não desperta,
Mas nada a detém.
Encontra-se em si, de si saindo
Na expansão e velocidade, no descanso do corpo.
Para retoma das forças embrenha-se nas águas!
Meio que a lança pelos quatro estados visíveis,
Transportando-a para o invisível dos estados,
Onde descansa, no voo da liberdade da aparente ausência.

(…)

Erguido em honra das divindades…
Denso nos seus ornamentos severos.
Também lugar a descoberto e elevado,
Consagrado ao espírito, na imensidão.
Lugar misterioso e respeitável
Onde habitam recordações de grandes acções.
De nada valem as pedras, as amarras, o ouro…
Correntes, cadeados ou portas cerradas.
São ferrolhos sem sentido para a Alma!
Ela tem o seu Templo, por onde ela transpira, respira,
Se dilui na água, avançando em Liberdade!
Os sinos mudos apenas a alertam para que chegou a hora!
Volta. Regressa ao templo que sereno a aguarda.

Dina Ventura Outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - IMENSO ABSTRATO



Sem se poder medir, quase sem limites tal como o oceno.
Sendo uma propriedade isolada, vê-se separada do conjunto apesar de o ser.
Agente da qualidade pura foge à pequena realidade.
Refugia-se e encontra-se na ciência abstracta de forma distorcida,
Porque preocupada, tal como a amizade, a coragem e a sabedoria;
Que existem por si próprias, podendo ser difícil de entender e praticar.
Tal como os números: 3, 8 e 4 são abstractos
Mas que não deixam de quantificar o que quisermos.
Teimosia do realismo que não sabe quantificar!
Na fotografia a realidade não está representada
E sim a realidade imaginada, visionada com os tons que quisermos.
Cada um pode criar e criará a sua própria realidade.
Vivamos de forma a não sermos apenas um imenso abstracto.

by: Dina Ventura - Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - VISÃO



Da acção ao efeito de ver, resta a imagem que se julga Ver.
Pode passar da realidade visível, aos devaneios, quimeras e fantasias
Ao que as janelas do corpo nos permitem.
Sensação particular que nos revela a presença, através da forma e cor.
A luz que promove e a lente natural apresenta.
A íris reage, o cristalino modifica e acomoda-se.
Mas se algo não funciona essa imagem deturpa-se.
A nossa essência ligada a outra maior, Vê a ideia das coisas.
Se não estiver claro e transparente, deformará as ideias percepcionadas.
Bem representada pelo animal que vive no deserto,
Que percorre caminhos insondáveis em busca de alimento
E por recear, não receia, pois adivinha os perigos à distância,
Apoiado e confiante na sua Visão.

by: Dina Ventura - Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - SONHO DE MULHER


BY : BC

A imagem que o espírito forma durante o sono ou,
Simplesmente sonhar acordado.
Profético? Ou imaginação sem fundamento, ideais quiméricos.
Serão ilusões, imaginação vã e tal como a vida um sonho.
Mas são ideias alimentadas com paixão, eivadas de fantasia.
Ficção, aspiração, formando o ser, mulher, regando-a de calda de açúcar
Tal como o bolo fofo de farinha e ovos – os sonhos.
Os sonhos são constantes. Têm de ser, alimentam a vida.
Quando não existem é porque estamos esquecidos quando acordados.
Apenas fixamos os pesadelos, o que nos atormenta.
Há que sonhar.
Seja a realização simbólica de um desejo
Ou a sublimação do sublime.
Guia celeste do Ser, cheia de graça e poesia.
Mulher, o outro lado do homem, sendo apenas parte de um todo, Homem.

by: Dina Ventura - Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - TORNADO DO ESPÍRITO



Substância incorpórea, que talvez nos conduza a Deus.
Ao pronunciar, espírito, os anjos sobrevoam o imaginário.
A nossa alma manifesta-se e sorri-nos por ser lembrada.
É nesse progresso contínuo que ela se torna no princípio pensante.
Entrega-se ao que faz, mostra aptidão e torna-se inteligente.
Contradiz-se, contradiz e eis a outra faceta.
Mas concebe com rapidez, enuncia com engenho, graciosidade e arte.
Empreende, com sentido e significado na época que demarca.
Escreve e descreve com intenção, fundamentando-se nela mesma.
Rende-se e morre, destila e torna-se volátil.
Demarca a sua presença com serenidade, enfrentando os perigos.
Torna-se santo se chama a atenção e ao vinho dá o nome.
E é neste remoinho, que os ventos se podem misturar
Tornando-se súbitos e violentos. Dos opostos formam turbilhões,
Podendo destruir com violência e rapidez.
Quando orientados servem de movimentação e crescimento,
Para seleccionar, escolher, evoluir e alcançar
Através do tornado do espírito.

