domingo, 19 de julho de 2015

                                                              óleo de Dina Ventura

Sintonias

Confesso que é evidente
Que nasce, cresce e floresce
E nunca se ausenta.
E mesmo sem saber o que representa
Se tem forma e transparece
É algo que nos aquece
E molda a alma em cor
Fica estática na espera
Reage ao menor calor.
Da palavra que a descreve
E se trancreve como amor
Tenta analisar e não consegue
Porque a razão adormeceu
Deixando que a alma se solte
Pois sabe que o infinito é seu.
Assim, gosta de sonhar acordada
Dormir ao som dos embalos
Dos sons do próprio silêncio.
Recomeça do nada
Sente o vazio do vazio
Escaparam-se as palavras bonitas
Porque não fariam sentido.
E no meio desse mistério
Declara a brisa sagrada
Que se tornou num templo
Por se sentir tão amada.
Os medos cairam por terra
A terra enterrou a matéria
A matéria não se entregou
E só o amor restou.
E na dança de uma alma apenas
Se torna o pequeno em imenso
Ficando a saudade em silêncio
Para ouvir o som do intenso.


Dina Ventura – “only me”

4 comentários:

  1. (Aqui vai o mesmo comentário que escrevi no facebook. É merecido!) A poesia situa-se muito para além do entendimento. A interpretação cai em erro, é limitada. Podemos sentir o poema. Deixar-nos guiar pela melodia que nos envia o poeta. Este sentir poeta/leitor gera uma sensação de plenitude, partilha e algumas vezes êxtase pelo facto de alcançarmos a unidade dos seres, que nunca se alcança através de hermenêuticas mas sim através de vibração semelhante. O silêncio, o amor, nascimento, medo, matéria, alma e infinito são conceitos que juntos empreendem a dança misteriosa da VIDA. O ciclo sagrado da existência adquire sentido quando o amor abrange os outros estados. Na metamorfose dos elementos é o amor que serve de ligação, de cordão umbilical... Um abraço.

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