Existem
Ocasiões que se apelidam de nada.
São momentos de coisa nenhuma.
Foi assim que me senti
Como que fechada num recinto
Sem paisagens ou ideias
Que me fazem criar
E no papel manifestar.
Mas as palavras estão “desgrávidas”
Porque abortaram o conteúdo
Mas teimam em exibir-se
Mesmo não viventes
Repetem-se intermitentes
Forma última de chamar a razão.
Chamam porque não podem parar
Não dão descanso
Porque o interior não quer guardar.
O cansaço vence
A inércia faz
Com que o interior se movimente
Para tender ao equilíbrio.
Relanço olhares antigos
Já perdidos no presente
E ao futuro prometidos
Recomendam afastamento
Do bulício que incomoda
Da maldade subtil
Que tanto está na moda
Que de poemas faz ardil
Do amor a ratoeira
Sacode os panos coloridos
Que levantam a poeira
Que não deixam ver.
E eu caio na sonolência
Que empurra a inspiração
Ela repudia as contagens
Da realidade ferida
Em que apenas existe o espaço
Onde a alma se refugia,
Quando perdida
Ou então enjoada
Do aproveitamento infeliz
Da gente que se diz amada
Mas que à vista não condiz.
Dina Ventura - "Only me" - 12 de Novembro 2010
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