Os três estados dificultam o dizer.
Por serem três fazem com que me perca.
Há sempre o perder algo até chegar.
Vejo lá dentro, sinto e escrevo, perdendo grande parte do que era.
Fica muito pouco.
Mal consigo conter a raiva perante a incapacidade.
Então volto-me para ela, porque não?
Se ela existe é por alguma razão e é a ela que terei de pedir ajuda.
Essa incapacidade sente-se perseguida e atraiçoa-me,
Com pensamentos duplos, triplos,
Até que finge compreender-me para que eu não a veja.
Desculpa-se com os estados, com o pensamento descodificado,
Com a surdez interior.
Chama-me de inferior.
Ela vive dentro de mim, eu sou a sua casa.
Então é ela que me conhece, é ela que ordena.
Há a revolta. Ri-se de mim.
Ela é que me abandona quando quiser,
Quando esta casa já não lhe servir, sai.
Há tantos lugares por aí.
Mas sinto-me satisfeita porque me apercebi dela.
Tornou-se um fardo, um peso que não me faz vergar.
Mas faz-me pensar, agir e tentar
Encontrar a melhor forma de a transportar...
... Incapacidade.
(In: nas asas do vento encontrei orixá) - Dina Ventura