by: Dina Ventura - Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - SENSITIVO



Pungente e vivo, com a capacidade de e do sentir.
Sentir o cheiro das flores, do frio e do calor!
A impressão moral da alegria e da tristeza!
As misérias alheias.
Artista que sente o que canta, pinta ou escreve.
Experimentar o que se exprime e dizer o que se sente.
Ter sensibilidade física moral, relativa aos sentidos e à sensação.
Tal como a flor que ao mínimo toque se retrai,
Também chamada de mimosa ou pudica
E apenas porque se alterou de (o) para (a).
Tal como o ser humano que à mais pequena coisa
Se melindra e sensibiliza.
Assim é o sensitivo.

by: Dina Ventura - Setembro 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER

ESFINGE

Do monstro ao fabuloso se manifesta imponente e gloriosa.
Como o Sol majestoso, que está parado mas parece girar.
Assim a esfinge, transformada em estátua marca o tempo sem parar.
De olhar impenetrável, enigmático, longínquo e inacessível
Passa por não revelar os seus segredos.
Lança-se nas asas da realidade, no simples corpo de um insecto.
É a borboleta Universal, cor cinza e carmim.
De manto disfarçado querendo aparecer.
No seu tom amoroso, de amor esvoaça, espalha o seu odor a pinheiros
No seu cinzento pálido, eivado de horizonte se mistura e demarca,
Formando a esfinge dos voadores de vida curta e longa, em contraste.
Imortalizados na estátua do monstro sagrado.

LUTA ENCEFÁLICA

Os combates em recintos fechados são asfixiantes.
Um espaço de dimensão reduzida alcança o inimaginável.
São guerras titânicas, de fugas inter-galácticas
Para a obtenção dos saberes essências que se reduzem à essência;
Só esses podem caber, resumindo-se a recipientes ínfimos
De poderes e odores concentrados. Não podem quebrar.
Se acontecesse os cheiros puros tornar-se-iam letais.
Há que gerir, há que bem tratar para repartir e exalar.
Suaves perfumes duma luta encefálica.

Dina Ventura 30 de Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER – ALQUIMIA

Sempre ouvimos falar da pedra filosofal.
Sempre os alquimistas a procuraram.
Necessidade de buscar a transformação
Ou transformação necessário para o avanço!
Quem afirma em nada acreditar, remate-a para o misticismo.
Mas para quem acredita que as nobres forçam alcançam,
Transforma os mais nobres dos ideais
Em ouro, multiplicando-o em rios!
Eles deslizam sobre as pedras,
Arrastam e carregam as filosofias do Ser.
Não param, rolam, apenas fingem parar
Para que o Homem pense durante segundos…
Que é o detentor do poder. Mas não é.
Refugia-se no presente, ausente, tentando enganar o Tempo
Que a qualquer momento lhe escapa.
Transforma o que existe, mas está preso, em verdades inesperadas.
Alquimia do Ser, ciência imbatível,
Arte na procura da panaceia Universal.

Dina Ventura 30 de Setembro de 2009

QUESTÕES DE UM SER - FORMA DO DISFORME

De grandeza desmarcada aponta o infinito.
Aprontada como horrível e monstruosa, porque indecifrável e desconhecida.
Não se sabe até onde vai o seu alcance.
Da configuração exterior, ostenta a disposição das partes…
Não passa de aparência, de contorno e do feitio de si mesma.
Pode ser, contudo, a forma graciosa no talhar das letras
Mostrando de maneira bela como tudo se manifesta.
O princípio substancial que anima a sua especificidade.
Molde que leva a alma a ser a forma do corpo vivo!

(Dina ventura - 30 de Setembro de 2009)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

MEU 2º LIVRO PUBLICADO



. SEBENTA SAGRADA
Nasceu, antes do primeiro estar terminado e foi publicado em Fevereiro de 2008:

Um dia Cília, em coma há dezassete anos, acorda, mas sem lembrança da sua vida anterior ao momento trágico. As suas memórias são agora as de outra mulher. Lucília, que morreu de acidente na mesma altura em que Cília acorda. Lucília faleceu triste, com muita mágoa e com a vida inacabada. Estas duas almas cruzam-se na vida e na morte e fazem cruzar as vidas das suas famílias, confusas com este acaso trágico e misterioso. Cília terá de encontrar os instantes perdidos da sua vida e Valéria, a narradora deste livro, será uma peça fundamental na descoberta da verdade. Com a sua profunda amizade por Cília e a preciosa ajuda de uma terceira pessoa que entrará nas suas vidas, acham as respostas para encontrar de novo o caminho certo.

