quarta-feira, 29 de abril de 2009

CIÊNCIA DE SER

Apetece-me que me apeteça algo,

Nem que seja apenas apetecer que algo me aconteça.

Parecem frases loucas, de quem nada quer nem tem para dizer.

Mas não é o caso. Têm muito que se lhes diga.

E senão vejamos o que haverá que não se vê.

É como um campo vasto que se perde ao fundo,

Que nos transmite a liberdade da imensidão,

Mas nos faz sentir presos à sua própria dimensão.

Transmite-nos sem no entanto deixar que se usufrua.

Faz com que nos sintamos presos da nossa própria liberdade.

Há que tomar a liberdade, liberta de si

Sem no entanto deixar de ser.

Recorramos ao mundo. Deixemos a ciência.

Tem que chegue...

Apossa-se de mim o sexto sentido, a insignificância.

Recorro a ele para ver o que me rodeia.

Nada consigo ver para além da grandeza do que me envolve.

Estou farta destas palavras. Têm de existir outras...

Como definir tudo com o que possuo, se já estão gastas as definições.

Não quero definir. Não posso, não quero definições.

Vou deixar que as coisas se definam por si.

Mas sem mim como será que serão?

Posso questionar mas serei sempre eu.

Estou farta de mim, de questões de mim. Como poderei saber sem mim?

Tem de haver forma de eu saber.

Recorro à Ciência. Embalo na ânsia de saber. Recorro às fórmulas

Feitas por outros que não eu. Aplico-as em mim, porque não...

Eu saberei por mim como se não o fosse.

Há que refazer tudo de novo. Assim nos ordena a Ciência.

Como poderá ser que sendo eu sem ser e sendo ela o que é, o resultado se alterou.

Algo funcionou de forma deficiente. A experiência falhou.

Vamos começar de novo. E se eu alterar?

Não posso a ciência o ordenou.

Começo a ficar enervada, mas chega. Não tenho nervos.

Sou um, como tantos outros, igual.

Deixámos de ver. Cegueira colectiva. Estou farta da ciência material.

Vou novamente para a rua, quero ver a imensidão sem pormenor.

Perdida por perdida deixem-me sonhar.

Não vou ser mais um que a ciência vai sacrificar.

Que se danem as experiências para o bem comunal.

Não quero mais aparato. Quero viver sem edital,

Mesmo farta de não conseguir ver sem mim.

Mas quanto a isso nada posso fazer. É predestinação do Ser.

Nasci comigo, tem de ser. Tenho de me conformar.

Não vai ser possível encontrar sem mim, mas vou tentar.

Quando conseguir, afasto-me de mim e vou pensar.

Tenho de tentar. Experiência. Voltamos à ciência.

Mas desta vez é diferente, tentarei outro caminho:

Vou, sem que eu vá. Não quero a Lei de mim.

Quero apenas que me apeteça tentar, com e sem mim,

Apenas como Ciência de Ser.

(in: nas asas do vento encontrei)

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