segunda-feira, 8 de junho de 2009

EM VINTE CINTO DIAS

Enquanto descanso penso.

Escrevo e canso-me de não conseguir.

Não é isto que quero. Sinto-me, mais uma vez, incapacitada.

No mar das letras flutuo, sentindo o enjoo devido à ondulação.

É um mar agitado, revolto até,

Mas tornando-se tão calmo à medida que se mergulha.

Quanto mais profundo mais calmo.

Apesar das correntes por vezes bem fortes,

Que se não nos precavemos nos arrastam, quem sabe para o abismo.

Tal como velhos navios naufragados,

Perdidos nas profundezas, mas repletos de tesouros cobiçados,

Mas que só aos mares pertencem.

Reagindo às vagas, respiro às escondidas renovando o ar.

Esquecimento no mergulhar profundo desse desconhecido.

Curiosidade receosa do que se poderá encontrar,

Ou receio curioso de não haver nada para Além.

Queda flutuante, rasando o que aí permanece.

Passagem brusca sem de nada se aperceber,

Constatação da Existência, sem no entanto poder provar.

Abandono consciente, ao seu próprio conhecimento.

Rochedos gigantes, que mais parecem grãos nesta imensidão.

Termos de comparação em queda livre.

Sonolência adquirida com o passar dos dias.

Mergulho esgotado rendendo-se ao cansaço.

Despertar longínquo enquanto flutua,

Descrevendo factos ao sabor do tempo, sem Tempo,

Como Memórias sem fecho de contas.

Nada de obrigatório a apresentar,

Apenas simplesmente representar o que vai no espírito.

Liberto ou não o que conta é que está e quer estar.

Esforços nunca em vão para conseguir algo,

Mesmo dificultado pelo emaranhado de tarefas.

Apenas quero teimar. Tentar a participação de mim com o que faço.

Não há uma sequência lógica, mas terá necessariamente de existir.

É apenas a demonstração dos Estados:

Do que se passa com um ser que vive,

Que vai vivendo, olhando para o lados

E por vezes centrando-se em si e nos outros.

Vão haver muitos cortes, passagens bruscas,

Mas de nada adianta tentar refrear o instinto.

Vou-me repetir, vou-me desdizer, Vou.

Vejam que coisa inédita escrever sem escrever.

Confissões absurdas a um papel rascunho,

Projecções do espírito apenas porque existem

E não por quererem ou não serem capaz de dialogar com outros.

Espíritos ou não, algo reage ao que se poderá chamar de pensamento.

São engrenagens complicadas do Ser, que o ultrapassam em Sabedoria!

Como pode o Homem conhecer-se, se a si próprio se ultrapassa.

Ou será que há partes dele que não lhe pertencem?

São questões e mais questões que fazem mover geringonças,

Que funcionam como lubrificantes das cadeias cerebrais,

Irritantes porque nos fazem tropeçar nas armadilhas

Que sem nos apercebermos da sua matéria-prima as adoptamos.

Sentada, olhando uma planta, penso

Livre, no meu estado de vida.

Pergunto-me o quê de existir desta ou daquela forma,

Em espaços limitados, mas sem no entanto me limitarem.

Entrego-me a estes pensamentos isolados, não me deixando estar só.

Reconheço a falta de originalidade ao questionar-me,

Mas reconheço que se torna útil para a minha sobrevivência.

Sobrevivendo, recuso que quem quer que seja me tire essa hipótese.

Não quero morrer para a vida, quero lutar por ela,

Lutar pelo lugar que ela me deve.

Sinto-me embalada no doce soar das palavras,

Como se o tal mar revolto se tornasse gradualmente calmo.

Chamem-lhe acessos de romantismo ou alimentar de ilusões.

Não importa, o que conta sim é o brotar de algo em mim.

O renascer de capacidades inatas, talvez, mas que necessitam ajuda.

Há que cuidar do que de bonito existe à nossa volta.

Porque não olharmos para dentro de nós, apreendermos o geral

E com gestos precisos como ceifeiras experientes, fazermos a monda.

Das ervas daninhas arrancadas, há que fazer nova escolha,

Quem sabe se em local adequado não se tornarão necessárias também.

Há que aproveitar tudo o que em nós existe, encaminhando-o,

Fazendo-se enxertias, regas constantes, renovando a terra e fertilizando-a,

Procurando assim que dessa seiva bruta, surja uma seiva elaborada

Que nos permita alimentar o espírito na máxima transparência.

Reflexos de águas movimentadas de um simples riacho,

Mas que possuem o elemento primordial do mar imenso.

Nuvens que espelham nas águas, em tom escuro, a sua cor clara.

Choques violentos no encontro de águas, numa foz distante.

Não sanidade mental para prosseguir viagem.

Arrependimento do que está feito, sem alteração no que se faz.

Cursos errados de águas apressadas, impossibilitadas de mudança de rumo.

Enjoo das águas, impulso do corpo para mergulhar em terra firme.

Terras desconexas, sem nomes certos.

Tal como a vida, não passando de meras comparações.

Procura incessante do ponto primeiro da não comparação.

Por vezes não se entende porque não existe comparação, mesmo que haja.

E lá se prossegue na luta até encontrar, nem que seja apenas a sombra da comparação.

Assim se vê, comparando, qual ourives avaliando o seu ouro.

Ao compará-lo com o que ganhou recorda apenas o que de real possuía.

O ouro foi-se, restando apenas o que o substitui,

Mas que será trocado por outra coisa qualquer.

Comparações.

Gosto do quotidiano. Exemplos simples de um dia,

Que um dia serão mostra de uma vida inteira.

Recorremos ao chamamento da Ordem do Dia.

Ordenam-se diariamente as desordens dos futuros,

Enervamo-nos de passados que são presentes nos dias.

Recorro.

Reavalio o que existe, inventariando desejos,

Partindo de início, crente no indeferimento...

Léguas e léguas de tempo inútil, sem no entanto saber se o é.

Esgotamento. Procuras sem norte que se afundam no que são.

Retrocessos constantes apoiados em esperanças inválidas.

Pessimismo obcecado de quem verseja em estrofes.

Vontade louca de alongar a escrita, multiplicando os versos.

Fileiras sem fim de Verso que ninguém saberá rimar.

Cortes radicais nas rimas dos versos, apenas criar...

Encosto a cabeça em pensamentos já gastos, vou versejar:

Não consinto que me mexam

No que eu o própria não encontro

Nas ideias que me fecham

E que me põem em confronto.

Estou farta de versos rimados, contados e certinhos.

Vou lê-los porque são certos e ouvi-los porque soam,

Mas quero os meus bem chocantes, qual máscara exótica em pleno desfile clássico.

Objectivos? Não será chocar, mas sim renovar.

As minhas ideias serão puxadas, confrontadas e destruídas se necessário,

Porque eu também tenho os versos em melodia certa.

Há que alterar.

(in: nas asas do vento encontrei orixá - Dina Ventura)

Sem comentários:

Enviar um comentário