A editora Caleidoscópio: Obra surpreendente e original retrata um acontecimento de transcendência espiritual sem respostas científicas. Repleta de energia positiva, ensina-nos a ter tolerâncias com o desconhecido, a encontrar respostas nos lugares menos prováveis e a desmistificá-los.

Não me julgava capaz de elaborar “um romance”. Mas insistiu em aparecer numa simples manhã ao acordar. Despertei com ele e não me largou mais até ser transposto para o papel. E assim foi, mais uma vez A CALEIDOSCÓPIO – Editora apostou em mim.
Para ser realmente sincera, não percebia porque uma editora conotada com arquitectura e toda a técnica que daí advém, estaria a apostar em alguém que não é nada na parte de literatura nem pretensões tem. Disseram-me que não podia pensar assim e que se a editora não acreditasse que não arriscaria! E pronto é esta a história, das minhas andanças na escrita! Fui-me convencendo aos poucos que “escrevia umas coisas” e isto é como tudo na vida: não se pode agradar a gregos e troianos, mas em primeiro lugar há que agradar a nós mesmos e respeitar os outros e é o que faço pois escrevo com o coração.
Mas isto tudo para agradecer, em primeiro lugar à editora e parece que estou a fazer publicidade, estou sim porque merece, se não o fizesse era ingratidão da minha parte e por outro lado faço-o porque apostou em mim mais uma vez. Até à data nunca tinha feito publicidade, anunciado de forma séria os meus livros, mas desta vez faço de forma clara. Porquê?
Porque sinceramente talvez incentive outros a fazê-lo e a que a CALEIDOSCÓPIO receba aplausos pelo que faz.
E porque mostrar os antigos??? Porque sem eles não teria chegado ao que em Outubro irá sair, mais precisamente no dia 28..

Dentro em breve o anunciarei.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MEU 1º LIVRO PUBLICADO



. Nas asas do vento encontrei Orixá – Outubro de 2007
Os “criadores de algo, ao falarem do que elaboram têm sempre a tendência a dizer “o meu trabalho”, o meu livro, o meu quadro, a minha história. Sentem-se como os donos de”. Como não faço a excepção, tento reparar o meu erro dizendo: o nosso trabalho, o nosso livro, o nosso quadro, a nossa história, pois há aqui muito de outros para além de mim.
Contra capa: Este livro fala-nos dos Orixás – Energias da Natureza, das suas origens, características e da forma como as suas vivências nos ajudam a um maior conhecimento de nós mesmos e de um melhor relacionamento com os outros.
Mas é sobretudo a história de um percurso pessoal, facilitando a descoberta do Eu, para depois possibilitar a viagem de busca para a Essência.

Foi assim que foi apresentado este livro. Sentido é verdade, mas um pouco inseguro talvez, pois não tinha nascido para ser publicado. Estava a ser escrito há trinta anos e não sabia nem imaginava que fim teria, mas nunca pensou poder ser lido para além do círculo de amigos.
Foi aqui que entrou a responsável por tudo isto: A editora Caleidoscópio. Sem ela, sem a sua motivação eu nunca o teria feito. Porquê apostar em mim? Em algo que nem romance é, memórias pesadas, poesia desde a adolescência e história de deuses da mitologia? Mas a resposta que me deram foi clara:
- Mas faz algum sentido, tirar cópias e distribuir pelos amigos? Francamente!
Foi com esta pergunta e afirmação que me decidi. Porque não? Pelo menos os meus amigos vão ter algo meu “como um livro”. Sempre escrevi e nunca me “achei” escritora, nem sei porquê! Talvez porque nos recônditos da minha memória Escritor seja algo inalcançável para o comum dos mortais! É como pintor! Palavra imensa, intensa que apenas pensada me surge automaticamente: Dali, DaVinci, Picasso, Klimt e todos os que poderia enunciar, os grandes monstros sagrados. Pois é e que fazer?
Invejá-los? Não por certo não nutro em mim esse sentimento.
Imitá-los? Não porque não tenho o seu saber
Então só me resta ser, simplesmente eu. É com isso que me apresento. Não imito ninguém, nem quero, aos outros admiro pela beleza que me permitem vislumbrar. Grata CALEIDOSCÓPIO bem hajas e quem sabe muitas portas abrirás a muito mais gente. Que te ajudem a ajudar.

Próximo tema falará sobre o segundo livro publicado: Sebenta Sagrada.

