quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PAREDES FORRADAS

Forrada de papel, de cetim, de madeira ou pedra, mudou?
Mas ela continua lá. Muda a fachada mas o conteúdo é o mesmo.
Não será. Talvez por oculto, mais corroído se torna.
Jaz inerte, sem respirar e aparenta a cara que não tem.
Roça-se no disfarce airoso da beleza que não é sua e convence-se.
Ninguém ousará retirar-lhe os enfeites.
E assim recomposta, numa vaidade comprada, vive.
Cega, porque vê por olhos que não são os seus.
Surda, porque não é aos seus ouvidos que os sons se dirigem.
Muda, porque não se pode denunciar.
Ausente, mesmo presente, porque o que prevalece são as capas.
Se na fúria da liberdade, arranca o que a forra que vê?
Restos da tinta original. Mistura de caliça com cola.
Desenhos desbotados de um papel arrancado.
Resta a parede que tentando firmeza, aguarda.
Não se convencendo que não passa, mesmo sem o forro,
De mais e apenas, uma parede forrada.

Dina Ventura – 27 de Dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

DESRESPEITOS - INCONSCIÊNCIAS

Vou escrever porque estou a levar as coisas a sério. Significa a partir do momento em que se pensam, não podendo deixar de ter em conta as inúmeras vertentes que vou descrever, não eliminando a do não sério, pois ficará uma exposição mais completa.
Hipótese 1 – Não sério
.Falar por falar;
.Dizer que se sente, sem sentir;
.Ter muito tempo disponível e ter de se encontrar formas de o preencher;
.Aposta, não se podendo desistir para não denegrir a imagem;
.Fornecimento de dados para apenas preencher o curriculum vitae.
Concluo que nenhum de nós consegue ser tão pobre ao ponto de se limitar a tão pouco, portanto hipótese 1 excluída.
Hipótese 2 – Sério
Existem milhares de sérios e alguns não o sendo, não deixam de o ser também.
.Não capacidade de encontrar equilíbrio;
.Posse de bens com ambição de alcançar sempre mais, tirando disso proveito próprio;
.Insatisfação perante o tudo que se tem, não o descurando, mas tentando compensações;
.Necessidade de correr em campos alheios para activar os músculos um pouco perros;
.Necessidade de dar vazão ao espírito aventureiro que cada um de nós possui;
.Necessidade de reviver os gritos da adolescência nos impulsos naturais;
.Gosto pelo proibido e necessidade de o sentir, também fisicamente;
.Procura incessante do novo, como reabastecimento do velho já cansado;
.Carências, um pouco apagadas, que sem autorização resolvem emergir;
.Procura de emoções novas e fortes, como lufada de ar fresco na existência;
.Atracções, simplesmente, que não encontram estabilidade;
.Gosto pelo jogo, não se gostando de perder;
.Regras quebradas pelo facto de o serem;
.Almas sonhadoras em busca de lugares secretos;
.Encontros apenas pela necessidade de se darem;
.Correria um pouco louca em busca do ar que nos falta;
.Desejo de não pensar pelo tanto que se pensa;
.Confusão, sabendo-se sempre o que é;
.Ansiedade, sem sequer se ser dono da ânsia de querer;
.Causas não explicáveis à priori para efeitos super rápidos;
.Acontecimentos ao longo do tempo acontecendo, acabando por ser apenas uma narração;
.Super valorização de algo que apenas existe simplesmente;
.Necessidade de dar, por vezes não acontecendo no lugar e tempo certos;
.Necessidade de receber, o que por vezes não se aceita de quem nos quer oferecer;
.Contradições naturais no que dentro de nós existe;
.Necessidade de nunca se perder o espírito de conquista;
.Necessidade e vontade de estar onde não se pode ou com quem não se deve;
.Apenas vontades;
.Necessidade de algo ou de alguém que faz com que os dias se tornem muito difíceis;
.Gostar apenas.
Todas estas hipóteses são sérias a partir do momento em que existem, mas será assim tão simples? É, porque se não o fosse tudo se processaria de forma diferente. Portanto há que analisar cada uma destas hipóteses até se conseguir encontrar uma resposta. Para quê encontrá-la? Mais que não seja para conhecermos melhor a nós próprios e sabermos porque somos, o que somos, para que somos.
Tudo é sério. Assim sendo, tudo terá de ser tomado em consideração e após dissecação de todos os pontos a que conclusão se chega? Tudo poderá funcionar em perfeito equilíbrio? Temos capacidade para tal? Ou seremos como os sapatos? É preferível termos vários pares pois a sua duração será muito mais longa. Coitado do par único, como conseguirá combinar com tudo e tudo palmilhar? Não! Têm de existir vários pares, para quem tiver capacidade para tal! Temos? Então sejamos sapatos!
Estou furiosa porque não quero ser sapatos. Mas não o seremos realmente?
Data: Não interessa a localização no tempo, pois não deixo de acreditar que sempre existirá quem pense!
Dina Ventura in: nas asas do vento encontrei

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PAI NATAL

Enquanto olhava o Tempo, surgiu sem ser esperado.
Olhou-me sorrindo mas não parou.
Lançou palavras cantadas que o meu coração escutou.
Nada te trago, pois não preciso provar-te que existo.
Aqui estou.
Olho-te a tristeza na alma, por quem prometeu e falhou.
Mas nada posso fazer.
Acompanho-te, não te esqueci, porque sem ti não existo.
Mas a caminhada prossegue. Tento encontrar quem não me vê.
Por esses te deixo a ti.
Sei que merecias um presente, mas nada tenho para te dar.
Foste tu que me deste e me fizeste acreditar.
Que vale a pena não desistir, sonhar e esperar.
Mesmo que a dor vagueie pelo espaço onde a vida irá de nascer
E a sapiência da espera faça acontecer.
Mas...voltarei, senão me esqueceres voltarei.
E com este som se afastou,
Deixando-me só em mim com a sensação de já não estar.
Dina Ventura - 25 de Dezembro de 2009