segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A CHEGADA - I - ENTRO


Tela (pormenor) do pintor Bernardino Costa

Prostrada perante mim,
Embalada pelo calor que se faz sentir,
Olho sem conseguir enxergar nitidamente ao longe,
Mas semicerrando os olhos
Os contornos tornam-se mais nítidos.
Vou aproximar-me mais,
Apesar de saber que o caminho poderá ser longo,
Inútil e quem sabe, sem fim.
Compenso o calor desagradável
Com pensamentos frescos,
Ando sem parar,
Deixando que o fresco interior
Me apazigúe a caminhada.
Todo o percurso é árido, ressequido,
Apenas quebrado por uma solitária verdura
Que teima em sobreviver,
Um pouco fora do sítio.
Olhando mais atentamente para o seu verde,
Recobro as forças para avançar
Em direcção ao que me parece estar ao longe,
No fim da caminhada.
Esperança muito real,
Pois será onde descansarei após tal percurso.
Chego.
Paro e vejo que aparentemente valeu a pena.
Não sei se o interior será melhor ou pior,
Só sei que a entrada é frondosa
E dum verde inimaginável.
Folhas balançam de mansinho
Como que para afastar o calor,
Protegendo aquela entrada, gruta talvez,
Refrescada por uma pequena cascata
Com ar de velha habitante,
Que mais parece querer preservá-la.
Tudo me é familiar.
Com facilidade contorno um pequeno lago natural,
Equilibrando-me sobre as pedras
Que parecem postas ali ao acaso
Mas propositadamente alinhadas.
Chego à entrada
Um pouco dissimulada por plantas altas,
Canas que se vergam em sinal de vénia respeitosa
À luz que deixam entar.
Entro.

Dina Ventura - in: nas asas do vento encontrei

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