POESIA PARA MUSICAR - FADO

http://www.blogger.com/img/blank.gif
by: cb


Fado 1

Perseguir a minha alma

Enquanto a minha alma persigo
Ela abandonou-me para ir contigo!
Ouvi o teu chamado e corri
E no refugio da minha solidão
Nem ouvi o bater do coração.
Senti que me perdi para ti
Ouço a minha voz a implorar,
Não partas meu amor se eu ficar!
Respiro o ar que contigo levaste,
As lágrimas rolam sem permissão
Talvez para tentar limpar o coração.
Sinto na pele o cheiro que deixaste
E agora meu amor que partiste
Não quero saber mais do que existe.
Sinto que nunca mais te vou perder
Porque vou continuar a correr
E encontrar a alma que me levaste
Pois só me interessa reaver-te
Porque agora meu amor que partiste
Deixaste-me sem alma e sem querer
E a vida nada mais tem para Viver.


Fado 2

Deixa-me apenas não ser!

Choro e sofro sem e por querer
Porque sinto dentro de mim, o doer
Por não te ver e não estares ao meu lado.
Não sei o que dói mais, de tudo o que sinto
Se ouvir a tua voz a dizer, eu não minto
Mas não te quero mais, está acabado,
Ou fingir que estás ao meu lado sem te ter.
Não sei o que dói mais, do que este sofrer.
Olho para mim e sinto que não sou eu,
Há um esconder este amor profundo,
Infinito, sem retorno em qualquer mundo.
Sinto-me dentro de algo que já morreu.
Por ti, por nós, por nada que não tivemos,
Morri, sou um barco à toa, sem remos,
Sem rumo e nem se importa se é ruim.
Resta a dor de não ter escutado a razão,
Que gritava em surdina ao frágil coração
Não vás por aí, porque é o princípio do fim
Dum amor, que não passa dum eco sem regresso.
Por isso amor, amor da minha vida, eu te peço
Com a alma de quem ama e está a sofrer,
Não me deixes no mundo com este amor.
Eu já não sou nada e o que existe não tem valor
Por isso e por amor, deixa-me apenas não ser!

Dina Ventura 28 de Junho de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

VALE RECONHECIDO

Um vazio sereno invade-me.
Não quero regressar ao preenchimento usual.
Não há esforço! Apenas existe o estar.
Nada se move, no andamento do descanso.
Regresso a mim e sinto-me lá.
Embalo nas ondas do abandono.
Não ondulam, não enjoam, não provocam vertigem.
Sinto o deslizar profundo da vida,
O filão, o veio que sei existir mas não é visível no real.
Confunde-se comigo, encosta-se a mim
E vai em frente sem ir, sem pressa de ficar.
Anda apenas porque vai.
Solta as asas do alcance e aterra.
Nada passou, nada está e o tempo não existe por isso.
Não se expressa, não tem verbos, nem adjectivos, apenas ecos.
Tudo e nada se encontram, permanecem e falecem
No vale profundo que as ondas formaram,
Marcando a sua presença porque ausentes
Para que o eco se propague ao vale reconhecido.
Dina Ventura 25 de Agosto de 2009

NÃO SER

Percorro o deserto a passo largo e lento.
Enfrento o calor do que arrecadou
E sinto que queima, transfere e reclama.
Nada o detém, é interminável e avassalador.
Ergue-se directo ao Sol, reclamando o que é seu.
Depósitos camuflados de energia e chama
Dispersos por raios, sem dar conta do que perdeu.
O Sol repõe-se, sacode-se e refresca-se
Numa nuvem passageira!
Reergue-se e enfrenta-a com determinação.
São osmoses de poderes e de transferências visíveis.
Poderosas energias que a Natureza recicla a cada momento.
Nela se refazem e desfazem em realidades comuns.
Não as entendem, apenas se surpreendem e lhes dão nomes.
Quem sabe equinócios, auroras boreais ou relâmpagos.
Mas são eles que nos alimentam, que nos incutem
Toda uma sensação de vida devida, ao que não sabemos ser.
Porque nos transformamos em algo que não éramos,
Não seremos e apenas somos caminhos, para voltarmos a ser.
É a esperança de finalmente encontrar o que somos,
Não o reflexo do que parecemos ser ao viver o que não somos.
Dina Ventura 25 de Agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

IMAGINAÇÃO



Reflexos - óleo by:dv


Paro o olhar e movimento a mente.
Recuo no tempo avançando a saudade.
Busco corajosamente os recantos da mente.
Surgem-me ideias não novas que vagueiam
Nos espaços, porventura desertos,
Que ansiosos aguardam pela imaginação fertilizada pelo novo.
Tenho a fórmula para a criação metafórica,
Apenas aguarda a aplicação.
Ingredientes:
Recorro ao fluir de imagens, ao acelerar do passo.
É um passo mental, crescente em vontade, para a liberdade.
Há o conceito, há a liberdade e há o possuir a Liberdade.
Mente livre. Pensamento realizado na imaginação.
Requerimentos audaciosos aguardando o deferimento.
Esperas.
(in nas asas do vento encontrei - Dina Ventura)

CONTRADIÇÕES


by: Augusto Pombo

Texto dedicado a um amigo FSF.

