Chove! Apodera-se de mim uma tristeza real.
Algo parecido com paragem interior, insatisfação repousante.
Tudo me chama à meditação. É uma força urgente.
Gosto dessa chuva, mas neste momento desejava apenas ouvi-la, vê-la talvez, mas não a queria sentir.
Mas não! Ela cai sobre mim sem piedade.
Porque existes miséria!
Porque não tem o mundo conforto, para se poder sentir o que é belo!
Porque sendo a chuva bela, a não me deixam ver sem magoar?
Deito-me aconchegando contra mim a roupa molhada e fria.
Tenho de ser forte para conseguir.
Medito.
Mas que vejo? Já não há chuva, tudo se transformou!
Estou envolvida. Sinto-me leve como se voasse.
E é verdade, voo debaixo d’água.
Já não há chuva que me magoe. Estou protegida por todas as chuvas.
Sou acariciada por todas as plantas
E como são macias, tão macias que mal as sinto.
Agora apenas chovem bolhinhas d’ar. É engraçado,
Chove para cima... bolhinhas d’ar.
É chuva ao contrário, por isso é linda e não magoa.
Quando lhe toco desfaz-se para não me magoar.
Sinto-me feliz, porque a chuva já não me magoa nem é fria.
Sinto-me molhada, mas é um beijo acariciador das chuvas.
Sou feliz, porque acordei com a chuva a cair-me na cara.
Já me senti triste por isso acontecer, mas agora é diferente
Porque a chuva não é má,
Foi ela que me mostrou as outras chuvas
Que me protegeram e fizeram feliz.
Foi ela que me mostrou que não existe só miséria
E que pelo menos em sonhos tenho o direito a ser feliz!
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