quinta-feira, 19 de agosto de 2010

EU E ELE


As diferenças
Estão
No manejo da inteligência
De forma pouco harmoniosa
Com as tradições.
Será o acto poético uma mentira?
Será a poesia apenas
Arredores do meu íntimo?
Tenho sempre de regressar a mim
Tenho de olhar
Todas as maneiras de ser
E sentir com o que me cruzei.
Chega a altura de me fechar
Bem dentro do meu espírito
E Escutar
A minha sensibilidade
Não me deixa
Envolver por dogmas
Não me deixa aceitar sem compreender.
Para que entenda a vida e os seus enigmas
Não
A solução não está na religião.
Está no Eu.
Há no Ser e Sentir.
A religião da palavra
Proferida com Energia
Emanada da alma.
O meu laboratório
A minha alquimia profética
É a escrita.
Nela, experiencio, me ouço e me entendo.
Me Toco
E encontro Algo para além de mim.
Gostava que sentissem o que escrevo
Mas sei que não é possível
Pois tudo o que escrevo
Na minha Alma fica
E na minha carne se impressa.
Seja a dor física ou da alma
As alegrias ou tristezas
Os sofrimentos recônditos
Que não consigo passar.
Sendo dor dos meus sentidos
Refugia-se no que sinto
Enquanto que quem lê
Sente, mas o que é dele
Porque não minto
No que sinto
E faz doer.
Portanto rebusco como se pode sentir
O que não é nosso, nem foi
E do que se pode gostar
Depois de imaginar.
Olhei Pessoa e questionei-me
Se serei como diz
“Que a sinceridade emocional, falha de verdadeira sinceridade”
Talvez, pois acho que a alma dita
E não tem vida na terra
Pois pertence a outro lugar.
A minha chave está
Na minha personalidade, desde criança.
Desde a inadaptação ao presente
A “saudade de qualquer coisa”
A quem chamo quem sabe futuro
Ou no fundo a saudade de um lugar
De onde vim.
Com a saudade psíquica
Relembro
Com a saudade metafísica,
Quero acreditar
Que existe.
É um Lar.
Ou serão as minhas raízes índias
Que me tentam alertar
Ligadas a um passado longínquo
Para ouvir o chamado e acreditar.
De tal modo abstracto e vago
Que há a transferência para o futuro
Talvez a viabilização de encontrar
A forma de saltar o muro.
Será que a alma de poeta tem pátria?
Ou tem simplesmente Universo?
É presunção?
Ou constatação?
A escrita serve sempre de elemento compensador
De tudo o que falta, não existe ou não se conhece.
Luto para ser ponderada
E a alma por vezes rejeita…
Quer ser livre
Quer lançar-se no vento
Por isso nas asas do vento encontrei.
O meu destino está em mim
E na escrita me alimento.
São tempestades mentais
Bonanças reconfortantes,
Terapias empolgantes
E descansos fluviais.
Força Universal
Que envolve todos os seres
Que faz de todos poetas
Mesmo não querendo ser.
Existe algo na minha mente
Que vai regando a minha escrita
Pode ser sentimento indefinido
Para quem não acredita.
É um paraíso perdido
Perdido no antes de nascer
Um acto de ser feito
Enquanto se percorre a vida
Ou quem sabe ao morrer.
No fundo será
Nesse local distante,
Mas presente
Mesmo ausente,
Onde a inspiração brota.
É no desamor que se preenche
Pois o amor de carne é.
O que me comanda é o espírito
Por isso sinto o espírito apenas.
Fiz sempre tudo sozinha
Nunca copiei de alguém
E agora ao ler o que leio
Não consigo entender
Se o fazem porque é bem
Ou se porque nasce do ser.
E depois de parar para pensar
Foi o que ganhei por querer
Pensei sentir inveja
Por o fazerem “bem feito”
Mas afinal não era isso.
Por defeito ou qualidade
Eu preciso ser diferente
Na minha forma de ser
Gosto de ser Eu,
Sendo gente.
Sou livre ao escrever
Mesmo em verso e não verso
Consigo dizer o que sou
Não quero
Parecer-me com ninguém
Porque é de mim que dou
Mesmo que me achem não poeta
Porque sinto a alma repleta
No que é meu e não emprestado.
Não gosto de influências
Gosto de seguir em liberdade
Só tenho pena de não saber escrever
Como uma grande sumidade.
Mas não nasci para isso
Nasci para mostrar quem sou
E mesmo apoiada no que era
Até parecendo feitiço
Nunca desesperei na espera.
E quando me apaixonei
Pela alma de Pessoa
Senti que o reneguei
Pela minha escrita não ser boa.
Mas depois da paixão assumida
Interiorizei na minha alma
Que o não ser conhecida
Me trazia muito mais calma!
E mesmo com dúvidas
Planto e semeio
Na alma
As flores.
Enfrento
Com algumas dores
De peito aberto
As palavras
Sem receio.

Dina Ventura 20 de Agosto de 2010