É uma ânsia.
É um viver de ansiedade e esperas.
São renúncias. São buscas vãs num frenesim doentio.
São brilhos, são reflexos, são sombras.
Angústias.
São alentos tentadores crentes na desmistificação.
São avanços e recuos. São cortes. São pequenos nadas.
São esperas.
Não sei definir que forças me regem.
São reacções em cadeia, que põem e dispõem sem aviso prévio.
Não há registos, há apenas lembranças.
Cansaços.
Na serenidade do cansaço repousa apenas a dor.
As esperanças não morrem, o que morre é a vontade de as ter.
Não resisto às contradições. São impulsos que me fazem pensar,
Dolorosamente sentir o pensamento já magoado,
Mas teimando em se magoar.
(in nas asas do vento - Dina Ventura)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

DIFERENTE



BV: DV


Algo de diferente sinto em mim.
É, talvez, a força de vontade para querer ser diferente.
Não ouso sequer dizer que o sou,
Apenas luto para o conseguir ser.
Qual a diferença entre mim e outros
Senão o ter consciência de que sou igual,
Mas que não deixo de acreditar que poderei ser diferente.
(in nas asas do vento - Dina Ventura)

sábado, 8 de agosto de 2009

O PODER DA MENTE


bv: BC


Do entendimento do espírito
Ao decifrar da Vida e do Eu.
Revelado na imaginação através do que se cria!
Transforma os medos em Força,
A força em transcendente
E o transcendente em real!
O real da essência e da alma...
Aproximando-nos do Divino...
O Poder da Mente!

Dina Ventura 8 de Agosto de 2009

Texto dedicado a um grande amigo a quem chamo merecidamente "O poeta das Telas", o grande pintor surrealista Bernardino Costa, bem hajas amigo por tanta beleza criares e partilhares connosco!

A VISÃO


bv: jp

Existem várias coisas, entre elas as que não existem, existindo.
São essas na verdade onde tudo recomeça.
São estradas calcetadas de cubos multifacetados,
Onde não se consegue andar. Mas anda-se, porque é uma estrada.
E acontece o inevitável, a paragem,
Com medo dos ferimentos provocados pelas quinas afiadas.
Mas é um parar fictício porque o andamento continua.
As arestas vão sendo limadas,
Limadas de mansinho pelo pensamento.
Mas é preciso andar, andar, andar até que tudo
Esteja colorido pelo pó das arestas.
Cubos imaginários,
Formas disformes dum mundo uniforme em cubo.
Cubos solitários pelas arestas vazias.
(in: nas asas do vento encontrei - Dina Ventura)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

