quarta-feira, 14 de julho de 2010

REGATOS DA CONCENTRAÇÃO


Simples cantatas que se embrenham no ar térreo.
Imagem quadro duma solidão não só.
Esvoaçar sem esforço dentro de si próprio.
Transporte.
Passeio calmo na margem enevoada
Dum cinzento claro impregnado de luz,
Envolvendo cada passo, aveludando o caminho.
Não vontade de pensar na vontade de criar.
Deixar que o tempo viva sem no entanto o notar.
Beber do ar diferente sem ser preciso respirar.
Abandono.
Fluir de ideias loucas sem as querer prender,
Como regato rebelde, sem leito a percorrer.
Encanto das mil noites, enquanto nelas viver,
Inspirar total, sentindo o corpo renascer.
Instantâneos.
Anestesia natural percorrendo as veias,
Estado de embriaguez profundo
Com o cheiro a Natureza.
Osmose plenamente sentida,
Confundindo-me com a paisagem.
Entorpecimento total surgindo-me a dúvida se...
...serei realmente o que era
Ou será que me tornei no Natural...
Sem morrer, morrendo para o que de mim me afasta.
Com um suspiro chego à parte mais elevada,
O regato confunde-se com a terra húmida
E faz-me não esquecer.
Reparo com espanto que já não está cinzento claro.
Em pleno, o Sol brilha e o regato reaparece,
Pequeno fio transparente, que espreita antes de se lançar...
...ao encontro dum espaço leito que o leve a algures,
Não apenas para ir, mas sim por querer!

Dina Ventura