EPISÓDIOS III

“…nunca pensei que as coisas fossem assim...”
Frase que bem olhada mais me faz pensar. Quando se parte para algo tem de se ter em consideração as várias hipóteses não descorando, bem pelo contrário, as que se nos apresentam como descabidas.
Quando tal acontece, há que repensar e tentar reparar até com o mesmo método, mas já adequado à situação.
Todos temos um pouco de derrotistas. Mas admiro muito, aqueles que conseguem provar, demonstrar uma maior força vencendo. É assim que vejo. Imaginemos. A praia.
Um pouco à frente está uma criança perfeitamente convencida ter escolhido o local ideal para a sua construção. Trabalha com desenvoltura na edificação do seu lindo e tão idealizado castelo, mas esqueceu um pormenor tão importante: a maré vai subir e de certeza a água vai lá chegar. Que pena. Decidi então, de mansinho e um pouco a medo, quebrar o encantamento e dizer-lhe o que pensava. Que das minhas passagens por aquela praia tinha notado que a água chegava ali e ao passar levava consigo tudo ou quase tudo...
Olhando-me com um misto de surpresa e compreensão, não me deixou terminar e disse apenas:
- Mas agora não está aqui!
Continuou no seu trabalho, mandando-me de vez em quando um olhar como que para dizer que apesar de tudo sabia que eu estava ali, mas não “sabia” sobre o seu campo.
Fiquei apenas a olhá-lo, afastando-me um pouco para não perturbar a concentração do menino e decidi não falar mais, continuando a pensar o que iria naquela cabeça.
Permaneci ali bem quieta. Sentei-me e apoiando o queixo nos joelhos, fiquei a olhar, tentando imaginar o aspecto arquitectónico daquele castelo. Era realmente enorme tendo em consideração toda a área demarcada para a sua construção. Como iria conseguir? Sozinho?
Não me restava senão aguardar, continuando com os meus pensamentos. Havia várias hipóteses:
1- Que por milagre a maré não subisse, o que iria contra tudo o que era hábito. Mas nunca se sabe e assim o menino teria todo o tempo para acabar;
2- Que chamasse outros meninos para o ajudarem a acabar antes da maré subir. Mas aí tínhamos vários problemas: será que os outros tinham a mesma visão? Será que corresponderiam ao que o menino desejava? Ou será que o achariam pretensioso na sua ambição talvez por não pensarem como ele?
3- Que não se importava que a maré subisse, mesmo derrubando o que já tinha feito. Faria apenas até dar e depois iria embora e não ligava mais àquele castelo, pensando construir outro, noutro dia, noutro local qualquer.
4- Que o menino choraria porque a água era má, tinha realmente destruído o seu castelo e que a culpa era minha porque tinha sido eu, a adulta, a lembrar à água que o fosse destruir.
5- Que perante a destruição do seu sonho, os seus sonhos vingariam porque apesar da água lhe ter destruído aquele castelo que se via, não conseguiria destruir a imagem desse mesmo castelo dentro da sua cabeça. Tinha pena que os outros meninos não o vissem mas, talvez o conseguisse reconstruir noutro sítio ou naquele mesmo, mas noutra altura.
Despertei das minhas conjecturas, faltando-me a quinta, com a água molhando-me os pés. Lá se foi o castelo. Olhei o menino e constatei que o estado em que estava não fazia parte das hipóteses que eu havia formulado. O menino estava triste, estava meio perdido, de braços caídos, olhando apenas para a água e para os restos do castelo.
Aproximei-me mas nem deu pela minha presença. Recuei. Não quis contrariar mais o menino. Fiquei preocupada com ele. Olhei-o e vi que me lançou um leve sorriso como que para me descansar. Entendi, talvez aquela revolta e desanimo se devessem ao facto de, apesar de saber o que se iria passar, o menino querer acreditar que daquela vez iria ser diferente.
À medida que me afastava martelava-me na cabeça a hipótese que mais se adaptaria à da reacção do menino.
5- Que perante a destruição do seu sonho, os seus sonhos vingariam porque apesar da água lhe ter destruído aquele castelo que se via, não conseguiria destruir a imagem desse mesmo castelo dentro da sua cabeça. Tinha pena que os outros meninos não o vissem mas, talvez o conseguisse reconstruir noutro sítio ou naquele mesmo, mas noutra altura.
Não resisti à tentação de ver o que iria fazer e voltei àquela praia no dia seguinte. Fiquei contente, porque nas minhas hipóteses nem tudo tinha falhado, lá estava o menino novamente. Desta vez pareceu-me, apesar de o ver na mesma direcção, que estava um pouco mais afastado da água.
A areia era um pouco mais seca dificultando a tarefa ao menino que a ultrapassava molhando a areia com a água, que ia buscar num vaivém constante. Aproximei-me. Olhou-me e vi aquela tristeza lá no fundo, mas já ultrapassada por um certo brilho no olhar e com ar sério e sábio disse-me:
- Sabes...não faz mal, vou voltar a fazer de novo e desta vez ainda é mais bonito, pensei que foi melhor assim - e continuou sempre a falar exemplificando-me o que estava a dizer.
Reflecti. Tinha sido válida a invasão da água. O menino recomeçou, ponderando, ainda com mais coragem, ideias renovadas e um pouco mais cuidadoso. Voltei sempre, tentando ganhar aos poucos a confiança do menino, esforçando-me para que me deixasse ser sua amiga.
(in: nas asas do vento encontrei orixá - Dina Ventura)

EPISÓDIOS II

Algo se estava a passar.
Era como se uma força centrípeta insistisse em empurrar-me para um ponto que se chamava passado. Não oferecia muita resistência, embora não percebesse qual o objectivo.
Algo se passou.
Dei por mim, num lugar que não me era totalmente estranho, mas que naquele momento me pareceu um pouco distante e onde me sentia deslocada. Não conseguia reagir.
Tudo se processava fora do meu alcance, do meu entendimento, surgindo-me apenas uma explicação lógica para tudo aquilo: estava possivelmente numa das alturas em que confundia real e imaginário.
Mas nenhuma das explicações me parecia correcta. Eliminada uma a uma, cheguei à conclusão que apenas estava a fazer o balanço de trinta e cinco anos, num local que não sabia definir de presente, passado ou futuro.
Em catadupa, perseguindo-se, atropelando-se, as questões surgiam dificultando ainda mais aquela árdua tarefa de retrocesso. Porquê nesta altura? Por onde começar?
Era como um puzzle de milhares de peças, completamente misturadas, que ansiavam que alguém, cheio de coragem e paciência as colocasse no lugar certo.
Que difícil tarefa mesmo para um profissional. As referências confundiam-se esbatidas no tempo esquecidas, pensando até serem obsoletas. Tinha de começar por algo. Tentei por ponto final na minha confusão e esquecer, por momentos, tudo aquilo.
Decidi descansar, deixar que as coisas acontecessem ao acaso.
Estava em casa há já algum tempo, tentando que alguma coisa diferente acontecesse, mas vendo que tudo se mantinha na mesma, resolvi-me pelo movimento exterior. Saí.
O meu cansaço enfastiou-se ainda mais. Tudo se mantinha igual. Nada, nem uma leve brisa de novidade! Tento recriar, através de escrita enrolada, o enrolo em que me encontrava. É desgastante sentir um não se sabe o quê, por mais que se tente explicar.
Invejo os momentos de um filme em que me sinto lá. É um espaço de tempo curto mas chego a pensar ou melhor, a sentir que é possível estar-se. Mas tudo não passa de ficção. A realidade do nosso verdadeiro filme é mais difícil, mas não impossível!
Porque não utilizar a imaginação, para atingir de forma mais real o filme que nos pertence e onde nos propomos desempenhar da melhor forma possível o nosso papel. Cabe-nos algum de certeza e por menor que seja, nunca será o de espectadores passivos do nosso próprio desempenho. Meros espectadores para melhor apreciarmos, até devemos ser, mas de uma forma activa. Passaríamos à fase do pensar sobre a nossa representação, o nosso desempenho. Aí teríamos de conseguir o desdobramento, o que não sendo fácil, seria no entanto a mostra de toda uma vida cheia de Vida e de papéis desempenhados de Verdade.
(in nas asas do vento encontrei orixá - Dina Ventura)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

EPISÓDIOS I


Lápis: by dv

Não sei ao certo quantos já foram feitos. O que realmente sei é que vou voltar a fazer não sendo provavelmente a última vez.
Já lhe chamei balanço, mas desta vez será ponto da situação.
Lendo ou relendo alguns autores, sinto vontade de o ser, não por mera vontade física e material, mas sim por necessidade interior.
Apesar de haver momentos em que não consigo reflexões profundas, tento pelo menos não deixar escapar a possibilidade de me questionar sobre a razão de tal letargia.
Já escrevi sobre tantas coisas. Foram postas em causa tantas outras, que chego a pensar que o stock de palavras se esgotou.
A produção é escassa para a procura a que me obrigo. Não me posso acomodar a essa ideia, seria uma forma muito fácil de nada fazer.
Mas tal como tudo na vida, é um pouco doloroso começar...recomeçar.
As coisas não são tão lineares como já o foram. Há uma certa dificuldade em transmitir o que pretendo, que vendo bem não sei ao certo o que será.
Ainda não consegui engrenar, não cheguei àquele ponto de paragem do olhar para o exterior. Rodar o olhar 180 graus e recomeçar a ver!
É tudo uma questão de concentração. É um pouco caricato, mas para o conseguir tenho de deixar de pensar e apenas começar a sentir o pensamento. Há um desdobramento, passando a ser uma mera leitora do meu pensamento.
Parafraseando-me “só sinto que não sinto, vontade de sentir o que sinto”.
Chego à conclusão que não será isso neste momento. Gostava de sentir, construir algo de novo, uma ideia inovadora.
Enquanto descanso a caneta entre os dedos o olhar parou!
Algo despertou a minha atenção. Mas como pode algo tão simples...o que importa é que aconteceu. E lá estou eu...onde?
Num campo, ou melhor, no campo assim me parece. Um pequeno carreiro, dividindo uma parcela de terreno. Dum lado, muito verde, refrescando o ar quente com aquele cheiro intenso que caracteriza o limoeiro, contrastando com o amarelo dos limões bem maduros. Do outro, apenas o restolho de algo que terá sido noutra estação, bem viçoso e fresco.
Nem a água que a caleira deixa escapar chegou para refrescar. Apenas alguns malmequeres selvagens conseguem sobreviver àquele calor intenso, provocando no restolho a sensação de miragem. Tudo se torna um pouco irreal.
Avanço um pouco, evitando pisar uma aparentemente frágil flor, sentindo sob os meus pés a dureza daqueles restos que mesmo assim, atapetam um pouco aquele solo ressequido.
É estranho. Dum lado aquele fresco intenso dos limoeiros salpicados de amarelo, do outro bem perto, um terreno tão agreste, tão desértico, tendo como único objectivo o receber em directo aqueles raios, que mais parecem fogo, na esperança de que uma nova sementeira o venha refrescar.
Mas algo me fez parar. De susto talvez não, mas de surpresa. Afinal aquele solo servia de abrigo para alguém.
Deliciosamente ali estavam. Uma família, deduzi, reluzentes nos seus casacos novos, jazendo os antigos a seu lado. Eram três. Duas enormes ladeando uma mais pequena de olhar vivo como que para a protegeram.
Mostravam um contentamento letárgico sob aquele sol escaldante. Encontrava-me a um passo delas. Um arrepio percorreu-me, imobilizando-me. Senti os olhos delas cravados em mim, seria possível? Talvez não. De repente, como que despertas de um sono profundo, lançaram-se para o lado oposto ao que me encontrava, até que as perdesse de vista.
Num sussurro como se falasse para alguém que estava bem perto de mim apenas consegui articular em forma de suspiro, permanecendo estática:
-São...eram...cobras de Verão...
E num gesto calmo sentei-me no restolho áspero e quente, para recuperar do susto!
(in: nas asas do vento encontrei orixá - Dina Ventura)

CIÊNCIA DE SER

Publicado em 29 de Abril de 2009.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

SORRISO INTERIOR

DUAS METADES
Óleo bv: Nanduxa

Há a contenção. Portanto algo guardado, intimo, não revelado!

Será? Independente de que tipo for, não deixa de o ser.

Basta-lhe ganhar, ou simplesmente retirar-se da luta

E esconder-se em sim mesmo, num acto de recato.

Timidez, alegria ou tristeza contidos no sentimento de auto desafio.

E na sua definição, se a tiver, contém muitas variantes:

Agradáveis, leves, irónicas ou desprezos, quem sabe inconstantes.

Não faz ruído, talvez nem o mundo nem se aperceba

Do ligeiro alterar de lábios, ou nem consiga decifrar

O que a íris não quer, mas é impossível e deixa passar.

Está dentro sim, mas transmite, repercute pois é um sinal,

Diz respeito à alma ou natureza moral.

A consciência íntima é um mar, que se encontra circundado

Por terras, ou circunscrito por continentes, mas

Ele é o próprio e faz, ou não, oposição a estrangeiros.

Se o sorriso interior projecta o sentir a perda, o reclamar

Ou mesmo o comover, vai ter de verter ou derramar as gotas de água

E quem sabe, chorar de alegria ou da dor do cicatrizar!

Será? Como a videira que ao ser podada deixa escapar a seiva

Por ter sido golpeada, ela chora ou sorri?

Ninguém sabe traduzir.

Depende do que se interpreta e o que cada alma sabe de si!

É uma questão de cultura interna, que tal como noutras,

O sorriso passa a choro declarado, através do cantar e dançar

Ao som duma viola. Quem sabe pedir, de forma ardilosa,

Escondendo o verdadeiro pedido.

Chorar misérias, ou pedir algo e por algo usar de lérias.

Será secretamente lastimar-se por uma facto irremediável?

Ou um sentido pranto, de dor e arrependimento

Bem dentro, bem fundo, reprimido e que sustém a acção.

Proibir-se, conter-se, será uma forma de morrer ou vencer.

Que o sorriso se manifeste, no e do interior, assim saberemos.

Dina Ventura 15 de Julho de 2009


terça-feira, 14 de julho de 2009

ENCANTO

by: Romanelly



Segredo que não é conhecido

Mas se revela no enlevo da alma.

Singelo, harmonioso e contido.

Cofre secreto donde nada se espera,

Desliza apenas no sonho, com calma

Suave. É a brisa que apenas embala

E sem razão reflecte as marés.

Vão e vem, hipnotizando as estrelas

Que caem na água e transformam,

O mar em céu e me fazem voar.

O céu não as perde, só as empresta

Para as águas opacas poderem brilhar!

Para que nas águas eu possa colhê-las

Dar-lhe vida e tas entregar.

Num simples olhar, nem tocar é preciso

Na luz o abraço, nas estrelas o sorriso.

Reflecte-se na água o sentir eterno

Da figura não humana do sentir

Retorna-se ao mais profundo do ser

À essência de nós, que nos faz abrir

Os caminhos do Universo e Viver

O encanto de mim, do mundo a meus pés,

No sol o abraço, nas estrelas o sorriso

Que sem razão reflecte as marés!

Dina Ventura 9 de Julho de 2009